- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Ano de 2025 reforçou expectativas positivas para o futuro da África, avaliam especialistas

© Foto / Divulgação / Presidência do SenegalO presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, visita plataforma de exploração de petróleo no contexto da produção local de barris, pela primeira vez na história do país
O presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, visita plataforma de exploração de petróleo no contexto da produção local de barris, pela primeira vez na história do país - Sputnik Brasil, 1920, 26.12.2025
Nos siga no
Historicamente, as notícias sobre a África que chegam por essas bandas são predominantemente negativas. Geralmente, quando há um estopim de conflitos regionais, golpes de Estado e crises humanitárias e instabilidades políticas.
Entretanto, nos últimos anos, os avanços e conquistas de nações africanas têm logrado furar a bolha da imprensa hegemônica e conquistado espaço nos noticiários ao redor do planeta.
Ficou difícil ignorar que das 20 maiores economias que mais crescem, 14 estão na África, segundo a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). As cinco economias que mais cresceram são africanas: Guiné (7,08%), Ruanda (7,1%), Senegal (8,44%) e Líbia (17,3%).
Analistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, nesta sexta-feira (26), avaliaram o ano de 2025 como mais positivo do que negativo para essa região.

"A gente pode aqui, sem medo de errar, indicar que o continente africano se torna cada vez mais estratégico pelas potencialidades, questão humana, questão de recursos naturais e energéticos e também no âmbito global", disse o professor de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Anselmo Otávio.

O professor destacou ao programa que o continente está muito mais interligado e focado na resolução conjunta dos seus desafios.
Doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mamadou Alpha Diallo, o ano de 2025 foi marcado por uma série de eventos no continente que evidenciaram um despertar de lideranças africanas para uma visão estratégica e geopolítica crítica ao neocolonialismo.
Ele citou como exemplo os processos de reorganização dos Estados do Sahel, Burkina Faso, Mali e Níger, que foram se consolidando em uma aliança e cuja integração tem trazido benefícios.
"Os países do Sahel este ano, me parece, se destacaram bastante pelo fato de formarem a Aliança do Sahel, por terem enfrentado o sistema, tanto o sistema africano dentro da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] quanto o sistema neocolonial francês e eles resistirem a isso”, disse ele.
Presidente chinês Xi Jinping (esquerda), presidente russo Vladimir Putin, presidente sul-africano Cyril Ramaphosa na cerimônia conjunta de fotografia dos líderes do BRICS como parte da XVI cúpula do BRICS em Kazan, 23 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.12.2025
Panorama internacional
Parcerias de África com Rússia e China dificultam hegemonia do Ocidente, diz analista

África do Sul

Um dos países de maior destaque no continente é a África do Sul, que surge como um ator poderoso na construção de autonomia e soberania na região.

"Faz parte dos BRICS, que participa dos grandes encontros internacionais, dos grandes blocos e diálogos dos tabuleiros, por isso, a África do Sul sempre vai ter maior destaque no cenário internacional", diz Diallo.

Nem o atrito com Estados Unidos boicotou a atuação sul-africana, na opinião de Otávio. O fato de a África do Sul ter levado Israel para as cortes internacionais pelo genocídio na Palestina pode ser um dos fatores que criaram um rota de colisão entre o país africano e o governo do republicano Donald Trump.
Além disso, pontuou, o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é muito próximo do governo Trump, e uma série de medidas foram feitas este ano para prejudicar o país africano, como a retirada da ajuda humanitária e sanitária da USAID.
Ainda assim, a África do Sul não retrocedeu e segue tocando em temas que causam atrito com Washington, como a questão do meio ambiente que foi um dos focos do G20. Aliás, a ausência dos EUA no G20 na África do Sul não prejudicou o evento, segundo os entrevistados
Esse cenário impulsionou a busca de apoio de outros países, sobretudo as potências emergentes, como China, Rússia e Brasil, além de parcerias visando benefícios no âmbito regional, contaram os convidados do programa.

