Panorama internacional

Cão que ladra não morde: o que está por trás das bravatas diplomáticas de Milei?

Mesmo após eleito, o presidente da Argentina, Javier Milei, não diminuiu o número de ataques diplomáticos a líderes de esquerda ao redor do mundo, e, assim como durante a corrida eleitoral, sua equipe diplomática, liderada por Diana Mondino, correu para apaziguar os ânimos dos países afetados.
Sputnik
Por que Javier Milei ainda continua com os ataques? O que a Argentina, enquanto país, tem a ganhar? Essas questões foram abordadas pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.
No último domingo (31), os breves conflitos diplomáticos entre a Argentina e a Colômbia, e a Argentina e o México chegaram ao fim com o restabelecimento das relações diplomáticas, no primeiro caso; e uma conversa entre as chanceleres argentina, Diana Mondino, e mexicana, Alicia Bárcena.
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As crises foram deflagradas por comentários de Milei contra o presidente colombiano, Gustavo Petro. Feitos à CNN, Milei chamou seu homólogo de "assassino terrorista" — no passado, Petro foi integrante do Movimento 19 de Abril (M-19), guerrilha hoje extinta.
Seu histórico teria sido, inclusive, um dos motivos de sua eleição à presidência do país, que busca um cessar-fogo com os guerrilheiros, afirmou ao podcast Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A situação escalou a um ponto em que Petro expulsou os diplomatas argentinos do país, e Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, demonstrou apoio ao colombiano. No fim, a chancelaria liderada por Diana Mondino teve um papel fundamental na normalização dos laços diplomáticos entre os países.

"Certamente não é adequado um país ficar acusando ou apontando o dedo sobre as políticas domésticas do outro país. Aliás, isso [não acusar ou apontar o dedo] faz parte da política externa brasileira, o que a gente chama de não ingerência."

Para o escritor e cientista político Paulo Velasco, esse clima de deterioração nas relações não interessa à região.

"Péssimo para a integração sul-americana", diz o especialista sobre o comportamento de Milei.

A Argentina e a Colômbia estão em segundo e terceiro lugar em termos econômicos e de população da América do Sul, lembrou Velasco.
"A Argentina é a segunda maior economia, a Colômbia é a terceira. E a Colômbia é a segunda maior população, enquanto a Argentina é a terceira. Então são dois atores importantes."
Essa busca por tensões ora com a Colômbia, ora com o México e até mesmo com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, diz Velasco, demonstra que Milei parece colocar todos os líderes de esquerda da América Latina "no mesmo saco".

"De alguma maneira o Milei se coloca como um porta-voz dos críticos mais ácidos à esquerda latino-americana […]. E aí pouco importa se é o Lula, se é o López Obrador, se é o Gabriel Boric [presidente do Chile], se é o Gustavo Petro."

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Por que Milei segue com as farpas?

As acusações a outros líderes latino-americanos e mundiais foram bem comuns durante a campanha eleitoral de Milei. No entanto, após sua eleição, era esperado que esses comentários cessassem. Mas não foi o que aconteceu.
O mais recente imbróglio diplomático evidenciou a permanência da personalidade "histriônica" de Milei. "Ele é dado a histrionismos, dado a excessos, a falas mais duras, menos ponderadas e menos refletidas", disse Velasco. "Mas eu acho que há um quê também de personagem."
Com essa persona, explicita Velasco, "ele acaba ficando um personagem sedutor do ponto de vista político, apoiando ou sendo apoiado por essa tal nova política, que é um conceito também em si muito controverso".
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Para Bressan, as atitudes de Milei podem servir ainda como uma tentativa de manter sua popularidade em meio a fracassos iniciais em seu governo. "Desde a sua posse, em dezembro de 2023, [Milei] tentou fazer mudanças importantes na Constituição."
Foi o caso da chamada Lei de Bases (ou Lei Omnibus) e do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), ambos rejeitados pelo Parlamento argentino.
"Ele vem encontrando dificuldade de aprovar tais medidas, tais reformas, e a população continua fazendo manifestações contrárias a essas propostas."
Apesar dos resultados negativos dos primeiros meses, há um grande contingente de pessoas que apoiam o governo Milei. É dessa forma, explicam os analistas, que as bravatas de Milei podem ser uma manobra de conquista do eleitorado "muito descrente da política, dos políticos e da própria democracia", alerta Bressan.
"Eu acho que os argentinos, desesperados e em esperança, optaram talvez pelo caminho mais estranho e inconsequente", disse Velasco.

"Qual é o objetivo que eu vejo? É angariar apoio interno […]. Milei vem tentando obter apoio das classes mais à direita, mais conservadoras."

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