Em oito meses de gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para 19 países diferentes. O trabalho na política externa sempre foi priorizado em seus outros dois mandatos, mas neste terceiro ganhou ainda mais impulso após o governo anterior ter isolado o país internacionalmente com declarações e ações polêmicas.
Entretanto, a convivência na intensa rotina de integrantes do governo Lula tem gerado episódios de insatisfação entre a ala política e os servidores de carreira do Itamaraty. O problema, discutido nos bastidores do Planalto, foi levado ao presidente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o jornal O Globo.
O ministro teria reclamado com Lula durante o voo entre a África do Sul e Angola, no dia 24 de agosto, que não tem tido compromissos relevantes nas viagens que faz com a delegação presidencial e que na África, por exemplo, "fez apenas figuração", e sendo assim, teria sido mais útil ficar em Brasília para tocar as agendas de interesse de seu ministério.
Segundo a mídia, na África do Sul, os compromissos de Haddad foram todos relacionados ao BRICS, a maior parte deles como acompanhante do presidente. Apenas no primeiro dia da viagem é que houve um encontro bilateral com o ministro do Comércio e Indústria da África do Sul, Ebrahim Patel.
Diante da reclamação, o jornal afirma que Lula "imediatamente chamou o embaixador Fernando Igreja, chefe do cerimonial da Presidência, e cobrou que fossem tomadas providências em relação às queixas de Haddad.
Ainda no voo e sem ter chegado a Luanda, foi decidido, então, que o ministro comandaria uma reunião com um grupo de 18 empresários que pediam a volta dos financiamentos do governo brasileiro a obras em Angola.
Mas, além das críticas à falta de empenho do Itamaraty para marcar compromissos relevantes para ministros em viagens, outro mal-estar está em curso: a rivalidade nos bastidores entre integrantes do Ministério das Relações Exteriores e da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais, comandada por Celso Amorim.
A disputa envolve até espaço nas viagens presidenciais. Membros da equipe de Amorim, segundo relatos de assessores do Planalto, se queixam de serem preteridos em detrimento dos diplomatas de carreira, escreve O Globo.
Há um incômodo também entre diplomatas sobre o protagonismo de Amorim na política externa que estaria ofuscando a coordenação da pasta feita por Mauro Vieira.
Amorim foi ministro das Relações Exteriores nos dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010) e em parte do governo Itamar Franco (1992-1994), e até hoje é procurado para entrevistas pela imprensa internacional e se senta ao lado de Lula em quase todas as reuniões no exterior.
No entanto, apesar da tensão entre as equipes, a avaliação é que a relação direta entre o chefe da assessoria especial e o ministro é boa, sem conflitos. Vieira foi chefe de gabinete no período em que Amorim era chanceler no governo Lula.
Questionado sobre as tensões entre sua equipe e a do Itamaraty, Celso Amorim negou o mal-estar e disse que "eu e o Mauro temos harmonia perfeita e plena consciência dos nossos respectivos papéis".