PESCO vs OTAN: o que esperar do projeto de exército europeu?

Em dezembro de 2017, os países da União Europeia concordaram em lançar o programa de Cooperação Estruturada Permanente (PESCO, sigla em inglês) visando unir seus esforços em vários projetos de defesa.
Sputnik

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Para o momento, no âmbito deste programa já foram elaborados mais de 50 projetos conjuntos abrangendo vários campos de defesa. Trata-se da compra de novas armas e sistemas de material bélico que os países da União Europeia não podem comprar sozinhos, da realização de projetos quanto à infraestrutura militar, bem como a elaboração de regras para facilitar o deslocamento de tropas e equipamento bélico entre os países europeus.

Dos 28 países integrantes da União Europeia, 25 apoiaram o projeto. Só o Reino Unido, Dinamarca e Malta não aderiram à iniciativa.

Assim, os antigos planos da UE de criar seu próprio exército parece que deram um passo para se tornarem reais.

Quais são os motivos para a criação do novo programa e como a PESCO e a OTAN podem coexistir em se tratando da defesa europeia?

Evitando nova 'comédia de erros'

Vale destacar que nos planos do programa está o aperfeiçoamento da logística e infraestrutura militar dos países europeus. Ele é o resultado de várias falhas de projetos conjuntos da OTAN. Assim, durante as manobras Saber Strike, as tropas da Aliança Atlântica deveriam se deslocar da parte ocidental da Europa à oriental. A transferência ocorreu com muita confusão, que a edição Bloomberg qualificou como "comédia de erros".

Soldado lituano durante as manobras da OTAN Saber Strike, na Lituânia

 

Eventos curiosos também vieram à tona. Por exemplo, no meio dos treinamentos foi revelado que vários tanques falharam em atravessar certas pontes, uma vez que estas poderiam não suportar seu peso.

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Além disso, durante as manobras militares foi descoberto que numerosas leis locais e procedimentos burocráticos atrapalham o atravessamento das fronteiras pelas tropas.

É por isso que entre as primeiras iniciativas do novo projeto está prevista a conciliação das leis quanto à facilitação do transporte de soldados e equipamento bélico através das fronteiras. É evidente que este assunto é mais fácil de resolver dentro da Europa que a nível intercontinental.

Além disso, a própria ideia da criação de um exército europeu não é nova, já que a unificação da Europa se iniciou com o projeto da Comunidade Europeia de Defesa. Embora esta iniciativa não tivesse sido realizada, a ideia continuou ocupando as mentes dos líderes europeus. É bem conhecido que o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é um antigo apoiador da criação dos "Estados Unidos da Europa". É óbvio, que tal estrutura tem de ser capaz de assegurar plenamente sua própria defesa.

Alternativa à OTAN?

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Deste o início das conversas sobre o projeto, surgiram várias opiniões se o novo programa poderia ou não substituir a Aliança Atlântica e, por conseguinte, diminuir a presença dos EUA na região, já que é conhecido que são os norte-americanos que mandam na OTAN e não os europeus.

Em novembro, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou que a Aliança Atlântica apoia o reforço do potencial militar da União Europeia.

"Eu saúdo esta decisão, já que acredito que ela contribui para o reforço da defesa europeia. É bom para a Europa, bem como para a OTAN", assinalou Stoltenberg.

Contudo, outros veem o novo programa como uma provável alternativa à Aliança. A edição britânica The Times assinalou que os países da UE estão tentando substituir a OTAN: "A separação entre a Alemanha e os EUA continua e já abrange não só o espaço econômico e político, mas também o espaço militar."

Ou seja, a Europa vem elaborando um sistema que no futuro vai levantar a questão de desnecessidade da Aliança, bem como a presença militar dos EUA na Europa.

Soldados dos EUA na Europa (foto de arquivo)

 

Vale destacar também, que o processo de afastamento da União Europeia da OTAN já começou fazendo com que os países europeus ganhem mais independência e resistam às tentativas de serem controlados por parte dos EUA.

Assim, as negociações entre a UE e os EUA quanto ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (mais conhecido como TTIP), que deveriam ter sido concluídas ainda em 2014, fracassaram. O vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, explicou que europeus não desejam aceitar as exigências norte-americanas:

"De fato, as negociações com os EUA fracassaram porque nós, os europeus, não desejamos obedecer às exigências estadunidenses."

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Além do mais, os últimos passos de Donald Trump revelam que as ambições dos EUA passaram todos os limites. Vale recordar a recente situação em torno de Jerusalém. A Assembleia Geral da ONU, incluindo a maior parte dos países europeus, rejeitou o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, iniciativa proposta pelos EUA. Antes da votação, Donald Trump ameaçou que os EUA iriam deixar de prestar ajuda financeira aos países que votassem contra sua decisão quanto a Jerusalém. Mas, pelos vistos, os países europeus não tiveram medo e demonstraram sua verdadeira postura quanto ao assunto.

Um passo pequeno para uma ideia ambiciosa?

Não é surpreendente que os veículos da mídia mais influentes dos EUA se apressaram a qualificar o programa europeu como ilusório. Entre elas está The National Interest, que publicou um artigo intitulado "Um passo em direção a uma má ideia: o exército europeu".

"A PESCO parece ser grande em promessas e fanfarras, mas é pouco provável que ela consiga contribuir muito para o fortalecimento das capacidades militares [da Europa]. O projeto não vai aumentar os gastos com defesa. Na verdade, pode fazer com que algumas nações europeias gastem menos com ela. A única coisa que a PESCO é capaz de fazer é criar uma barreira de burocracia adicional da UE", escreveu o autor do artigo.

Contudo, é preciso levar em consideração que por enquanto trata-se de apenas um programa de colaboração no campo de defesa que foi lançado há pouco. Sabe-se que nem todas as iniciativas da União Europeia foram completamente realizadas, outras falharam de todo, mas o projeto tem perspectivas ambiciosas.

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A PESCO foi apoiada por larga maioria dos integrantes da União Europeia, a influente postura do Reino Unido, que em breve vai abandonar o bloco de integração, perderá seu valor. Além do mais, a Europa tem todos os recursos necessários para sua realização.

Talvez, tal como outras iniciativas no campo de defesa, que tradicionalmente se "atrasam" em relação à colaboração econômica entre os países europeus, a PESCO poderia enfrentar vários obstáculos, tanto internos como externos, já que a OTAN não aceitaria facilmente a competição.

Aparentemente, o sucesso do projeto vai depender de vários fatores, inclusive da vontade política dos líderes europeus e dos recursos com que eles podem contribuir para a realização do planejado.

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