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'Histórico': cúpula em Riad marca início do fim das sanções ocidentais contra a Rússia

© Sputnik / Ramil SitdikovO presidente russo, Vladimir Putin, durante sua visita à Universidade Estatal de Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, durante sua visita à Universidade Estatal de Moscou - Sputnik Brasil, 1920, 25.03.2025
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Na segunda-feira (24), delegações da Rússia e dos Estados Unidos se encontraram em Riad, na Arábia Saudita, para negociar o eventual fim do conflito ucraniano. Considerado "difícil" e "construtivo" pelo representante russo Grigory Karasin, o diálogo é um marco histórico na reaproximação diplomática dos dois países, afirmam analistas.
Ao longo de 12 horas de discussões, os representantes da Rússia e dos Estados Unidos debateram parâmetros a serem acordados para um possível cessar-fogo na Ucrânia. Ao fim da conferência, ambas as delegações saíram contentes da mesa de negociações oferecida pelo governo da Arábia Saudita.
Segundo a pesquisadora de política externa russa e doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP) Giovana Branco, o encontro é "histórico", visto que, durante todo o governo do ex-presidente Joe Biden, os Estados Unidos se recusaram a qualquer tipo de negociação com a Rússia e mantiveram apoio militar e financeiro a Kiev.
"E no momento em que Trump retoma a presidência, temos um encontro na Arábia Saudita com essa duração tão longa, que parece que vai dar o pontapé inicial ao processo de negociação para um cessar-fogo", afirma Branco.

"É um momento de recomeço entre Estados Unidos e Rússia. Não quer dizer que vai ser uma relação de cooperação ou amigável o tempo inteiro, mas é diferente do que a gente viu até então."

Uma delegação ucraniana está prevista para se encontrar com os norte-americanos nesta terça-feira (25), mas se recusou a se reunir com a diplomacia russa.
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Em entrevista a repórteres mais cedo hoje, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, deixou claro que o encontro com os ucranianos não faz diferença, já que Zelensky não pode ser confiado e apenas Washington pode garantir que Kiev cumpra algum acordo.
"Garantias podem ser unicamente o resultado de uma ordem de Washington a Zelensky e à sua equipe", afirmou o ministro.
Para Getúlio Alves de Almeida Neto, integrante do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), a fala de Lavrov reflete a realidade, uma vez que "as possibilidades de ação ucraniana são pautadas por Washington".

"Da mesma forma, apenas a pressão formal da Casa Branca sobre Kiev pode fazer com que o Kremlin tenha maiores garantias de segurança sobre a manutenção do acordo por parte de Zelensky."

Um cessar-fogo no mar Negro

Aos jornalistas, Lavrov afirmou que o principal eixo de negociação em Riad girou em torno de uma nova moratória nos ataques no mar Negro. Uma iniciativa do tipo já havia sido estabelecida através do intermédio da Turquia, controladora do estreito de Bósforo, entre julho de 2022 e julho de 2023.
Com o início do conflito, as exportações russas e ucranianas pelo mar Negro foram paralisadas pelo temor desses navios mercantes se tornarem alvos, o que levou à redução da oferta global de grãos, especialmente em países do Sul Global.
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Segundo Lavrov, a Rússia gostaria que o mercado de grãos e fertilizantes retomasse sua previsibilidade. "Não apenas porque queremos obter algum lucro, mas também porque estamos preocupados com a situação da segurança alimentar em países africanos."
Em entrevista à Sputnik Brasil, ambos os especialistas avaliaram que isso é de extrema importância econômica para a Rússia e a Ucrânia, embora não se saiba o quanto essa medida poderá ajudar a economia ucraniana no curto prazo.
"Pode ser possível que a Ucrânia tenha menos proveito devido à fragilidade de sua economia no estado atual", diz Alves Neto. "Mas com um cessar-fogo mais amplo e perspectivas para o fim do conflito, a manutenção da navegabilidade da região é de suma importância para os dois países."
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Rússia se reinsere nos mercados globais

Antes da iniciativa do mar Negro — como foi chamada a moratória nas discussões russo-americanas — entrar em vigor, alguns pré-requisitos de reinserção da economia russa nos mercados ocidentais devem ser cumpridos, de modo a garantir que as exportações russas, especificamente agrícolas, pesqueira e de fertilizantes cheguem aos mercados necessitados.
Foi acordado entre as partes que as sanções ao Rosselkhozbank e a outras organizações financeiras envolvidas na garantia de operações de comércio internacional de produtos alimentícios sejam levantadas, reconectando-os ao SWIFT.

Além disso, serão removidas restrições que impediam financiamentos comerciais, sanções a empresas que atuam e exportam nesses três setores, assim como seguradoras dessas cargas em transporte.

Por fim, também ficou acordado que navios sob bandeira russa não sofrerão mais restrições de manutenção nos portos e não serão mais sancionados, como também serão suspensas as proibições de fornecimento de maquinário agrícola para a Federação da Rússia, além de outros produtos usados nesses setores.

Segundo Giovana Branco, trata-se de um sinal claro de que os Estados Unidos não estão mais dispostos a lidar com o conflito e se sentem cansados de tentar isolar a Rússia do mundo ocidental. "É um marco importantíssimo porque uma das principais ações dos países ocidentais foi justamente a exclusão da Rússia, por exemplo, do SWIFT."

"Então, neste momento em que a principal potência do mundo ocidental decide retomar a parceria econômica com a Rússia e dar esse aval da reinserção russa no cenário agrícola, é, sim, uma sinalização muito óbvia."

Para os Estados Unidos, é estratégico não só se reaproximar da Rússia, mas também reconectá-la ao SWIFT, ressalta Getúlio Neto, visto que a tentativa de isolar a Rússia "catapultou a aproximação entre Moscou e Pequim".
Restará ver como a União Europeia decidirá prosseguir. Acostumados a seguir a deixa norte-americana, os aliados europeus podem se mostrar mais reticentes com essa retomada, explicita a pesquisadora da USP.
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