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Angola, 50 anos de independência: que desafios o país encontra para exercer sua soberania?

CC BY 2.0 / David Stanley / Edifício da Assembleia Nacional em Luanda, Angola
Edifício da Assembleia Nacional em Luanda, Angola - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2025
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Na data que marca 50 anos da independência de Angola de Portugal, especialistas passam a limpo as cinco décadas para entender o atual momento do país africano.
O Mundioka, Podcast da Sputnik Brasil, ouviu neste dia 11 de novembro — aniversário da independência de Angola — analistas angolanos que trouxeram o panorama geral sobre o país desde o rompimento com Portugal.
Neste período, o país viveu entre 1975 e 2002 um conflito interno prolongando, que terminou com a morte de Jonas Savimbi, líder de um dos grupos que disputava o poder no país, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Nesse contexto, foi assinado um acordo de paz com outros dois grupos envolvidos na disputa, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa o país desde então.
#746 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2025
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Angola e seu cinquentenário de independência
"Quando Portugal concedeu a independência à Angola, no dia 11 de novembro de 1975, o MPLA já controlava a capital do país, Luanda, com o apoio dos cubanos e dos soviéticos", recorda Paulo Gamba, escritor e analista internacional.
Os outros movimentos, por sua vez, eram financiados pelos Estados Unidos, principalmente a FNLA. A UNITA contava, ainda, com ajuda da República Democrática do Congo — que, governada por Mobutu Sese Seko, tinha apoio de países como Bélgica, Reino Unido e África do Sul.
A conjuntura da independência angolana se dá no momento da Guerra Fria, e o país africano, portanto, se torna palco das disputas de poder em curso entre Estados Unidos e União Soviética.

"Eles disputavam o campo de influência política, ideológica e militar em todo o mundo, e a Angola não ficou à parte. [...] Foi nesse contexto que Angola tornou-se um palco da guerra por procuração", explica o especialista.

Ao passo que Angola sediava um conflito internacional, o então colonizador, Portugal, teve um papel ruim no processo de reconhecimento da independência, segundo Agnaldo Ramos, analista de relações internacionais.
"O primeiro aspecto fundamental é que Portugal procurou dividir. Procurou dividir para tirar melhor partido. Se vocês investigarem, vão conseguir compreender que a Angola foi o único país de expressão portuguesa cuja independência, se assim podemos dizer, foi primeiro disputada e depois partilhada por três movimentos", comenta.
Ou seja, Portugal foi de certa forma omisso e entrega o poder a um país em disputa. Após isso, uma guerra civil perdura por 25 anos.
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Embora os movimentos nacionais fossem pró-independência, eles sofriam interferências externas e não havia confiança entre si.
"Portugal poderia ter um papel muito mais valioso. Primeiro, se pudesse efetivamente fazer com que as partes assumissem uma postura de consenso, ao invés de colocar as partes numa posição de desconfiança permanente. Segundo, se, havendo desentendimento entre as partes, Portugal tivesse capacidade política e também militar interna de poder impor alguma força".

Angola: 50 anos depois da independência

Do do ponto de vista mineral, de riquezas hídricas e do ponto de vista florestal, Angola é um país rico. "Deus nos abençoou com muito potencial", resume Ramos.
Entretanto, em 50 anos, quase metade deles afundada em uma guerra civil, Angola não conseguiu atingir tal potencial. O período de conflitos "deixou muitas sequelas, destruiu infraestruturas e condições para que o processo de democratização do país não atingisse um desenvolvimento esperado, criou também condições para um aprofundamento da corrupção, criou condições para o atraso do país em vários aspectos", acrescenta o analista.
Neste sentido, cinco décadas após a independência, Gamba comenta que do ponto de vista político, o governo do presidente João Lourenço prepara alguns anúncios de investimento público e inaugurações a serem realizadas na esteira da data comemorativa. Por outro lado, o país sofre com o aumento do desemprego e vê os indicadores de pobreza crescerem novamente.
Angola ainda tenta se reerguer após a COVID-19, comenta o escritor. "A economia angolana colapsou nos termos em que até hoje está difícil sair desse colapso".
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Ramos comenta, também, que o país sofre dificuldade em exercer sua soberania.
"Do ponto de vista formal, todos os países independentes são plenamente independentes. Agora, do ponto de vista material, naturalmente que um país africano encontrará sempre muitas condicionantes para exercer em toda sua plenitude a soberania por razões de várias ordens", afirma.

"Falta de tecnologia, falta de infraestrutura, falta de transparência, falta de influência. Os países africanos não têm influência no sistema internacional como a influência que, por exemplo, os Estados Unidos e a União Europeia têm", completa.

Apesar dos percalços, ou, como coloca Ramos, "de 25 anos de guerra e quase 25 anos de paz plena", ele ressalta que a independência angolana os trouxe a liberdade. "A liberdade é um fator muito importante para a afirmação. [...] Eu sou independente, eu tenho a minha identidade".
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