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Condenação de Cristina Kirchner: a Argentina tem uma Lava Jato para chamar de sua?

© AP Photo / Gustavo GarelloEx-presidente da Argentina Cristina Kirchner durante apresentação como presidente do Partido Justicialista, em Buenos Aires. Argentina, 11 de dezembro de 2024
Ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner durante apresentação como presidente do Partido Justicialista, em Buenos Aires. Argentina, 11 de dezembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 17.06.2025
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A Suprema Corte da Argentina confirmou, na última semana, a condenação de Cristina Kirchner por crimes relacionados a obras públicas na província de Santa Cruz. Além dos seis anos de prisão, a ex-presidente também foi declarada inelegível pelo restante da vida.
Assim que a decisão da Suprema Corte foi divulgada, Cristina afirmou ser alvo de perseguição, enquanto o atual governante da Argentina, Javier Milei, comemorou o desfecho do caso.
Em um cenário de incertezas políticas e jurídicas, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, ouviu nesta terça-feira (17) os especialistas João Paulo Arrais, internacionalista e pesquisador em história pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e Victor Oliveira, internacionalista e cientista político.
#641 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 17.06.2025
Mundioka
Lava Jato argentina? O impacto da condenação de Cristina Kirchner
Arrais afirma que "tudo indica" para um caso de perseguição contra Cristina, um dos principais nomes da política do país. Para o pesquisador, essa é uma forma de removê-la de uma próxima eleição.

"O juiz e os procuradores são amigos pessoais do [ex-presidente da Argentina Mauricio] Macri. Um dos fiscais é macrista e antiperonista [vertente política dos Kirchner]. Isso tudo afeta o processo. Tudo indica que a peça-chave nessa movimentação pode ser o Macri."

Oliveira, por sua vez, ressalta que a Justiça da Argentina está "passando por cima de jurisprudência […], por cima de preceitos do direito" ao fazer a ex-presidente de exemplo e determinar a inelegibilidade vitalícia da ex-presidente.

"A questão toda é você criar essa exceção, colocar uma pessoa nessa exceção e usar isso como um exemplo. […] E dizer o seguinte: Bem, isso aqui é o que acontece com o inimigo. A gente conseguiu prendê-lo, a gente conseguiu cercear ele do direito. E fiquem tranquilos: nunca vamos poder mais votar nessa pessoa."

O então juiz federal Sergio Moro; o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso; a professora da Universidade de Yale Susan Rose-Ackerman; e o então procurador federal Deltan Dallagnol participam de palestra no Centro Universitário de Brasília (Ceub), em 10 de agosto de 2016 - Sputnik Brasil, 1920, 02.10.2024
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Especialistas traçam paralelos com a Lava Jato

A operação Lava Jato ficou marcada no Brasil pela prisão de grandes nomes da política a nível nacional, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com ampla cobertura da mídia, o processo foi acompanhado por todo o país, assim como a condenação de Cristina.
"[Existe] um aparato midiático que também tenta ganhar em cima da [Cristina]. Tenta-se ter essa ideia de que ela vai ser como uma espécie de bode expiatório e, através da condenação dela, vai haver uma espécie de salvação nacional", destacou Oliveira.
Na Argentina e no Brasil, setores estratégicos da economia, como exploração de petróleo e obras públicas, sofreram com os momentos de incerteza política durante as investigações.

"Um dos paralelos [entre os casos] é a perseguição a setores estratégicos. Logística, por exemplo. Paralisaram a construção de estradas, ferrovias e gasodutos; pararam a perfuração de poços de exploração de petróleo e de gás; fizeram um boicote à indústria nacional argentina", explicou Arrais.

Ambos os internacionalistas são categóricos ao declarar que não duvidam que uma "Vaza Jato" — momento de descoberta de conversas de conluio entre o juiz Sergio Moro, o promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato — possa acontecer em terras argentinas.
"De fato, existe realmente uma participação de agentes de fora, capacitando juízes, promotores, similar ao que aconteceu ali na Lava Jato", reforçou Oliveira.
"Parece que eles não observaram o que aconteceu no Brasil e quais foram as consequências econômicas, políticas, sociais para o Brasil. Parece que eles não estão analisando o caso brasileiro", afirmou Arrais.
A ex-presidente da Argentina, Cristina Fernández Kirchner, acena para seus apoiadores da varanda de sua casa um dia após a Suprema Corte da Argentina confirmar sua condenação por corrupção em Buenos Aires, Argentina, 11 de junho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 12.06.2025
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Efeito rebote na política da Argentina?

Com tamanha exposição, a imagem de Cristina ficou arranhada durante o processo, fazendo com que ela perdesse força política. Entretanto, o atual cenário de uma possível injustiça pode trazer de volta ao topo o principal nome do peronismo na atualidade, apesar da inelegibilidade.
Arrais destaca que o peronismo é a "maior força de mobilização pública e política" na Argentina, por mais que Milei, atual presidente do país, nada tenha a ver com a vertente.

"A Cristina estava completamente descredibilizada por conta dessa campanha de difamação na mídia. Ela está saindo fortalecida como uma pessoa que está sofrendo injustiça perante grupos políticos, perante a mídia e perante também aos tribunais de Justiça da Argentina."

Oliveira é um pouco mais cético quanto ao status político de Cristina, mas acredita que a ex-presidente pode ser o centro de uma reunião de diferentes vertentes políticas do país.

"Não acho que ela, em si, seja alguém que vai capitalizar de toda a questão, mas imagino que ela possa ser a figura central justamente numa recomposição das esquerdas da Argentina, dos movimentos peronistas."

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Lula transmite solidariedade a Cristina Kirchner em ligação
Os dois entrevistados do Mundioka concordam que as democracias do continente sofrem com uma instabilidade jurídica devido à transição de poder vivida ao redor do mundo. "Não só o Brasil, não só a Argentina, mas a América Latina."
"Parece que é uma fórmula pronta que se joga aqui, se joga lá e todo o processo de constituição política, judicial e de racionalidade da república vai abaixo", complementou Arrais.
"Que tipo de soberania é essa onde a decisão do meu país é tomada bem longe daqui, de acordo não com o interesse nacional, mas sim com o interesse de terceiros e quartos? E tudo feito à luz do dia", conclui Oliveira.
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