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Ausência de guerra é paz? Especialistas explicam por que o conceito vai muito além do conflito
Ausência de guerra é paz? Especialistas explicam por que o conceito vai muito além do conflito
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Seja nas conversas do dia a dia, nas comunicações do governo ou no noticiário, o conceito de paz sempre esteve associado à ideia de guerra. Porém especialistas... 24.04.2025, Sputnik Brasil
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De um lado, um cessar-fogo de curta duração que trazia por algumas semanas a esperança de "paz" no já arrasado território da Faixa de Gaza. Do outro, o então candidato à presidência dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, que prometia dar fim ao conflito ucraniano em apenas um dia, mesmo com os avisos de Moscou de que a situação era muito complexa para uma solução tão simples. E mesmo na Etiópia, que, após um acordo entre governo e a Frente Popular de Libertação do Tigré, viu o fim de uma guerra de quase dois anos em 2022, ainda hoje milhões de pessoas seguem deslocadas de seus territórios e sem acesso ao básico. Esses são apenas alguns exemplos de que o conceito de paz não é apenas o oposto da guerra.A doutora em ciência política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora de relações internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter Natali Hoff explica ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que essa associação acaba limitando o entendimento do que é a paz, inclusive por governos."Surge uma nova perspectiva de olhar a ideia de paz não só como a negação da guerra, mas também como a presença de justiça e igualdade social [em um território], que está profundamente associada à ausência de violência estrutural, que é o contrário da violência direta, aquela mais identificável, como uma agressão de um país a outro ou de uma pessoa contra a outra. A violência estrutural está vinculada às estruturas sociais que muitas vezes promovem a desigualdade entre os indivíduos", pontua.Conforme a especialista, a ausência de guerra em um país não significa necessariamente uma paz efetiva, com acesso "igualitário a todos os serviços, em que os indivíduos podem se desenvolver plenamente com acesso a saúde e educação".É o caso, por exemplo, do Brasil, que não enfrenta um conflito armado há mais de 150 anos, com o fim da Guerra do Paraguai em 1870, mas que ainda assim "vai mal em muitos índices que estão profundamente vinculados com a violência estrutural", acrescenta Hoff.Acordos históricos entre potências levam à paz duradoura?Para a professora da Uninter, a maioria dos acordos históricos fechados entre as grandes potências levaram à chamada "paz negativa", já que as condicionalidades muitas vezes ignoram as causas profundas vinculadas ao início do conflito. Outro ponto, conforme a especialista, é a desigualdade nos relacionamentos em meio às negociações.É o caso dos acordos de paz de Oslo entre Israel e Palestina, que possuem mais de 30 anos e perdem cada vez mais a legitimidade sem concretizar o Estado palestino."Esses acordos não deram certo porque, por um lado, eles ignoraram a complexidade do conflito, a desigualdade de poder entre israelenses e palestinos e ainda o fato de que Israel não estava disposto a ceder em muitos aspectos para chegar à solução de dois Estados — pelo contrário, Tel Aviv tem incentivado políticas de expulsão dos palestinos. Falamos muito de Gaza, mas a Cisjordânia é um espaço que […] vive uma situação em que não se pode falar de paz."Há algum país que alcançou a paz plena?Para além da utopia que também é trazida pela palavra paz, alcançar totalmente esse conceito é algo ainda distante, principalmente diante das tensões geopolíticas atuais. Como exemplo, a especialista cita os casos da Islândia, Finlândia e Noruega como casos de baixa desigualdade e associados a uma alta justiça social, pilares fundamentais para a paz plena.Mesmo sem guerra, América Latina está em 'paz'?Já a doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Mayra Coan Lago cita o exemplo da América Latina, que há décadas não vive um cenário de guerra entre países. Mesmo assim, a região é marcada por uma série de problemas sociais, como violência de gênero, atuação do crime organizado e altos índices de homicídios, por exemplo.
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Ausência de guerra é paz? Especialistas explicam por que o conceito vai muito além do conflito
17:20 24.04.2025 (atualizado: 18:00 24.04.2025) Especiais
Seja nas conversas do dia a dia, nas comunicações do governo ou no noticiário, o conceito de paz sempre esteve associado à ideia de guerra. Porém especialistas revelam ao podcast Mundioka que a ideia está muito além disso e também envolve questões como violência, racismo e desigualdade. Mas será que algum país do mundo convive com a paz plena?
De um lado, um cessar-fogo de curta duração que trazia por algumas semanas a esperança de "paz" no já arrasado
território da Faixa de Gaza. Do outro, o então candidato à presidência dos Estados Unidos, o
republicano Donald Trump, que
prometia dar fim ao conflito ucraniano em apenas um dia, mesmo com os avisos de Moscou de que a situação era muito complexa para uma solução tão simples. E mesmo na Etiópia, que, após um acordo entre governo e a Frente Popular de Libertação do Tigré, viu o fim de uma
guerra de quase dois anos em 2022, ainda hoje milhões de pessoas seguem deslocadas de seus territórios e sem acesso ao básico. Esses são apenas alguns exemplos de que
o conceito de paz não é apenas o oposto da guerra.
