Isso é o que pensa o professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Gonçalves destaca o tratado de amizade ilimitada entre as duas nações, mencionado por Putin, como elemento central na reconfiguração das relações internacionais, desafiando a hegemonia americana.
"Rússia e China, comprometidas com o BRICS, estão empenhadas em alterar a ordem internacional, promovendo uma abordagem mais democrática e respeitando o direito de soberania dos Estados", diz o professor.
Ao abordar as motivações por trás das ações dos EUA, ele cita as preocupações da elite norte-americana em manter sua preponderância global.
O professor argumenta que o complexo militar-industrial dos EUA se opõe a qualquer mudança na ordem internacional que possa ameaçar seus interesses econômicos e estratégicos. "Os EUA não se conformam em perder a primazia", citando também a resistência estadunidense às mudanças propostas pelo BRICS.
Sobre a resistência da economia russa às pressões do Ocidente, Gonçalves destaca a falha das tentativas ocidentais de isolar a Rússia.
Ele aponta para o fortalecimento das relações econômicas entre Rússia, China, Índia e países africanos como uma resposta à estratégia de boicote liderada pelos EUA. "A economia russa não apenas resistiu, mas também cresceu", analisa.
Sobre a situação na Ucrânia e os acordos de Minsk, Gonçalves endossa as críticas de Putin à postura do governo ucraniano, de que o regime de Kiev não está propenso a negociar um tratado de paz.
Ele atribui a responsabilidade pela frustração das negociatas principalmente às ações de Kiev, que busca sabotar a aproximação dos russos de Donbass com a Rússia. "O presidente Putin tem toda a razão ao atribuir a responsabilidade à Ucrânia."
Quanto à possibilidade de uma nova ordem internacional, Gonçalves enfatiza a necessidade de os países ocidentais se adaptarem a essa realidade emergente.
Ele argumenta que uma ordem democrática e soberana, como a proposta pelo BRICS, representa uma evolução inevitável. "Uma nova ordem internacional democrática deve beneficiar exatamente a todos."
Por fim, Gonçalves critica o apoio militar dos EUA à Ucrânia, destacando os interesses estratégicos por trás dessa intervenção, e relaciona a assistência a Kiev com a ajuda militar a Taiwan, na esperança de Washington de tentar desestabilizar os chineses.
Ele argumenta que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos EUA, instrumentalizou a Ucrânia como parte de sua estratégia para conter a influência russa na Eurásia, sacrificando os interesses genuínos do povo ucraniano em prol de uma agenda geopolítica. "Os EUA têm um interesse direto, geoestratégico e econômico."