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EUA desarticulam projetos brasileiros em sua busca por hegemonia, diz analista
EUA desarticulam projetos brasileiros em sua busca por hegemonia, diz analista
Sputnik Brasil
Liderança regional do Brasil está em risco com disputa de influências externas na América Latina, afirmam especialistas ouvidos pela Sputnik. 16.12.2025, Sputnik Brasil
2025-12-16T13:48-0300
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A fim de dar um novo impulso ao projeto brasileiro de integração regional, foi instalada, na última quarta-feira (10), a Frente Parlamentar pela Integração Sul-Americana, em Brasília. O grupo, que reune 193 deputados e 11 senadores, visa promover uma agenda estratégica de desenvolvimento conjunto do Brasil e de outros países da América do Sul, alinhada ao programa Rotas de Integração Sul-Americana, do Ministério do Planejamento e Orçamento.A iniciativa brasileira se dá em meio a um cenário de grande fragmentação no continente, com crises internas — como a instabilidade crônica do Peru, a economia inflada da Argentina e os relatos de perseguição política na Bolívia — e externas — pressão dos Estados Unidos sobre a Venezuela e a Colômbia, por exemplo — solapando a aproximação dos governos da região em prol de projetos em comum, que sempre foram uma marca dos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Segundo a proponente e coordenadora do grupo, a deputada Socorro Neri (PP-AC), a frente parlamentar acompanhará políticas públicas e buscará aperfeiçoar os marcos legais e dar maior visibilidade a uma agenda que reposiciona o Brasil como referência continental.Para Rodrigo Gallo, coordenador do curso de relações internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, embora o Brasil siga ativo como liderança regional, é inegável que o continente está no meio de uma disputa entre os Estados Unidos e a China."Embora continue a ser a maior economia da região e desempenhe papéis relevantes em fóruns multilaterais, como a ONU, é inegável que a América Latina também sofre influências diplomáticas, políticas e econômicas de potências externas. […] Países latino-americanos buscam equilibrar essas relações de acordo com interesses econômicos e de segurança, o que reduz o espaço de liderança exclusiva do Brasil", explica.Segundo ele, as estratégias de Washington são respostas à crescente presença chinesa na América do Sul, não necessariamente tendo o objetivo de deslegitimar o Brasil.A frente parlamentar, afirma Gallo, será de suma importância para o desenvolvimento da América do Sul, atuando como "uma ponte entre o Legislativo e as ações práticas de integração, com papel de articulação política e visibilidade".Para Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a região enfrenta um "regionalismo líquido", em que as alianças entre os Estados são voláteis, menos institucionalizadas e pressionadas pela presença da China e dos Estados Unidos, que oferecem parcerias diretas sem as exigências que um bloco regional demanda."Isso dilui a influência gravitacional que a economia brasileira exercia naturalmente sobre os vizinhos. Então eu não diria que o Brasil ficou para trás, mas a sua liderança deixa de ser natural, se torna um desafio a ser reconquistado diariamente", destaca Bressan.Na direção contrária à de Gallo, Bressan acredita que a atuação norte-americana não é apenas uma tentativa de conter a influência chinesa, mas também é uma "afronta direta ao Brasil"."O efeito colateral dessa estratégia é o enfraquecimento dos fóruns multilaterais que o Brasil tradicionalmente lidera. Ao privilegiar acordos bilaterais e parcerias de segurança individuais com países específicos, os Estados Unidos incentivam inclusive a fragmentação, esvaziam o poder de barganha coletivo que os blocos, como Mercosul ou Unasul, poderiam ter."Ela pontua que, na prática, tais táticas deslegitimam as iniciativas brasileiras de autonomia regional, já que uma América do Sul unida e soberana conflitaria com os interesses de alinhamento automático com o país norte-americano.Bressan complementa que, apesar de Washington e Brasília terem o interesse mútuo de reforçar seus laços, a posição hegemônica dos EUA ataca a integração horizontal que o Brasil tenta construir.Sobre a frente parlamentar, a professora diz que o grupo pode atuar destravando acordos pendentes e fiscalizando a implementação das normas do Mercosul, em pautas que afetam diretamente a vida do cidadão, como a facilitação do trânsito em fronteiras, o reconhecimento de diplomas e a integração de cadeias produtivas.A frente, composta por legisladores de diferentes matizes do espectro político, também ajudaria na formação de uma consciência multipartidária, dado seu viés nacional, "blindando" a diplomacia externa do humor do Poder Executivo brasileiro. O objetivo dessa rede por toda a América do Sul, a professora explica, garantiria que a integração institucional avançasse mesmo quando o diálogo entre presidentes estivesse travado.Ambos os entrevistados pela Sputnik Brasil concordam que a Frente Parlamentar pela Integração Sul-Americana poderá trabalhar independentemente de quem esteja no Planalto, sendo capaz de sobreviver a qualquer resultado das urnas nas próximas eleições, em 2026. Contudo, também acreditam que os instrumentos e o alcance da iniciativa serão ajustados conforme os interesses estratégicos da diplomacia presidencial.
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EUA desarticulam projetos brasileiros em sua busca por hegemonia, diz analista
13:48 16.12.2025 (atualizado: 17:16 16.12.2025) Especiais
Liderança regional do Brasil está em risco com disputa de influências externas na América Latina, afirmam especialistas ouvidos pela Sputnik.
