Operação militar especial russa

'É necessário que OTAN e EUA saiam da Ucrânia', afirma cônsul sobre suspensão do Tratado Novo START

A suspensão do Tratado Novo START deve ser interpretada como uma resposta às políticas antirrussas implantadas pelo Ocidente. Também tem como objetivo frear a escalada na Ucrânia, alimentada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), disse à Sputnik Brasil a cônsul honorária da Rússia em Belo Horizonte, Carolina Bernardes Enham.
Sputnik
Anunciada pelo presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (21), a suspensão é estratégica, avalia ela, que também é professora e coordenadora do curso de pós-graduação em projetos internacionais do Instituto de Educação Continuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e vice-presidente regional da Câmara Brasil–Rússia de Comércio, Indústria e Turismo no estado.
A cônsul honorária ressaltou que Putin deixou muito claro que não se trata de uma retirada definitiva da Rússia da participação no Novo START, mas que essa paralisação "se faz necessária neste momento".

"Isso de um ponto de vista estratégico, uma vez que, se está havendo um conflito com uma parte envolvida [EUA], e o próprio presidente Putin mencionou isso diversas vezes durante o seu discurso, não faz muito sentido que a Rússia continue participando neste momento do Novo START", explicou Enham, aludindo ao envio bilionário de armas por EUA, Reino Unido e outros membros da OTAN à Ucrânia.

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Nas entrelinhas, trata-se de uma resposta a essa política contrária à Rússia, "a todas as sanções, a todas as políticas antirrussas medíocres que estão sendo feitas pelo Ocidente liderado pelos Estados Unidos contra a Rússia, que nos obriga a reagir", observa a professora.

"Não se pode lutar contra a Rússia por um lado e fingir que todos os planos estratégicos seguem normalmente, que todas as demais alianças estratégicas seguem normalmente. É impossível. São ações incompatíveis. É preciso que tanto os Estados Unidos quanto o mundo inteiro entendam isso. Não se pode mais fingir que não há uma guerra acontecendo em solo ucraniano, entre a Rússia e a OTAN e com o envolvimento direto dos Estados Unidos. O próprio Putin disse diversas vezes no seu discurso que não se pode mais negar o direto envolvimento dos Estados Unidos nesse conflito na Ucrânia. E que a Ucrânia agora é um país refém do regime liderado, na verdade, pelas mentes ocidentais, sobretudo dos Estados Unidos e do Reino Unido."

Segundo a cônsul, a Rússia tenta "o tempo todo" reverter a pressão que o país sofre, com todas as políticas antirrussas e com toda a russofobia que isso instala.
Por outro lado, a medida denota que Moscou também detém poderes estratégicos e que vai fazer uso deles.

"É uma forma de deixar claro que é impossível lutar contra a Rússia."

Impactos de curto a longo prazo

A cônsul afirma que as implicações da decisão, no curto prazo, causam reflexão e levantam discussões e receios. "Mas é para que isso possa realmente provocar algum tipo de mudança no cenário atual", emenda.
Ela também enfatiza que a Rússia tenta as negociações para instalar uma paz novamente e vai no sentido oposto aos desejos dos Estados Unidos.
A professora indica ainda que Putin disse durante o discurso que os Estados Unidos sempre falaram uma coisa, mas na verdade praticam outra, "quando eles próprios estão promovendo essa escalada do conflito".
Em sua análise, os reflexos de médio e longo prazo dependerão da reação no curto prazo.
Ou seja: tudo vai depender de como o Ocidente vai responder a essa suspensão e se a escalada do conflito prosseguirá.

"Ou se vamos finalmente começar a assistir a uma desescalada. Pode ser benéfico para uma volta das negociações e um caminho para a solução do conflito."

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Enham adverte, no entanto, que o conflito ucraniano pode escalar ainda mais, caso o Ocidente assim queira.
Nessa toada, avalia, é pior, "porque aí vem o temido uso das armas nucleares".

"A Rússia já deixou muito claro, e Putin também falou isso no seu discurso, que pode e deve usar as suas armas, ela tem condições para isso. E vai, se os Estados Unidos quiserem primeiro. Então, se o Ocidente fizer qualquer ataque, qualquer uso, tomar qualquer iniciativa nesse sentido, a Rússia responderá. A medida de hoje foi para que isso se evite", sinaliza.

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A Rússia, portanto, dá o passo dessa suspensão agora para "desescalar tudo isso que está acontecendo".

"Putin deixou muito claro que não promoveu a escalada do conflito, que a intenção é também reinstalar a paz e reordenar toda a região, inclusive. Falou sobre a reconstrução, sobre tudo isso. Mas para isso é necessário que OTAN e Estados Unidos saiam da Ucrânia. Então o objetivo dessa suspensão é forçar esse tipo de situação agora. E o médio, longo prazo vai depender de como o Ocidente vai reagir nesse curto prazo."

A professora conclui apontando que Putin deixou muito claro ao longo do discurso que a aliança militar capitaneada pelos EUA está manipulando a Ucrânia para atender aos interesses de seus países-membros.
"[Putin disse que] desde 2001, inclusive, já morreram mais de 900 mil pessoas em guerras provocadas pelos Estados Unidos mundo afora, e que não se pode esquecer disso. Que o mundo precisa sempre relembrar isso e que a Rússia não vai esquecer disso."
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