A próxima conferência no resort Burgenstock, na Suíça, considerada pelos seus organizadores um evento para promover o processo de paz na Ucrânia, será definitivamente tudo menos uma cúpula de paz, afirma o deputado suíço e antigo diretor-executivo do Clube de Imprensa de Genebra, Guy Mettan.
"A rejeição deliberada da Rússia está agora comprometendo o sucesso da reunião e a se voltar contra os seus organizadores", disse Mettan à Sputnik, salientando que a Rússia não foi convidada a participar da conferência. "Ciente deste problema, a narrativa oficial suíça tenta agora afirmar que a Rússia não queria participar e que a sua ausência resultou da sua própria decisão, o que é falso e não enganará ninguém fora do Ocidente coletivo."
Segundo Mettan, os países do Sul Global podem acabar por enviar os seus representantes para este encontro, embora provavelmente enviem "participantes de nível médio sem poder de decisão, para evitar serem acusados de serem 'contra a paz' ou de 'boicotar o Ocidente'".
"Para o Sul Global, as questões atuais são: por que deveria participar de uma cúpula que já não é uma cúpula, que não está focada na paz devido ao não convite à Rússia, e que será certamente um fracasso?", questionou ele.
Mettan também argumenta que Zelensky se opõe de fato ao "processo de negociação real", uma vez que assinou um decreto que proíbe quaisquer conversações de paz com a Rússia e com a sua chamada fórmula de paz que apela essencialmente à capitulação de Moscou.
"Ele é o primeiro obstáculo a qualquer negociação de paz. Se ele vier para a Suíça, será para receber o suporte dos seus apoiadores ocidentais e para obter mais ajuda para a guerra. Não pela paz", comenta Mettan.
O legislador sugere que o apoio ocidental ao governo de Zelensky, que visa enfraquecer a Rússia, pode persistir até as eleições presidenciais dos EUA em novembro, mas depois, os fracassos da estratégia podem se tornar mais evidentes nos domínios militar, econômico, financeiro e político.
Entretanto, parece que a cúpula em questão foi desprezada por muitos dos potenciais participantes devido à "abordagem irrealista" adotada pelos organizadores do evento, afirma Paolo Raffone, analista estratégico e diretor da Fundação CIPI em Bruxelas.
Durante entrevista à Sputnik, Raffone destaca que não só a Rússia não foi convidada para a cúpula, mas a própria conferência visa promover a chamada "fórmula de paz" de Zelensky, um esquema que inclui a exigência de que a Rússia ceda uma parte do seu território para a Ucrânia como condição prévia para pôr fim ao conflito ucraniano.
"Essa abordagem irrealista é a razão pela qual muitos convidados não comparecerão. Os países que optaram por não participar estão cientes de que um diálogo na ausência da Rússia não representa 'os legítimos interesses das partes'", explica. "Além disso, nenhuma conversação de paz será bem financiada se não for baseada na realidade. Quaisquer conversações de paz significativas implicam que o governo ucraniano deve reconhecer as 'novas realidades territoriais'."
"Os líderes mundiais estão cientes de que qualquer resolução para a guerra na Ucrânia só poderá encontrar um acordo entre as potências mundiais reais que sustentam os acontecimentos, especialmente a Rússia e os EUA", acrescenta o especialista. "Embora os contatos e conversações nos bastidores prossigam, a maioria dos líderes mundiais acredita que ainda não é o momento para 'conversações de paz' e que, em qualquer caso, o ponto de partida não pode ser outro senão o documento redigido e maioritariamente acordado na Turquia, em março de 2022."
O analista observou também que a implementação do plano de Zelensky seria impossível sem a "intervenção militar direta dos países ocidentais", e que já se tornou claro que "nenhum dos países ocidentais enviará oficialmente tropas para lutar na Ucrânia contra a Rússia", concluiu.