Um comício eleitoral realizado pelo
ex-presidente Donald Trump na Pensilvânia ganhou a atenção de todo o mundo após o republicano sofrer um atentado
provocado por um atirador de 20 anos. Entre as poucas informações divulgadas sobre o caso, as autoridades norte-americanas informaram que o jovem estava posicionado a cerca de 135 metros de distância do local quando realizou os disparos e foi abatido segundos depois. O incidente já abriu uma crise no país, com o FBI chegando a classificar como "surpreendente" o fato de o
Serviço Secreto dos Estados Unidos não ter agido antes dos disparos.
Mas episódios como esse não são raros em território norte-americano. Pelo contrário. E intensificam ainda mais os temores no país sobre o
aumento da violência política já tão arraigada na sociedade do país. Na história dos EUA, quatro presidentes foram mortos em ataques, sendo o caso mais emblemático em 1963,
quando John F. Kennedy foi assassinado por Lee Harvey Oswald, morto brutalmente na sequência.
O professor de história e pesquisador do Núcleo das Américas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) João Cláudio Pitillo pontuou à Sputnik Brasil que o caso até hoje "é uma página que ainda não foi virada" nos EUA e parece se repetir.
Para o especialista, é
mais um episódio de um "lobo solitário atacando um ex-presidente" do país. "Isso tem se tornado uma constante e precisa ser investigado se é parte de uma conspiração maior ou algo interno e menor. São muitas dúvidas", acrescenta.
Horas após o atentado na Pensilvânia, o presidente Joe Biden, que tenta se manter na
campanha à reeleição mesmo após episódios constantes que colocam em xeque a saúde mental do democrata, repudiou a violência registrada durante o comício do rival, mas evitou falar em "tentativa de homicídio" antes de ter todos os fatos na mesa.
Neste domingo (14), o democrata se reuniu com o Serviço Secreto norte-americano e em mais uma fala curta pediu união à população do país. O pesquisador da UERJ acredita que o impacto será enorme nas eleições dos EUA "por vários motivos".
O ataque contra o ex-presidente também ocorreu a menos de dois dias das convenções republicanas que devem
selar o nome de Trump na corrida eleitoral. A plataforma Polymarket, que permite a realização de apostas sobre eventos mundiais, indicou que a
probabilidade de o político vencer a disputa chegou a 70%. Antes do atentado, o índice estava em torno de 60%.
"O atentado vai ser usado pelos republicanos para ampliar o seu espectro eleitoral. Isso vai impulsionar, com certeza, muitos republicanos que pudessem estar em dúvidas ou até mesmo desmotivados, eles vão às urnas, com certeza. Isso reafirma o nome de Trump diante do seu eleitorado como uma pessoa que, em tese, está ameaçando algum poder e que precisa ser eliminado por isso. Então é emblemático", analisa Pitillo.
Apesar disso, o especialista lembra que as eleições não estão tão próximas e há possibilidade de que os efeitos do caso sejam atenuados.
"Isso pode influenciar muito [ou não] as urnas e os democratas já enfrentam problemas com o nome do Biden, que terá um desafio maior de neutralizar o impacto eleitoral [...]. Agora, repito, é importante que as investigações avancem. É lamentável que o atirador tenha sido morto, porque ele vivo poderia fornecer bastante informações do motivo desse ato bárbaro", sublinha.
A professora do programa militar da Universidade de Abu Dhabi, Isabela Gama, acrescentou à Sputnik Brasil que o atentado contra Trump pode
polarizar ainda mais o já dividido país e até provocar ondas de violência.
"Acredito que pode ter um impacto muito negativo, inclusive de violência física. Eu acredito que especialmente durante as eleições há possibilidade de ocorrer inclusive confrontos entre republicanos e democratas nas ruas", afirma.
Além disso, a especialista enfatiza que a figura de Trump é sempre rodeada por "teorias conspiratórias", o que deve crescer ainda mais nos próximos meses. "O Trump vai se utilizar muito disso, ainda mais diante do Biden, criticado não só pela mídia norte-americana, mas a mídia internacional, além de focar em situações em que o democrata parece estar debilitado para ser presidente mais uma vez".
Outra situação que chama atenção é a reação de Trump imediatamente após ser
atingido pelos estilhaços, que provocaram um forte sangramento na orelha, e, segundo Gama, vai gerar reações.
"O gesto que ele usou depois de ter sido baleado foi de levantar o punho e gritar 'lute, lute, lute'. Isso realmente afeta muito a mente do eleitorado [...]. O vídeo do atentado e a repercussão têm sido muito grandes. Do momento em que aconteceu até agora, em todos os noticiários, em todos os lugares, nós encontramos diversas análises com relação ao que aconteceu, como aconteceu, por que aconteceu", diz.