Panorama internacional

Ataque a população civil é resposta ucraniana a fracassos na linha de frente, diz analista

A Ucrânia está recorrendo a ataques contra a população civil como forma de contornar seus problemas na linha de frente do conflito com a Rússia, como a dificuldade no recrutamento de novas tropas, afirma uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil.
Sputnik
No último domingo (24), a Ucrânia realizou um ataque de mísseis ATACMS contra a população civil de Sevastopol, maior cidade da república autônoma russa da Crimeia. Ao todo, quatro pessoas morreram no ataque, incluindo duas crianças, e outras 151 ficaram feridas.
Ataques terroristas desse tipo não são novidade no conflito ucraniano. Frequentemente, o Ministério da Defesa russo informa sobre abates de mísseis ATACMS.
No entanto, o regime de Vladimir Zelensky foi encorajado nas últimas semanas a atacar mais profundamente os territórios russos com as permissões de países líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França e a Alemanha.
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Segundo Larissa Souza, mestre em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI-UERJ), o recente ataque ucraniano à população civil revela certo desespero por parte dos líderes militares de Kiev frente ao fracasso de recrutamento. "A Ucrânia tentando de qualquer jeito dar uma resposta."

"Eles têm esses problemas com o contingente militar, [] problemas para recrutar. Então acaba que esses drones, esses mísseis, são uma saída para atacar sem necessariamente usar tanta força militar, no sentido mais braçal, de enviar homens."

Souza, que também é pesquisadora voluntária do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval (EGN), afirma ainda que é difícil negar que o ataque tenha tido participação estadunidense. "Sozinha, a Ucrânia não conseguiria controlar esses mísseis táticos."
No caso desses mísseis balísticos táticos, como o norte-americano ATACMS e o Storm Shadow franco-britânico, o operador não consegue determinar sozinho onde atacar. Pelo contrário, ele recebe esses dados de seus superiores e apenas os coloca no armamento.
Ou seja, os dados do ataque são fornecidos pela inteligência dos países provedores dos mísseis, sendo obtidos por meio de observações de satélite ou drones. Nesse caso, um RQ-4B Global Hawk da Força Aérea dos EUA sobrevoou a região próxima de Sevastopol previamente ao ataque.
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Zona-tampão protegeria os civis

Proposta pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, a criação de uma zona-tampão — área desmilitarizada na qual as peças de artilharia inimigas não conseguiriam atingir a população do outro lado — seria uma "ótima" ideia, ajudando a proteger as vidas civis, destaca Souza.
O presidente russo também destacou, em entrevista coletiva, que a entrega de mísseis capazes de atingir o território russo era uma clara escalada no conflito, e que a Rússia poderia fazer o mesmo nos territórios de seus aliados próximos aos países da OTAN.
Após o ataque terrorista, o Kremlin anunciou que haverá retaliação, mas ainda é cedo para dizer de que forma será feita, diz Souza. "Uma resposta com certeza deve ter, mas de que tipo, se vai ser com os mesmos tipos de mísseis, se vai ser colocando mais armamentos perto das fronteiras, teremos que esperar um pouco."
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Qual a importância da Crimeia?

Há séculos a península da Crimeia faz parte da Rússia, até quando, na época da União Soviética, foi transferida para a Ucrânia por Nikita Kruschev, em ato simbólico para demonstrar a amizade entre os dois povos dentro da URSS. Em 2014, no entanto, a maioria esmagadora da população local, de origem russa, votou pela reintegração da república à Rússia em um referendo realizado na região.

"Não é uma importância que surge em 2014 ou agora. Na verdade, tem todo um contexto histórico por trás da Crimeia."

Militarmente, a localidade tem grande destaque regional por sua posição. "É uma saída para mar quente", diz Souza, além de ser um ponto importante para as Forças Armadas dos dois países, que possuem frotas no mar Negro.
Culturalmente, sua presença está no imaginário russo desde antes de sua conquista em 1783 por Catarina, a Grande, e a defesa da península na Guerra da Crimeia. É dito que São Vladimir teria se batizado nas águas da Crimeia. O santo da Igreja Ortodoxa foi um grande monarca da região, convertendo-se ao Cristianismo em 988 e ajudando na cristianização da Rússia de Kiev (862–1242), ancestral cultural de ambos os países em conflito.
Os russos, resume Souza, têm ligações "religiosa, histórica, linguística e militar" com a Crimeia, fazendo com que as movimentações de 2013 e 2014 — as revoluções coloridas realizadas pelo Ocidente na Ucrânia — criassem uma "importância ainda maior da Crimeia".
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