"Não se pode deixar de lado o One Belt, One Road [Nova Rota da Seda], projeto ousado que levou diversos chefes de Estado africanos a conversar com o Xi Jinping [presidente chinês] em diversas ocasiões", lembra.
"A Rússia aumentou sua influência na África por meio de investimentos estratégicos em energia e em minerais. O Banco Africano de Exportação e Importação realizou, em 2018, a sua reunião anual fora do continente africano, em Moscou. Isso é um fato simbólico muito importante. No ano passado, a administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou planos de aumento do comércio e do investimento entre Estados Unidos e África de forma bastante expressiva, e o ponto de partida foi a reformulação de um programa desenvolvido pelo Donald Trump [ex-presidente norte-americano] chamado Prosper Africa [África Próspera, em tradução livre], que estimula a participação de empresas americanas com parceiros africanos para que a indústria de base africana seja melhor desenvolvida e para que os produtos africanos ganhem as prateleiras de diversos mercados", indica Bosco.
"A agenda de investimentos através da agência de cooperação turca é muito intensa. Tem um dado importante com relação à empresa aérea Turkish Airlines: atualmente a empresa tem 53 cidades africanas como destinos de seus voos. É um número gigantesco, comparado com o que acontecia em 2011; naquele momento, eram 18. Há esse crescimento gigantesco que demonstra o interesse da Turquia no continente africano como um todo", observa o especialista.
E quanto ao Brasil?
"Não há uma liderança hoje no Brasil que chame a África para conversar. Por exemplo, o presidente do Brasil nunca viajou ao continente africano nos quase quatro anos de governo. Isso tem uma representação negativa muito grande, porque não há interesse específico do governo em dialogar. Enquanto outras nações já demonstraram, já fizeram os atos, as suas interlocuções que demonstram abertura e interesse muito grande em conversar e fazer negócios com a África", analisa o presidente do Ibraf.
"Perdemos nosso caminho com a África porque outros países identificaram uma grande oportunidade em dialogar, mas também em fazer negócios com a África. O Brasil perdeu seu papel de influenciador junto ao continente africano. Em pouco tempo, o Brasil deixou de ser um amigo leal, um parceiro estratégico para nações africanas, não apenas países de língua portuguesa, que, por si só, já têm um ativo para nós — o componente linguístico é muito importante e tem que ser considerado. Mas outros componentes também (culturais, afetivos) podem e devem ser levados em consideração. O Brasil não se aproxima e não usa essas prerrogativas para se aproximar e fazer com que as partes sejam mais próximas", afirma.
Desperdício de potencial
"Há uma ação interna muito grande que coloca o continente como líder na agenda comercial do mundo. Não há nenhuma zona com esse tamanho e potencial. E o Brasil pode se aproximar e fazer uma relação direta com esses países. Qual a saída para que vejamos de maneira pragmática uma resposta? É termos interesse, um interesse real. Sem ele não há condições de buscarmos uma ação objetiva. Também tem uma oportunidade que surge, que é a ligação marítima e aérea que o Brasil pode implementar com e na África, conectando não apenas o Brasil, como também a América do Sul, ao continente. O Brasil pode ser a ligação entre os dois ambientes, além de se tornar um parceiro da zona de livre comércio continental africana. Temos muito a ganhar, mas precisamos colocar nossa ação pragmática em realidade objetiva", finaliza Bosco.