Mídia: tensões geopolíticas pressionam Alemanha e Itália a recuperar US$ 245 bilhões em ouro dos EUA
© AP Photo / Barry Thumma
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A Alemanha e a Itália estão sob pressão para repatriar parte de suas reservas de ouro armazenadas nos Estados Unidos, especialmente após declarações polêmicas do presidente Donald Trump sobre a Reserva Federal (Fed) e diante da crescente instabilidade geopolítica.
Alemanha e Itália possuem grandes reservas de ouro nos EUA — 3.352 e 2.452 toneladas respectivamente — com mais de um terço armazenado no Fed de Nova York, totalizando mais de US$ 245 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão) em valor de mercado.
Historicamente, o ouro foi mantido nos EUA por razões de segurança e liquidez, especialmente durante a Guerra Fria e sob o sistema de Bretton Woods. Nova York, junto com Londres, é um centro global de comércio de ouro. No entanto, a retórica agressiva de Trump, incluindo ameaças de interferência no Fed, reacendeu o debate sobre a segurança de manter reservas no exterior. Na Alemanha, políticos de diferentes espectros ideológicos, como Peter Gauweiler e Peter Boehringer, têm defendido a repatriação como forma de garantir soberania e segurança em tempos de crise.
A Associação de Contribuintes da Europa também se manifestou, enviando cartas aos governos da Alemanha e da Itália pedindo a reconsideração da dependência do Fed. O argumento central é que a instabilidade política nos EUA, especialmente sob a gestão Trump, representa um risco à independência e ao acesso irrestrito ao ouro.
De acordo com o Financial Times (FT), pesquisas recentes com bancos centrais indicam uma tendência crescente de armazenar ouro internamente, refletindo preocupações com acessibilidade em cenários de crise. A França já havia tomado essa decisão nos anos 1960, e a Alemanha iniciou um processo semelhante em 2013, transferindo centenas de toneladas de volta para Frankfurt. Atualmente, 37% do ouro alemão ainda permanece em Nova York, apesar da campanha popular que impulsionou a mudança de política.
Na Itália, o partido Irmãos da Itália, liderado por Giorgia Meloni, já havia defendido a repatriação do ouro quando estava na oposição. Contudo, desde que assumiu o governo, Meloni tem evitado o tema, buscando preservar boas relações com os EUA e evitar tensões comerciais. Parlamentares do partido agora minimizam a importância da localização do ouro, destacando a confiança na aliança histórica com os norte-americanos.
Especialistas do setor financeiro ouvidos pelo FT, como Bert Flossbach, alertam que uma repatriação abrupta poderia ser interpretada como um sinal de deterioração nas relações transatlânticas. O Bundesbank, por sua vez, afirma que revisa regularmente seus critérios de armazenamento, priorizando segurança e liquidez. A instituição mantém confiança no Fed como parceiro confiável, reforçando que o ouro precisa estar disponível para ser negociado em caso de necessidade.
Apesar das pressões políticas e da crescente desconfiança em relação à estabilidade dos EUA, os governos da Alemanha e da Itália ainda não se pronunciaram oficialmente sobre mudanças em suas políticas de custódia de ouro, mas o debate permanece em aberto enquanto a tensão geopolítica continua a crescer.
