Os representantes chineses ofereceram garantias depois dos seus interlocutores norte-americanos terem manifestado preocupações de que a China pudesse usar, ou ameaçar usar, armas nucleares se enfrentasse a derrota em um conflito sobre Taiwan, relataram dois delegados estadunidenses que compareceram às reuniões.
"Eles disseram ao lado dos EUA que estavam absolutamente convencidos de que seriam capazes de vencer uma luta convencional sobre Taiwan sem usar armas nucleares", disse o estudioso David Santoro, organizador norte-americano dos diálogos Track Two, cujos detalhes foram divulgados pela Reuters pela primeira vez.
Washington foi representado por cerca de meia dúzia de delegados, incluindo ex-funcionários e acadêmicos, nas discussões de dois dias, que aconteceram na sala de conferências de um hotel em Xangai em março, mas foram reveladas agora.
Do lado chinês, Pequim enviou uma delegação de acadêmicos e analistas, que incluía antigos oficiais do Exército de Libertação Popular (ELP).
No entanto, tais discussões não podem substituir negociações formais "que exigem aos participantes falarem com autoridade sobre questões que são frequentemente altamente compartimentadas nos círculos governamentais [chineses]", disse um porta-voz do Departametno do Estado dos EUA, à mídia.
O Pentágono, que estima que o arsenal nuclear de Pequim aumentou mais de 20% entre 2021 e 2023, disse em outubro passado que a China "também consideraria o uso nuclear para restaurar a dissuasão se uma derrota militar convencional em Taiwan", relembra a agência.
A China nunca renunciou ao uso da força para colocar Taiwan sob o seu controle e, nos últimos quatro anos, intensificou a atividade militar em torno da ilha.
Pequim vê Taiwan como uma província renegada que pertence por direito à China no âmbito da política de Uma Só China. A ilha autogovernada não declarou formalmente sua independência, mas afirma já ser, mantendo laços próximos a países ocidentais, principalmente os EUA.
O Departamento de Defesa dos EUA estimou, no ano passado, que Pequim tem 500 ogivas nucleares operacionais e provavelmente colocará em campo mais de 1.000 até 2030.
Isso se compara a 1.770 e 1.710 ogivas operacionais implantadas pelos EUA e pela Rússia, respectivamente. O Pentágono disse que, até 2030, muitas das armas de Pequim provavelmente serão mantidas em níveis de prontidão mais elevados.
Santoro, que dirige o grupo de reflexão Fórum do Pacífico, com sede no Havai, descreveu "frustrações" de ambos os lados durante as últimas discussões, mas disse que as duas delegações viam motivos para continuar a conversar. Mais discussões estavam sendo planejadas em 2025, afirmou Santoro.