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Em depoimento, Mauro Cid confirma que Jair Bolsonaro leu minuta de golpe e fez alterações

© flickr.com / Gustavo Moreno/STFEx-ajudante de ordens de Bolsonaro, o coronel Mauro Cid participa dos interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668, em 9 de junho de 2025
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o coronel Mauro Cid participa dos interrogatórios dos réus da Ação Penal (AP) 2668, em 9 de junho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 09.06.2025
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O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, à época candidato à reeleição, Mauro Cid, presta depoimento neste exato momento ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes faz as auscultas que tem transmissão ao vivo nesta segunda-feira (9).
Durante deposição, Cid pontuou que "presenciou grande parte dos fatos, mas não participou deles". Ele também afirmou que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações em uma minuta golpista elaborada por assessores.

"Em termos de data, não me lembro bem. Foram duas, no máximo três reuniões em que esse documento foi apresentado ao presidente", disse Cid, acrescentando que a minuta era dividida em duas partes: "A primeira parte eram os 'considerandos' — cerca de dez páginas, muito robustas. Essa parte listava possíveis interferências do STF e do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] no governo Bolsonaro e no processo eleitoral."

O tenente-coronel confirmou a existência de um documento que previa a prisão de autoridades do STF e do Legislativo e que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria lido esse documento e "enxugado" o texto.
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A proposta também previa uma comissão eleitoral: "Eu não me ative muito aos detalhes do documento, mas seria para conduzir uma nova eleição, baseada em uma eleição anulada", relatou.

"Sim, [Jair Bolsonaro] recebeu [o texto] e leu. Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto, não", pontuou Mauro Cid.

Kids pretos

O tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, admitiu nesta segunda-feira ter entregado uma caixa de vinho contendo dinheiro ao major Rafael de Oliveira. Segundo ele, a entrega foi feita a mando de Walter Souza Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.
O major Rafael de Oliveira integra o grupo conhecido como "kids pretos", formado por militares das Forças Especiais do Exército.
Tanto Rafael de Oliveira quanto outros membros dos "kids pretos" são investigados por supostamente fazerem parte de uma organização armada que teria elaborado um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Essa conspiração recebeu o nome de "Punhal Verde e Amarelo".
Durante o interrogatório, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, questionou Cid sobre a transferência dos valores ao grupo.
Em resposta, Cid reafirmou as informações já fornecidas anteriormente em seu acordo de colaboração premiada. Ele explicou que os recursos foram entregues a ele por Braga Netto e, posteriormente, repassados ao major Oliveira. O dinheiro estava acondicionado em uma caixa de vinho.
Cid afirmou que não sabia qual valor exato estava no recipiente, o qual foi entregue no Palácio da Alvorada ao militar do grupo "kids pretos", atendendo a uma solicitação de Braga Netto.

"O espaço temporal eu não me recordo. O general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar quanto foi. Mas com certeza não foi R$ 100 mil, até pelo volume, não era tanto, que foi passado para o major Oliveira no próprio [Palácio da] Alvorada", disse. "Fui eu que passei esse dinheiro. Eu recebi do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Estava em uma caixa de vinho, uma botelha, ai depois […] eu passei para o major Oliveira", completou Cid.

Moraes listou o nome dos seis réus da ação penal e perguntou a qual grupo eles pertenciam. Segundo Cid, apenas o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, era membro do grupo de radicais que defendia o golpe de Estado.
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Já os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto, ambos da Defesa, eram, segundo o depoente, integrantes do grupo dos moderados. Já os ex-ministros Augusto Heleno e Anderson Torres e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem não se enquadravam em nenhum grupo.
Mauro Cid é o primeiro a ser ouvido porque fechou uma delação premiada com a Polícia Federal. Os outros sete réus serão interrogados em ordem alfabética: Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-chefe da Abin), Almir Garnier (ex-chefe da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Jair Bolsonaro (ex-presidente), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).

Oitivas

O início das oitivas indica que o processo contra o principal grupo denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) caminha para o fim, podendo resultar na prisão dos réus.
A oitiva de Bolsonaro também marca a primeira vez que o ex-presidente ficará frente a frente com seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, desde que este fechou acordo de delação premiada com a Justiça. Cid foi peça central das revelações presentes na denúncia da PGR. Foi ele quem confirmou aos investigadores que Bolsonaro convocou militares de alto escalão para discutir formas de reverter os resultados das eleições.
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