A fim de dar um novo impulso ao projeto brasileiro de integração regional, foi instalada, na última quarta-feira (10), a Frente Parlamentar pela Integração Sul-Americana, em Brasília. O grupo, que reune 193 deputados e 11 senadores, visa promover uma agenda estratégica de desenvolvimento conjunto do Brasil e de outros países da América do Sul, alinhada ao programa Rotas de Integração Sul-Americana, do Ministério do Planejamento e Orçamento.
A iniciativa brasileira se dá em meio a um
cenário de grande fragmentação no continente, com crises internas — como a instabilidade crônica do Peru, a economia inflada da Argentina e os relatos de perseguição política na Bolívia — e externas —
pressão dos Estados Unidos sobre a Venezuela e a Colômbia, por exemplo — solapando a aproximação dos governos da região em prol de projetos em comum, que sempre foram uma marca dos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a proponente e coordenadora do grupo, a deputada Socorro Neri (PP-AC), a frente parlamentar acompanhará políticas públicas e buscará aperfeiçoar os marcos legais e dar maior visibilidade a uma agenda que reposiciona o Brasil como referência continental.
Para Rodrigo Gallo, coordenador do curso de relações internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, embora o Brasil siga ativo como liderança regional, é inegável que o continente está no meio de uma disputa entre os Estados Unidos e a China.
"Embora continue a ser a maior economia da região e desempenhe papéis relevantes em fóruns multilaterais, como a ONU, é inegável que a América Latina também sofre influências diplomáticas, políticas e econômicas de potências externas. […] Países latino-americanos buscam equilibrar essas relações de acordo com interesses econômicos e de segurança, o que reduz o espaço de liderança exclusiva do Brasil", explica.
Segundo ele, as estratégias de Washington são respostas à crescente presença chinesa na América do Sul, não necessariamente tendo o objetivo de deslegitimar o Brasil.
"É uma reconfiguração de alianças estratégicas onde diferentes países respondem a interesses próprios: segurança, comércio e geopolítica, entre outros. O Brasil e os Estados Unidos ainda mantêm relações diplomáticas e comerciais relevantes, como na recente retirada de sanções sobre um ministro brasileiro do STF [Supremo Tribunal Federal], que mostra normalização e ajuste de relações bilaterais."
A frente parlamentar, afirma Gallo, será de suma importância para o desenvolvimento da América do Sul, atuando como "uma ponte entre o Legislativo e as ações práticas de integração, com papel de articulação política e visibilidade".
"A frente atuará de modo a acompanhar e aperfeiçoar marcos legais para políticas de integração; e fortalecer diálogos com governos vizinhos e organismos multilaterais; além de dar visibilidade e articulação política a temas de interesse comum, como infraestrutura, desenvolvimento sustentável e cooperação econômica."
Para Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a região enfrenta um "regionalismo líquido", em que as alianças entre os Estados são voláteis, menos institucionalizadas e pressionadas pela presença da China e dos Estados Unidos, que oferecem parcerias diretas sem as exigências que um bloco regional demanda.
"Isso dilui a influência gravitacional que a economia brasileira exercia naturalmente sobre os vizinhos. Então eu não diria que o Brasil ficou para trás, mas a sua liderança deixa de ser natural, se torna um desafio a ser reconquistado diariamente", destaca Bressan.
"Sem uma estratégia de financiamento robusta e pragmatismo, o Brasil corre o risco de ser apenas mais um ator entre os muitos, e não o paymaster da integração, ou seja, aquele que vai sustentar a integração."
Na direção contrária à de Gallo, Bressan acredita que a atuação norte-americana não é apenas uma tentativa de conter a influência chinesa, mas também é uma "afronta direta ao Brasil".
"O efeito colateral dessa estratégia é o enfraquecimento dos fóruns multilaterais que o Brasil tradicionalmente lidera. Ao privilegiar acordos bilaterais e parcerias de segurança individuais com países específicos, os Estados Unidos incentivam inclusive a fragmentação, esvaziam o poder de barganha coletivo que
os blocos, como Mercosul ou Unasul, poderiam ter."
Ela pontua que, na prática, tais táticas deslegitimam as iniciativas brasileiras de autonomia regional, já que uma América do Sul unida e soberana
conflitaria com os interesses de alinhamento automático com o país norte-americano.
"Embora o objetivo primário dos Estados Unidos seja a segurança e a manutenção de sua hegemonia hemisférica, o resultado é a desarticulação dos projetos brasileiros."
Bressan complementa que, apesar de Washington e Brasília terem o interesse mútuo de reforçar seus laços, a posição hegemônica dos EUA ataca a integração horizontal que o Brasil tenta construir.
Sobre a frente parlamentar, a professora diz que o grupo pode atuar destravando acordos pendentes e fiscalizando a implementação das normas do Mercosul, em pautas que afetam diretamente a vida do cidadão, como a facilitação do trânsito em fronteiras, o reconhecimento de diplomas e a integração de cadeias produtivas.
A frente, composta por legisladores de diferentes matizes do espectro político, também ajudaria na formação de uma consciência multipartidária, dado seu viés nacional, "blindando" a diplomacia externa do humor do Poder Executivo brasileiro. O objetivo dessa rede por toda a América do Sul, a professora explica, garantiria que a integração institucional avançasse mesmo quando o diálogo entre presidentes estivesse travado.
Ambos os entrevistados pela Sputnik Brasil concordam que a Frente Parlamentar pela Integração Sul-Americana poderá trabalhar independentemente de quem esteja no Planalto, sendo capaz de sobreviver a qualquer resultado das urnas nas próximas eleições, em 2026. Contudo, também acreditam que os instrumentos e o alcance da iniciativa serão ajustados conforme os interesses estratégicos da diplomacia presidencial.
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