"Ao contrário, teve um grande sucesso e a presença dos outros países fez uma diferença muito grande e os EUA me parece que foi o grande perdedor desse encontro", opinou Diallo. "Certamente, a ausência dos EUA abre portas para outros atores negociarem de uma forma muito mais contundente."

Congo e Sudão

Dentre os desafios elencados pelos professores, os conflitos e a violência permanecem em destaque, como é o caso do da República Democrática do Congo e o Sudão.
A grande quantidade e diversidade de recursos naturais e energéticos desses países os torna chamarizes em tempo de disputas por terras raras, ressaltaram.
Não por acaso, ocorre a presença recente norte-americana como mediador de conflito, que vem pressionando grupos insurgentes a abandonarem o conflito e facilitar o acesso a minerais estratégicos por empresas americanas.
"O Congo é o pulmão econômico do continente africano [...] O desenvolvimento do continente africano vai depender da independência e da autonomia do Congo. E isso está sendo provado 60 anos depois. A gente vê que sem o Congo a gente não consegue sair do sufoco", frisou Diallo.
Grande fornecedor de matérias-primas, de potencial hídrico e de petróleo, desde 2023, o Sudão está envolto em uma sangrenta guerra civil, fruto da disputa de poder entre a Forças Armadas do país e paramilitares, após a derrubada do governo de Omar al-Bashir, que esteve 30 anos no poder.
No mês passado, Trump declarou que líderes árabes pediram que ele usasse sua influência para ajudar a dar um fim imediato aos combates no Sudão.
Ambos os analistas comentaram, no entanto, que a saída para crises como as do Sudão e do Congo exigem esforços internos e articulados entre os países da região, a começar por investimentos em infraestrutura para que os recursos retornem para a população.

O perigo que vem de fora

Os maiores obstáculos para um desenvolvimento sustentável e prolífero para a região parecem vir do exterior, de acordo com os especialistas.
Essa influência é facilitada graças ao legado do período colonial de cooptação de elites locais pela Europa, após as independências das ex-colônias, lembrou Otávio.
"Havia países com índice de desenvolvimento humano lá embaixo e essas elites cada vez mais ricas. Isso leva, então, a uma revolta popular que vai ter a mudança desses governos e, ao mesmo tempo, a busca em tentar distanciar o país daquele país que simboliza esse processo de, vamos dizer assim, uma neocolonização que seria a França".
"Qualquer crescimento, qualquer autonomização do continente africano pode gerar uma reação do imperialismo e do capitalismo. A persistência, a continuidade desse processo vai depender da capacidade de resiliência e de resistência dos países africanos", observou Dallio.
O ano de 2025, porém, foi um duro golpe para países como França, que se aproveitam da influência colonial para adquirir com mais facilidade recursos como urânio e outros minérios de alto valor no mercado, argumentou Otávio.
"Agora você tem um cenário internacional muito mais complexo, tem a presença das potências emergentes que estão cada vez mais presentes no continente e os países africanos começam a perceber nessas potências emergentes uma alternativa, tanto no âmbito global como também no âmbito regional", declarou Otávio.

Multipolaridade

Os grupamentos que foram se formando a partir do novo milênio, como o BRICS e o G20, estão ganhando mais relevância no cenário de multipolaridade e pressionando por maior democratização da governança global. Neles, o alargamento da presença africana é indiscutível.

"Esse ano a reunião do G20 foi no continente africano, então houve uma participação interessantíssima da União Africana, como também da África do Sul, que sediou o G20", disse Ot[ávio que também lembrou da ampliação dos BRICS que incluiu países africano.

Nesse ponto, ele mencionou também a consolidação da União Africana como um player internacional relevante, desde sua entrada em 2023 no G20, o fórum que simboliza a multilateralidade.
Otávio expressou sua expectativa de que em 2026 a aliança passe por reformulações e leve em consideração as especificidades de cada conflito e Diallo defendeu uma União Africana "menos tímida" para voltar a ter autonomia e mais legitimidade.
Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала