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Liberdade de imprensa? Jornalista russo completa 100 dias de detenção na Ucrânia

Nesta sexta-feira, completam-se 100 dias da prisão do jornalista russo Kirill Vyshinsky, detido arbitrariamente na Ucrânia, onde era chefe do portal de notícias RIA Novosti Ucrânia.
Sputnik

Preso em Kiev no dia 15 de maio, Vyshinsky foi acusado de traição e de apoiar as repúblicas autoproclamadas de Donbass, em Donetsk e Lugansk. A sede da RIA Novosti também foi invadida por forças de segurança locais, provocando revolta entre autoridades e jornalistas da Rússia e de outros países, que alertaram para a gravidade da situação, considerada um risco à liberdade de imprensa. 

Detenção do editor da Sputnik na Letônia é 'atentado à liberdade de imprensa'

Sobre esse assunto, Sputnik Brasil conversou com Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) no Brasil, que, alinhada às redes de jornalistas internacionais, vem condenado a permanência do jornalista russo sob custódia na Ucrânia, classificando o ato como um atentado à liberdade de expressão e enfatizando o sentido político da prisão do jornalista.

Segundo Braga, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são valores que devem ser respeitados em todos os países do mundo, mesmo quando há situações de conflitos políticos.

"O caso da prisão do Kirill Vyshinsky é bastante emblemático, de uma prisão notadamente com caráter político. Ele foi detido sem uma justificativa concreta e teve sua prisão preventiva decretada por 60 dias. Essa prisão foi prorrogada e amanhã se completam 100 dias dessa prisão", disse ela, explicando que tanto a FENAJ como outras entidades da área pedem que o jornalista seja libertado e "seja respeitado o seu direito ao exercício profissional".

Moscou exige libertação imediata do jornalista russo preso na Ucrânia
Na época do incidente, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que as ações das autoridades ucranianas eram "inaceitáveis" e enviou uma nota de protesto à chancelaria da Ucrânia exigindo o cessar das violações contra a mídia no país. Em julho, o pedido foi reiterado pela representante oficial da diplomacia russa, Maria Zakharova. Até o presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu intervir na questão, pedindo ao líder ucraniano, Pyotr Poroshenko, para que ele agisse em prol da libertação de Vyshinsky.

Também em entrevista à Sputnik, o doutor em Ciências Políticas Diego Pautasso, especialista em questões relacionadas a países dos BRICS, como a Rússia, descreveu a situação do jornalista russo como parte de um processo mais antigo nas relações entre Kiev e Moscou, iniciado com os conflitos que levaram à queda do então presidente eleito Viktor Yanukovich. 

"A situação de degradação dos direitos humanos ocorre a partir do momento em que há o golpe, a revolução colorida, a segunda revolução colorida, em 2014. E, ali, você tem uma escalada de um governo com forte inspiração nazifascista que comete uma série de arbitrariedades, no sentido de, inclusive, proibição do partido comunista na Ucrânia, perseguição dos simpatizantes russos… E você tem uma cisão do país muito forte entre segmentos mais pró-russos e a favor do governo deposto e segmentos apoiadores do golpe e do novo governo. Isso aí já leva a uma escalada de arbitrariedades — consequentemente, de violência — e de divisão do país. Isso se reflete, no plano internacional, nas relações ucraniano-russas, e, portanto, eu entendo que a perseguição ao jornalista russo é parte desse quadro mais amplo, tanto de degeneração da situação política da Ucrânia quanto de acirramento do tensionamento entre Kiev e Moscou."

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