A reunião deste ano pretendia avançar na regulamentação do Acordo de Paris, documento histórico alcançado na COP 22 em Paris na qual 194 nações se comprometeram voluntariamente a cortar emissões em prol da redução nos níveis de aquecimento global. O acordo quer limitar o aquecimento do planeta em no máximo 2ºC até o final do século e atualmente só não é respaldado pelos Estados Unidos.
Velasco argumenta que a postura de alguns países durante as negociações foi um impeditivo. Além disso, o entendimento da prioridade da agenda climática dentro das demandas nacionais mais prementes acaba prejudicando o avanço de discussões.
"Para alguns Estados, vimos a adoção de uma postura mais soberanista, avessa ao multilateralismo (…) Em outros países, os esforços necessários à redução de gases [poluentes] são vistos como impeditivos ao próprio desenvolvimento. A própria Polônia, que pela terceira vez sediou uma COP, é um país ainda muito resistente a mudar sua matriz energética baseada em queima de carvão", avalia Paulo Velasco.
"A questão mais complexa quando falamos de arranjos de governança global é que isso envolve a necessidade de que alguém perca para que todos ganhem. Quando tratamos da agenda do direito ambiental, há uma dificuldade de uma série de atores de abrir mão de alguns de seus ganhos para que o planeta como um todo seja um vencedor", continua Creomar de Souza.
O professor avalia ser necessária "uma certa capacidade de abstração para entender que a poluição feita hoje tem efeitos que provavelmente você não verá em vida".
"Isso por si já gera dificuldades para lideranças, sobretudo em regimes democráticos sempre pressionados por demandas muito urgentes. Geração de emprego, renda, diminuição da violência… Componentes que são colocados como mais importantes que a temática ambiental, o que explica em algum sentido uma parte da dificuldade em avançar a agenda", finaliza.