"Não vejo uma relação muito direta, muito linear entre ser membro do BRICS e ganhar alguma coisa em troca. Porque o BRICS não é uma organização internacional com tratado constitutivo, com código de conduta preestabelecido para que os países se comportem de determinado jeito e, com isso, tenham alguma recompensa, ganho mais direto", opinou Rinaldi.
"O BRICS não é um bloco de harmonização de práticas legislativas, de práticas comerciais. Inclusive é difícil utilizar esse termo, 'bloco', porque ele não pretende ser uma estrutura monolítica que cria uma autoridade acima dos governos", comentou.
"Do ponto de vista político-diplomático, há ganho bastante interessante para a política externa brasileira. Destacaria também a questão do status internacional. Ao mesmo tempo o Brasil consegue se utilizar do arranjo para estabelecer algumas parcerias, laços políticos com os demais países, de modo a fortalecer, ou pelo menos aumentar, a voz do Brasil nas suas demandas internacionais", comentou.
"Abre mais um canal de aproximação comercial que pode facilitar o estabelecimento de parcerias de cooperação de ajuda e de comércio. Os principais parceiros comerciais [do Brasil] justamente estão no BRICS", lembrou.
O banco do BRICS
"O BRICS tem assumido um protagonismo bastante importante nos últimos anos e, em certa medida, tem servido bem aos interesses dos países, porque continuam dando atenção ao arranjo, se reunindo regularmente; os chefes de Estado, nenhum deles falta às reuniões, seja on-line, por conta da pandemia, seja presencial", ponderou Rinaldi.
"Ou seja, empresas russas, chinesas, sul-africanas, indianas, brasileiras entrando nesses mercados sem fazer triangulação com empresas americanas ou europeias", ressaltou Blum.
Argentina fora do BRICS e entrada de novos parceiros
"Como a Argentina decidiu não entrar, o Brasil pode usar disso como um trunfo na hora de negociar com os demais membros do BRICS. […] um outro ponto tem a ver com o dilema da ação coletiva mesmo, no sentido de que quanto mais gente você coloca, mais difícil fica encontrar pontos comuns e uma linguagem comum", frisou ele.
"O BRICS não é um bloco comercial, é um arranjo político, mas que cria oportunidades de laços econômicos. Nesse sentido, as empresas podem muito bem se beneficiar desses laços econômicos desses intercâmbios", ressaltou Rinaldi.
"O fato de o Irã estar agora no BRICS, por exemplo, é algo vantajoso para o Brasil para negociar pautas de energia nuclear. Abrem-se possibilidades […], a participação da Arábia Saudita significa a potencialidade de mais mercados em razão do processo de descarbonização que está se tentando levar a cabo, sobretudo na União Europeia", elencou ele.
"Isso significa mais acesso à informação, verificação de outros sistemas, que não só o GPS americano […]. Trata-se de uma tentativa de não depender tanto de determinados centros específicos do sistema internacional, sobretudo dos Estados Unidos", concluiu o especialista.