"Consequentemente, [houve] a valorização do guarani em relação ao real nos últimos dois anos. No Paraguai há uma inflação anual de 11%, então produtos alimentícios e diversos tipos de itens também aumentaram bastante por causa do aumento do combustível, principalmente do óleo diesel. O diesel é mais caro aqui do que no Brasil", apontou.
"Já naquela época, os sacoleiros haviam se deslocado daqui para a 25 de Março e para o Brás exatamente porque lá eles não têm problemas com Receita Federal, com polícia. Os mezeteiros [sacoleiros] do Paraguai, ao menos até antes da pandemia, iam até o Brás comprar essas camisas polo [de marcas falsificadas] para trazer para revender para brasileiros que vinham aqui", pontuou o economista.
"Houve, nos últimos anos, uma reconversão no Paraguai do turista sacoleiro para o turista que vem até Foz do Iguaçu fazer turismo e levar [esses itens mais caros da fronteira] para si. Ainda existem alguns sacoleiros de determinados produtos, por exemplo, de perfumaria, de bebidas ou de celulares, mas esses sacoleiros são bastante pontuais. Já não se levam confecções há muitos anos do Paraguai para o Brasil, isso acabou há mais de dez anos", continuou o diretor-presidente do Braspar.
Impactos na economia da fronteira
"O que leva os paraguaios a abastecer no Brasil é que eles desconhecem que no Brasil nós só temos um tipo de combustível na maioria dos postos. Há no Brasil a gasolina comum, de 88, 89 octanagens, até a aditivada, e no Paraguai você tem a comum, de 88, também até a de 97. No Brasil você só tem a Petrobras, que é de 92, e a de 97. Comparando o preço desses dois tipos de gasolina entre Brasil e Paraguai, é uma vantagem de mais de R$ 1 aqui no Paraguai em relação ao Brasil. Como no Brasil usam termos como 'supra' ou 'grand prix', com octanagem diferente daqui, eles acham que é a mesma gasolina, mas não é", indicou.
"Há a migração de indústrias brasileiras para o Paraguai. Estou assessorando cinco empresas, não só do Brasil mas de outros dois países, para se instalarem no Paraguai, mais especificamente na região metropolitana de Ciudad del Este. São empresas que geram 200, 300 empregos diretos [cada uma]. Hoje, na área metropolitana de Ciudad del Este, temos quase 20 mil pessoas empregadas em indústrias nos últimos dez, 15 anos, principalmente para exportar para o Brasil", observou o economista.
"Hoje, em Ciudad del Este, a maior parte do comércio está em grandes shoppings. As lojas pequenas, que eram exploradas por sacoleiros, fecharam", prosseguiu.
"Existe uma região chamada Vila Portes, que é logo depois passando a ponte no lado brasileiro, onde se compram tecidos, aviamentos e uma série de outros produtos no atacado para trazer ao Paraguai", contou Enis. "Há muito tempo existe um impacto forte na fronteira com relação ao [cidadão do] Paraguai fazer compra no Brasil. Na verdade o paraguaio atravessa mais para colocar combustível na Argentina do que no Brasil. Mas, na volta, ele faz as compras dele de artigos mais acessíveis no Brasil. O impacto é positivo no comércio. Hoje Foz do Iguaçu, segundo conversas com empresários, está com falta de mão de obra. A economia se recuperou bastante, o comércio está bastante forte, então nós chegamos a um ponto onde tem muitas empresas do setor de serviços com o problema de encontrar empregados em Foz do Iguaçu."
"O impacto na fronteira em relação a essas mudanças foi muito positivo porque tem feito com que Ciudad del Este melhore sua imagem, organize melhor seus espaços, fazendo com que se torne mais agradável para o visitante, que, por sua vez, acaba conhecendo outros lugares que sempre foram muito bonitos ali. Visitantes têm descoberto grandes shoppings, lugares para passear, restaurantes. A estadia de turistas em Foz do Iguaçu tem aumentado também por isso", concluiu.