Para que EUA, China e Rússia tentam dominar perigosa tecnologia para abater satélites?

O cruzador de mísseis estadunidense USS Lake Erie saiu ao norte do Pacífico de madrugada e lançou um SM-3, míssil desenhado para abater satélites. Isto aconteceu em 21 de fevereiro de 2008, há precisamente 10 anos. O colunista Andrei Kots conta para que os países precisam de tal tipo de armas hoje em dia.
Sputnik

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Intercepção 'à Hollywood'

Em dezembro de 2006, um satélite espião estadunidense, USA-193, pertencente ao Escritório Nacional de Reconhecimento (NRO), foi colocado em órbita a partir da base aérea de Vandenberg, porém, logo parou de responder aos sinais enviados da Terra. Por mais de um ano o aparelho foi considerado como lixo espacial.

Já em 2008, a NASA ficou alarmada, pois o satélite começou se aproximando da Terra e poderia cair em qualquer área. Ademais, a agência para emergências do país, FEMA na sigla em inglês, comunicou que o satélite ainda portava 450 litros de hidrazina altamente tóxica. Na sequência, Washington ficou consumida por pânico e começou a elaborar um plano para eliminar esta "bomba química" orbital.

A solução foi proposta pelo Pentágono: abater o satélite com um míssil guiado SM-3 destinado à eliminação de alvos aéreos, inclusive balísticos, bem como de ogivas em altitudes fora da atmosfera. Hoje em dia, suas últimas modificações representam a base do sistema antimíssil global estadunidense em formação.

A operação Burnt Frost ("Gelo Queimado", em inglês) foi autorizada pessoalmente pelo presidente George W. Bush. Em 14 de fevereiro, as autoridades estadunidenses publicaram um comunicado oficial revelando os planos de eliminar o USA-193 com ajuda de um míssil-interceptor antes do satélite entrar na atmosfera. O aparelho poderia ter caído em uma área densamente povoada e criar uma nuvem tóxica em cima de um território igual a dois campos de futebol. Afinal, foi decidido atacar o alvo quando ele baixasse até o nível de 240 km.

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Para o local do lançamento foi enviado um cruzador da classe Ticonderoga, USS Lake Erie, equipado com sistema de controle e informação Aegis. A tripulação deste navio, até aquele momento, já tinha conseguido abater durante ensaios ogivas de treinamento de mísseis balísticos com interceptores SM-3.

Deste modo, o Lake Erie se posicionou no local planejado e atingiu com sucesso o satélite "enlouquecido" que se movia à velocidade de 7.800 m/s. Toda a respectiva operação levou cerca de 3 minutos. Segundo revelou o Pentágono mais tarde, o tanque com combustível perigoso tinha sido completamente destruído, enquanto os destroços do satélite arderam na atmosfera em um mês.

Entretanto, nem todos acreditaram nessa justificação "à Hollywood" para a respectiva operação. Moscou, por exemplo, insistiu que os norte-americanos teriam usado o SM-3 contra o satélite para depois continuar desenvolvendo o sistema antimíssil na Europa. A China, por sua vez, entendeu a operação como algo destinado contra ela própria, pois um ano antes da operação estadunidense, em 11 de janeiro de 2007, Pequim tinha abatido um seu satélite avariado à altitude de 800 quilômetros.

"Os EUA e outras potências espaciais não gostaram nada do fato da China ter ousado efetuar tais testes. O problema é que as altitudes de 800-900 km se consideram como o chamado ‘ponto de imortalidade'. Nesta órbita praticamente não há lixo espacial, e um satélite lançado para aí podia funcionar sem transtornos. Já o aparelho chinês, após ser abatido, se desfez em inúmeros pedaços, cerca de 3 mil destroços grandes que podem ser vistos a partir da Terra, além de numerosos [destroços] mais pequenos. Falando de forma mais simples, a China 'sujou' uma órbita segura e confiável. Contudo, Pequim conseguiu demonstrar que é capaz de eliminar alvos deste tipo em quaisquer altitudes", disse à Sputnik Aleksei Leonkov, especialista em assuntos militares.

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Diferença nas abordagens

Hoje em dia, apenas três potências são capazes de abater satélites, elas são a Rússia, a China e os EUA, embora nenhuma delas tenha ainda um sistema de defesa antissatélite eficiente. O maior objetivo dos sistemas deste tipo é transtornar as comunicações do inimigo em caso de guerra. De acordo com os especialistas, um mês de operações militares ativas usando mísseis antissatélite bastará para deixar todas as partes beligerantes sem agrupamentos orbitais.

"Os mísseis-interceptores estadunidenses e chineses atuam pelo princípio de ataque cinético, ou seja, eliminam um alvo colidindo com ele", explicou Leonkov.

"O satélite USA-193 seguia por uma determinada trajetória que os militares norte-americanos obviamente conheciam. O míssil SM-3 foi lançado simplesmente para um ponto de encontro calculado com antecedência. Hoje em dia, o Pentágono se dedica ao aperfeiçoamento de meios de ataque cinéticos e tenta ensiná-los a manobrar. Nesse caso, eles poderão, por exemplo, corrigir a trajetória do míssil após lançamento. Já a Rússia usa munições termonucleares como armas antissatélite. Sua vantagem consiste em que, após explodirem no espaço, sua radiação ionizante e outros fatores atuantes põem fora de serviço não apenas um satélite, mas todo um grupo deles. Desde a época da Guerra Fria, os americanos têm apostado do lançamento maciço de mísseis antissatélite, enquanto nós [a Rússia] — em meios singulares, porém mais potentes", continuou.

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Entretanto, está altamente classificado de que mísseis russos de fato se trata. Enquanto as notícias sobre testes de novos mísseis balísticos intercontinentais aparecem na imprensa de modo bem regular, já das armas antissatélite não se fala muito.

Ainda na época da Guerra Fria, a URSS estava desenvolvendo vários programas. Particularmente, foi criado um "exterminador de satélites" espacial que alegadamente efetuaria uma manobra orbital para se aproximar do alvo e o atingiria fazendo explodir uma ogiva de fragmentação.

Se falarmos dos sistemas atuais e perspectivos, sublinha o colunista, anteriormente a mídia divulgou algumas escassas informações que se podia lutar contra satélites com o sistema antimíssil A-235 Nudol ou com o promissor sistema de mísseis antiaéreos S-500 Prometei.

"A alta eficácia de tais armas não é um segredo para os chefes militares das principais potências mundiais", acredita Aleksei Leonkov.

"Não é de estranhar que a mídia publique tão pouca informação sobre elas. Eliminar um grupo orbital do inimigo significará privá-lo de comunicação por satélite, da possibilidade de efetuar reconhecimento espacial e de usar os sistemas de navegação. Isto seria um golpe extremamente duro contra a capacidade de combate de um exército moderno. Sem satélites é impossível usar armas de alta precisão, torna-se muito mais difícil usar a aviação. Uma vez, no Iraque, os americanos ficaram sem navegação GPS, por alguma razão, e em resultado disso não puderam usar os mapas por satélite por algum tempo. Deste modo, foram obrigados a usar os antigos mapas de papel e planejar as operações com eles. No caso de guerra com um inimigo de força igual ou semelhante, tal deficiência pode ser fatal", resumiu o especialista.

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