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Sanções dos EUA a petroleiras russas tornam Europa ainda mais dependente de Washington

© AP Photo / Mikhail Metzel / Acessar o banco de imagensEstatal russa petrolífera Rosneft (imagem referencial)
Estatal russa petrolífera Rosneft (imagem referencial) - Sputnik Brasil, 1920, 28.10.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que EUA fazem "jogo duplo" ao impor novas sanções ao petróleo e ao gás russos, pois se tornam os únicos que podem salvar a Europa da crise que eles mesmos criaram.
Na semana passada, os Estados Unidos impuseram sanções às petrolíferas russas Rosneft e Lukoil e suas respectivas subsidiárias. A medida tinha como objetivo continuar exercendo pressão sobre a Rússia em meio à operação especial desta.
A medida, entretanto, teve efeitos colaterais sérios em países aliados de Washington. O governo alemão iniciou uma frenética corrida contra o tempo para isentar subsidiárias da Rosneft no país que estão sob administração estatal alemã desde 2022, quando o governo tomou posse de refinarias da estatal em uma ação denunciada como ilegal pelo grupo controlador russo.
Berlim argumentou, diante de Washington, que as subsidiárias da Rosneft na Alemanha estão desvinculadas da empresa-mãe russa. Na noite de ontem (27), a ministra da Economia alemã, Katherina Reiche, informou que obteve do governo dos EUA uma carta conforto (documento que concede garantias) reconhecendo que as operações das subsidiárias da Rosneft na Alemanha estão totalmente separadas da empresa russa e isentando-as das novas sanções.
"Os EUA confirmaram por escrito que os ativos na Alemanha estão completamente separados da Rússia", enfatizou Reiche.
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O caso expõe mais uma vez a crise energética que afeta a Europa, que depende da importação de gás e petróleo para geração de energia e entrou em crise econômica desde que suspendeu o fornecimento russo desses recursos e se alinhou à política de sanções da Casa Branca.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), afirma que as sanções à Rosneft e à Lukoil — que têm participação em projetos de petróleo e gás em vários países europeus — tendem a agravar o cenário econômico europeu já bastante crítico.
Segundo Teixeira, um eventual fechamento de subsidiárias da Rosneft e da Lukoil na Europa vai encarecer ainda mais a energia no continente, já impactado pela substituição do gás russo pelo norte-americano e pela alta demanda do inverno.

"A gente deve pensar que o aquecimento das residências, a energia utilizada pelas indústrias, o encarecimento desses processos todos deve levar a uma crise de inflação dentro dos preços europeus, uma situação que já não é tão favorável a esses países."

O presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda) e o chanceler alemão, Olaf Scholz, caminham no Palácio de Meseberg, em 28 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 23.09.2024
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No recorte alemão, Teixeira afirma que o alto índice de desaprovação do chanceler alemão, Friedrich Merz, hoje em 60%, é reflexo da crise econômica desencadeada após a Europa se tornar subsidiária dos interesses dos EUA, que, por sua vez, fazem um "jogo duplo".
Ao sancionarem a Rússia e agravarem a crise na Europa, os europeus se veem obrigados a recorrer aos próprios norte-americanos. "Os EUA se tornam os únicos que podem salvar a Europa nesse cenário de crise que eles mesmos criam."

"Ao trocar a Rússia, que fornecia esses tipos de combustível de maneira bastante barata e fácil, acessível, através de tubulações de longo alcance do território russo até a Europa Central, você tem uma forma de abastecimento [através de navios] muito mais cara, muito mais ineficiente", afirma o analista.

Ademais, ele aponta que trocar a dependência energética da Rússia pela dos Estados Unidos deixa a Europa vulnerável aos "humores de mercado", uma vez que os contratos russos vinham com preços acertados anteriormente, enquanto as importações norte-americanas atuam em preço de mercado. "E nos últimos dias, com essas sanções, os preços ali subiram 5%, 6% em uma única semana."

"Os europeus entraram em um cenário bastante crítico, e essa crise não deve ser pensada somente neste curto prazo, ela deve se estender nos próximos anos, nas próximas décadas, caso esse distanciamento da Rússia não seja revertido."

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Embora tenha concedido isenções às subsidiárias da Rosneft sob domínio alemão, a Alemanha não está no rol de preocupações da Casa Branca, aponta Williams Gonçalves, professor de relações internacionais aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), à Sputnik Brasil.
Segundo o internacionalista, o governo do presidente Donald Trump entende que a multipolarização do sistema internacional "já é uma realidade" e agora busca recuperar o poder perdido dos Estados Unidos. Para isso, ele, diferentemente dos líderes estadunidenses do passado, abandonou a Europa.
"Inclusive ele acha que os europeus devem se organizar e que deve surgir uma liderança de um bloco europeu, porque os EUA não farão mais esse papel."
Nesse contexto, os alemães estão sendo seriamente afetados por embarcar no "completo delírio" de achar que o presidente russo, Vladimir Putin, tem um projeto de conquista da Europa Ocidental.
Isso os deixou suscetíveis a se unir às sanções norte-americanas e abandonar a compra de derivados de petróleo da Rússia.

"O custo ficou altíssimo. Muitas empresas alemãs não suportaram isso, muitas faliram, e as mais fortes se deslocaram para os EUA. E os alemães, como se costuma dizer no mercado financeiro, ficaram com o 'mico na mão', dizendo que Putin é inimigo, enquanto a economia alemã afunda, com um índice de desemprego elevadíssimo e um processo de desindustrialização."

Ele acrescenta que, mesmo diante da deterioração econômica, os europeus seguem determinados em confrontar a Rússia porque a essa altura "não têm como recuar", pois criaram toda uma mística de que a Ucrânia seria o primeiro obstáculo da Rússia para um suposto plano de expansão militar no continente.

"Uma loucura completa, mas a Europa fez gastos vultuosíssimos, usou o seu estoque de armas, acompanhou os EUA nisso, e agora se vê sozinha com os seus fantasmas, assistindo a Trump negociar diretamente com Putin, porque o Trump sabe que o objetivo de Putin não é esse."

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