A doutora em ciência política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora de relações internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter Natali Hoff explica ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que essa associação acaba limitando o
entendimento do que é a paz, inclusive por governos.
"Surge uma nova perspectiva de olhar a ideia de paz não só como a negação da guerra, mas também como a presença de justiça e igualdade social [em um território], que está profundamente associada à ausência de violência estrutural, que é o contrário da violência direta, aquela mais identificável, como uma agressão de um país a outro ou de uma pessoa contra a outra. A violência estrutural está vinculada às estruturas sociais que muitas vezes promovem a desigualdade entre os indivíduos", pontua.
Conforme a especialista, a ausência de guerra em um país não significa necessariamente uma paz efetiva, com acesso "igualitário a todos os serviços, em que os indivíduos podem se desenvolver plenamente com acesso a saúde e educação".
É o caso, por exemplo, do Brasil, que
não enfrenta um conflito armado há mais de 150 anos, com o fim da
Guerra do Paraguai em 1870, mas que ainda assim "vai mal em muitos índices que estão profundamente vinculados com a violência estrutural", acrescenta Hoff.
"A paz precisa da resolução de conflitos, mas ela também deve ser pensada por si mesma como transformadora do contexto em que o conflito violento se desenvolveu. É nisso que entramos, nessa perspectiva de tentar abrir o leque dos estudos para paz para além dessa conexão […]. Na Guerra Fria, em meio à dissuasão nuclear, a paz era muito entendida como segurança e estabilização, sem se preocupar em entender qual é a natureza desse relacionamento que fez com que esses atores se percebessem como uma ameaça", enfatiza.
Acordos históricos entre potências levam à paz duradoura?
Para a professora da Uninter, a maioria dos acordos históricos fechados entre as grandes potências levaram à chamada "paz negativa", já que as condicionalidades muitas vezes ignoram as causas profundas vinculadas ao início do conflito. Outro ponto, conforme a especialista, é a desigualdade nos
relacionamentos em meio às negociações.
"O resultado disso costuma ser um equilíbrio muito frágil com a imposição de uma paz negativa, na qual você não tem uma real transformação daquele conflito ou, muitas vezes, [tem] o estabelecimento das condições necessárias para a erupção de um novo conflito, quando os termos desse acordo acabam sendo muito vexatórios. Temos ainda a presença de grandes potências pressionando para que determinados pontos fossem sendo adotados", resume.
É o caso dos acordos de paz de Oslo entre Israel e Palestina, que
possuem mais de 30 anos e perdem cada vez mais a legitimidade sem
concretizar o Estado palestino.
"Esses acordos não deram certo porque, por um lado, eles ignoraram a complexidade do conflito, a desigualdade de poder entre israelenses e palestinos e ainda o fato de que Israel não estava disposto a ceder em muitos aspectos para chegar à solução de dois Estados — pelo contrário, Tel Aviv tem incentivado políticas de expulsão dos palestinos. Falamos muito de Gaza, mas a Cisjordânia é um espaço que […] vive uma situação em que não se pode falar de paz."
Há algum país que alcançou a paz plena?
Para além da utopia que também é trazida pela palavra paz, alcançar totalmente esse conceito é algo ainda distante, principalmente diante das
tensões geopolíticas atuais. Como exemplo, a especialista cita os casos da Islândia, Finlândia e Noruega como casos de baixa desigualdade e
associados a uma alta justiça social, pilares fundamentais para a paz plena.
"Esses países geralmente aparecem muito bem em índices de paz positiva, com a questão da democracia, acesso ao emprego e estudo, entre outros. Mas, mesmo assim, sabemos que a violência estrutural não foi totalmente eliminada. Existe um elemento de desigualdade, já que são nações com muita xenofobia, um racismo grande em relação aos imigrantes. Então você não tem ali uma paz positiva perfeita", destaca.
Mesmo sem guerra, América Latina está em 'paz'?
Já a doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Mayra Coan Lago cita o exemplo da América Latina, que há décadas não vive um cenário de guerra entre países. Mesmo assim, a região é marcada por uma série de problemas sociais, como violência de gênero, atuação do crime organizado e altos índices de homicídios, por exemplo.
"É uma região que não é marcada por uma guerra tradicional, mas tem uma paz negativa, porque conseguimos identificar essas diferentes violências que, claro, têm particularidades, só que mesmo assim ainda estão presentes e nos impactam também", finaliza.
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