- Sputnik Brasil, 1920
Notícias do Brasil
Notícias sobre política, economia e sociedade do Brasil. Entrevistas e análises de especialistas sobre assuntos que importam ao país.

Análise: presença do Brasil no Conselho da IMO contribui para o soft power marítimo do país

© flickr.com / Marinha do BrasilNavio-Aeródromo Multipropósito Atlântico (A140) e Navio-Veleiro Cisne Branco
Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico (A140) e Navio-Veleiro Cisne Branco - Sputnik Brasil, 1920, 12.12.2025
Nos siga no
Especiais
À Sputnik Brasil, especialistas apontam que a representação do Brasil na IMO garante presença e atenção aos interesses internacionais que possam prejudicar os propósitos nacionais, e afirmam que o país sempre teve uma atuação positiva na organização.
O Brasil foi reeleito em novembro para mais um mandato no Conselho da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), o órgão executivo responsável pela supervisão do trabalho da agência.
O novo mandato é referente ao biênio de 2026-2027 e a escolha ocorreu durante a 34ª sessão da assembleia da IMO, em Londres, Reino Unido. O país foi reconduzido à categoria B, destinada a Estados com maior interesse no comércio marítimo internacional.

"Com mais de 95% de suas trocas comerciais movimentadas por via marítima, o país atribui grande importância aos trabalhos da IMO", informou a Marinha do Brasil, em nota sobre a recondução.

A IMO é uma agência especializada das Nações Unidas dedicada à regulamentação do transporte marítimo internacional. O Brasil é um dos 176 países-membros da agência desde 1963, e integrante do Conselho desde 1967.
No contexto das relações internacionais, a IMO é a principal autoridade cuja dedicação é voltada para a manutenção da segurança e da salvaguarda da vida humana no âmbito marítimo, conforme explica à Sputnik Brasil Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva, professora de história naval, pós-doutoranda em estudos marítimos pela Escola de Guerra Naval (EGN) e doutora em história pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
"Foi criada em 1948 e, desde então, publicou diversos documentos que contribuem para a consolidação de um arcabouço jurídico capaz de regulamentar e orientar as práticas governamentais relativas às questões técnicas acerca da navegação comercial internacional e padrões normativos sobre a segurança marítima, eficiência da navegação e controle da poluição marítima provocada pelas embarcações."
Formatura alusiva ao Dia da Bandeira, em Brasília (DF). Brasil, 19 de novembro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 10.12.2025
Notícias do Brasil
Análise: nova Política Nacional de Defesa do Brasil ambiciona espaço de autonomia internacional
Ela afirma que o Brasil, desde que se tornou membro da IMO, possui uma tradição de participação efetiva de seus representantes no órgão, designados pela Marinha, e ressalta que a busca pela liderança da IMO é condizente com a política externa atual brasileira, que almeja o fortalecimento do multilateralismo de reciprocidade e a retomada do protagonismo no cenário internacional, sobretudo nos assuntos que englobam o meio ambiente, a segurança ambiental e os direitos humanos.

"Nesse sentido, destaco a importância do mar para o desenvolvimento econômico. Afinal, 95% do nosso comércio é realizado através das comunicações marítimas; retiramos cerca de 95% do petróleo, 80% do gás natural e 45% da pesca no mar. A população brasileira está concentrada, em sua maioria, com exceção de São Paulo, em cidades litorâneas no país", destaca.

Diante disso, Gonzaga afirma que o poder marítimo é tão relevante para garantir o desenvolvimento do Brasil que o Estado adota o conceito de "Economia Azul" para reforçar a necessidade de difusão da mentalidade marítima, demonstrando a contribuição dos oceanos à economia e o quanto é imperativo a sustentabilidade ambiental e ecológica desse ecossistema marítimo.
"Além disso, nossas fronteiras marítimas são tão relevantes como fonte de recursos e da defesa da soberania que é conceituada como 'Amazônia Azul', uma analogia à Floresta Amazônia, grande patrimônio ambiental brasileiro."
Ela acrescenta que a representação do Brasil na IMO garante presença e atenção aos interesses internacionais que possam prejudicar os propósitos do país e, desse modo, atuar para mitigá-los.
"Portanto, na IMO, verificamos na prática a diplomacia naval brasileira atuante para desenvolver a cooperação em assuntos que são caros ao Brasil. [...] Ao pertencer ao conselho da IMO, o Brasil pode adotar seu soft power no setor marítimo, influenciando mentes e atitudes", sublinha a historiadora.
Militar vigiando a Amazônia Azul, em 12 de janeiro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 16.11.2024
Notícias do Brasil
Amazônia Azul: é preciso mudar pensamento social de que o Brasil não tem ameaças, diz historiadora
Além da segurança no mar, uma das pautas de interesse do governo brasileiro é o protagonismo na transição energética por meio de práticas sustentáveis, e uma das atribuições da IMO é a redução da poluição marítima, conforme aponta à Sputnik Brasil o professor Marcos Antonio dos Santos Fernandez, do Departamento de Oceanografia Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Ele alerta que a abertura de novas rotas marítimas por conta das mudanças climáticas traz um desafio para a organização, uma vez que o combustível usado nos navios é o óleo de combustível, gerado por meio de derivados do petróleo. Embora seja menos poluente que o querosene de avião, esse tipo de combustível gera muitos resíduos.

"Ele produz uma emissão significativamente mais alta de óxido de enxofre, óxido de nitrogênio. Isso é muito ruim para a atmosfera como um gás de efeito estufa. Então está em discussão na IMO toda uma série de questões ligadas à redução de emissão desses gases pelas embarcações", afirma.

No entanto, ele afirma que o Brasil sempre teve uma atuação positiva na IMO e lembra que a Marinha do Brasil baniu o uso de tintas anti-incrustantes de casco de navios feitas à base de tributilestanho (TBT), composto altamente tóxico, em 2007, antes mesmo do banimento global determinado pela IMO em 2008.
"Então, são várias questões que podem dar um resultado positivo, mas avançam lentamente, porque você tem 175 países filiados à IMO e precisa deliberar uma coisa que seja aceitável por esses países."
Fernandez frisa que o Brasil já teve há alguns anos um papel de protagonismo na IMO e pode voltar a ter com a questão da sustentabilidade, já que "é uma das economias mais verdes que existe". No entanto, ele avalia que, para isso, o país precisa de um projeto político e de "um mínimo de estabilidade política", que hoje é inviabilizada pela polarização.

"Acho que o Brasil pode, sim, ter uma influência positiva, como já teve. Como já teve também na construção naval, o Brasil já foi um país muito importante em termos de navegação. E pode voltar a ser, mas as pessoas têm que querer fazer isso, têm que querer investir nisso."

Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала