'Lista do Kremlin': como Washington pretende pressionar Moscou

O Departamento do Tesouro dos EUA publicou a chamada "Lista do Kremlin" que contém mais de 200 pessoas ligadas ao governo da Rússia. O analista da Sputnik, Filip Prokudin, acredita que com esta medida, Washington faz um claro sinal para a elite russa e empreendedores europeus: "interrompam toda a cooperação com o Kremlin".
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Quem faz parte da lista

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Na lista foram incluídos membros do governo russo, em particular, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, todos os ministros federais, assim como o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, presidentes de ambas as câmeras do parlamento russo e gerentes de várias empresas estatais.

O documento também inclui o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, chefe do Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia, Sergei Naryshkin, prefeitos de São Petersburgo e de Moscou, entre outros.

Além disso, a lista compreende 96 empreendedores russos, cuja fortuna é de pelo menos um bilhão de dólares.

Limitações impostas pelo Congresso

O relatório foi preparado de acordo com a Lei de Contenção de Adversários da América Através de Sanções (CAATSA, na sigla em inglês), aprovada no verão de 2017.

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O presidente norte-americano, Donald Trump mostrou-se contra a iniciativa, mas a Câmara dos Representantes do Congresso aprovou a proposta por uma maioria esmagadora, evitando o possível veto por parte do presidente.

Devido a isso, e de acusações de suas supostas ligações com a Rússia, Trump teve que recuar. Com essa lei, congressistas conseguiram limitar as ações em relação a Moscou tanto de Trump como de seus "parceiros" da União Europeia, escreve Filip Prokudin.

Políticos europeus várias vezes propuseram levantar as sanções antirrussas, mas agora o documento elaborado pelo Congresso norte-americano promete um castigo para aqueles que cooperarão com a Rússia.

Sonho americano universal

A lista não significa a aplicação imediata de sanções contra as pessoas indicadas, mas pressupõe que isso pode acontecer. Assim, congressistas estadunidenses pretendem saber o quão grandes são a fortuna e fontes de rendimento dos representantes da elite russa e seus familiares, afirma o analista da Sputnik, acrescentando que o número de indivíduos introduzidos na lista juntamente com seus familiares poderia atingir 300 pessoas, segundo a mídia.

Segundo comentou o ex-coordenador para políticas de sanções do Departamento de Estado dos EUA, Daniel Fried, a lista tem por objetivo denegrir os representantes da elite russa que apoiam Vladimir Putin. Também de acordo com Fried, o documento deve se tornar um sinal de que a "interferência da Rússia em eleições norte-americanas custará muito" para os representantes da elite, é melhor que estes "se afastem" do governo atual russo, diz o artigo.

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Além da suposta interferência nas eleições norte-americanas de 2016, entre as razões para ser incluído na "lista do Kremlin" estão a "agressão contra a Geórgia, Ucrânia […] responsabilidade pelo bombardeamento de civis na Chechênia e Síria", assim como assassinatos de políticos opositores, ativistas, jornalistas, entre outras razões, segundo explica o centro analítico Atlantic Council.

O artigo sublinha que os critérios de inclusão na lista de sanções são muito vagos. Especialistas de Atlantic Council, por sua parte, esclarecem que a elite ou os "oligarcas" são "grandes empreendedores que receberam muitos lucros através de negócios com o Kremlin".

"A própria fortuna não pode ser considerada repreensível. Os russos, que seguiram o sonho americano (na realidade, universal) de enriquecer por meio de um negócio bem-sucedido, devem ser elogiados e não castigados", especificaram analistas de Atlantic Council.

Tentando influenciar nas eleições russas

Tanto a "Lista do Kremlin" como a própria lei na qual esta se baseia, são uma parte da "guerra de nervos" que a administração norte-americana quer impor à elite russa, opina Prokudin.

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Membro da empresa jurídica internacional Herbert Smith Freehills, Aleksei Panich, também acha que a lista é um sinal que Washington direciona à elite russa:

"Não tentem influenciar na política russa ou diminuírem sua presença nela, pois esta […] não é de agrado aos EUA", explicou Panich.

Segundo ele, o objetivo foi de publicar o documento para criar uma atmosfera de tensão.

"Quando não está claro se haverá ou não sanções, e, em caso afirmativo, quais serão, há um certo sentimento de ameaça […] este é o objetivo da lista", ressalta.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, classificou a medida como uma tentativa de influenciar nas eleições presidenciais de 2018.

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