Do dólar ao ouro: como Irã está contornando sanções americanas ao setor petrolífero

Enfrentando outra vez sanções por parte dos EUA, o irã está buscando meios de manter o comércio com outros países, pensando em trocar produtos petrolíferos por ouro. Especialistas iranianos contaram à Sputnik como funcionará a permuta e que outra troca, além do ouro, o Irã poderia aceitar.
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Hasan Khosrowjerdi, presidente do Conselho de Cooperação Econômica entre o Irã e a África, afirmou em entrevista à Sputnik Persa que, apesar da pressão dos EUA, há países que não temem comerciar com Teerã, estando prontos a comprar petróleo iraniano e até a pagar em ouro.

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Porém, o interlocutor se recusou a nomear os países para não criar problemas para estes. Segundo ele, o ouro é um recurso sempre procurado, sendo também usado como alternativa ao dinheiro.

Como o ouro pode fortalecer a moeda nacional, avança Khosrowjerdi, o Conselho de Cooperação Econômica entre o Irã e a África propôs trocar produtos por ouro e o Irã se expressou a favor dos contratos de permuta.

"Gana, África do Sul e outros países africanos possuem reservas de ouro. Caso eles mostrem interesse, nós estamos prontos a trocar petróleo por ouro", acrescentou.

Além do ouro, o Irã pode trocar petróleo por outras mercadorias que costuma importar, mas o especialista não as especificou. Para Khosrowjerdi, o Irã também poderá iniciar trocas de mercadorias com países que estão resistindo à pressão norte-americana, isto é, a China e a Rússia, pagando com petróleo por produtos antes importados desses dois Estados.

Especialista iraniano em energia, Seyed Saeed Mirtorabi, por sua parte, lembrou que Teerã já teve a experiência de comerciar por permuta durante a guerra com o Iraque.

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"Vendíamos petróleo e recebíamos produtos em troca. Também comerciamos com países desenvolvidos, por exemplo, com o Japão, e com países em desenvolvimento", detalhou.

Agora, em meio a sanções, o país também recorre a permuta e a outros tipos de pagamentos, em particular, a pagamentos em moedas nacionais.

"Hoje em dia, levadas em consideração as sanções e a dependência do dólar na economia mundial (mais de 60%), assim como a pressão dos EUA sobre os intercâmbios do Irã usando o dólar […] o Irã pode exportar a maioria das mercadorias para outros países em troca de petróleo ou de pagamentos em dólar. As sanções americanas dificultam a chegada de dólares ao Irã. De facto, os países sancionados podem realizar comércio em outras moedas ou através de permuta. Agora comerciamos em euros ou em moedas nacionais", explicou Mirtorabi.

Segundo o especialista, a tendência para usar o ouro como meio de pagamento surgiu já nos anos 2000 e agora, ao perder a confiança no dólar como moeda de referência mundial, alguns países optam pelo ouro.

"O Irã está em uma situação diferente, pois os importadores de seu petróleo não podem pagar em dólares. Então, o país tem uma alternativa — receber ouro em vez de dólares", disse.

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Quanto ao futuro uso do ouro, recebido com a venda de petróleo, o analista indicou duas opções possíveis.

"O Irã pode utilizar o ouro no mercado interno ou converter o ouro em divisas, com as quais poderá depois fazer compras", adicionou.

Durante as sanções anteriores, Teerã efetuava parte das transações comerciais por meio de ouro, que depois era convertido em divisas em países tais como a Turquia. Em seguida, a divisa convertida era importada para o Irã, sendo possível fazer o mesmo na situação atual, concluiu Mirtorabi.

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