Recentemente a China tem aumentado sua presença no continente africano em diversas áreas da vida econômica. Com pesados investimentos em infraestrutura nos países do continente, a China é um importante parceiro comercial de boa parte das nações africanas.
Angola, por exemplo, vende boa parte de seu petróleo para os chineses e a União Africana, organização continental que reúne os países da África, teve sua sede construída pela China. Entre indústrias e ferrovias, os interesses chineses, no entanto, têm levantado suspeitas.
"Muita gente acha que não é proteção. Acha que é política de grande potência que com muita inteligência olhou para a África e entendeu que a África poderia ser mercado para produtos chineses, que são produtos de baixo custo", enfatiza o pesquisador.
Ele explica que o tipo de produtos dos chineses é de interesse das populações dos países africanos, nações cuja maioria segue subdesenvolvida ou em desenvolvimento.
"E por outro lado a África pode oferecer à China aquilo que ela não tem, que são matérias primas fundamentais. A China tem uma grande vulnerabilidade no setor energético, por exemplo, daí ter relações muito estreitas sobretudo com países produtores de petróleo", continua.
Essa política, explica, cria divergências entre os pesquisadores e observadores internacionais, pois a África tem sido alvo de países em busca de matéria-prima há séculos. Uma política, diz Jonuel Gonçalves, que inclusive o Brasil já praticou quando, durante o governo Lula, empreiteiras e mineradoras brasileiras avançaram com negócios sobre a África.
Negociação também traz benefícios aos africanos
Para o professor, no entanto, a situação econômica de diversos países africanos é grave, o que os coloca em uma posição de êxito diante das negociações que atendam também às suas necessidades.
"[A África] tem mesmo que negociar com a China porque a China tem excedente de capital e a África tem déficit de capital. Por outro lado, a China faz empréstimos a juros muito mais baixos que o mercado internacional e até mesmo que o Fundo Monetário Internacional (FMI)", lembra o professor.
O Fórum sino-africano despertou grande interesse das nações africanas. Entre os 55 países do continente, apenas um não está presente no encontro, a antiga Suazilândia que agora se chama eSwatini. O motivo é que o país mantém relações bilaterais com Taiwan, o que fere a política externa chinesa.
Porém, o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu durante o Fórum um acréscimo de US$ 60 bilhões em investimentos no continente. Mesmo este movimento, informa Jonuel, também pode ser visto de duas formas. Por um lado, os países africanos precisam melhorar e recuperar sua infraestrutura e, por outro, atende aos interesses chineses em relação ao escoamento de matéria-prima.
O pesquisador também explica que a China realiza as negociações neste Fórum orientada por três programas: as metas do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU); o programa da União Africana, a Agenda 2063; e o programa chinês da Nova Rota da Seda.
Historicamente espoliada pelas potências europeias, a África negocia com o que pode diante de uma nova super-potência e espera assim livrar-se da miséria e acertar-se com o futuro, conforme desenhado em sua agenda continental.