Qual o objetivo do Hezbollah?
"O Hezbollah, de alguma forma, tem também toda uma rede de assistência social e diversas outras camadas, para além de ser um braço armado e um partido eleitoral. Possui um enraizamento na sociedade libanesa. Isso, de uma forma, é herança de uma tradição da irmandade muçulmana egípcia, que é um pouco o passado de vários desses movimentos em educação, saúde, alimentação, em prover o mínimo de dignidade para os irmãos islâmicos", acrescenta.
"Esses grupos têm formas de organização semelhantes, são grupos políticos com braços armados e braços sociais. Normalmente têm uma vinculação e participam da política institucional dos seus países. Mas o Hamas, até outubro, era a instituição governante da Faixa de Gaza, participava da política institucional palestina. Então é um pouco isso que os une. O Irã, obviamente, é o ator mais poderoso do chamado Eixo da Resistência. É o ator que, muitas vezes, fornece inteligência, armas e outros suprimentos para os seus aliados. Mas a gente não pode reduzi-los a simplesmente um próximo, que age a partir do interesse iraniano", diz.
O que é o Hamas e qual seu objetivo?
"O que acontecia até então era uma ampliação da normalização das relações de Israel no Oriente Médio, com atores importantes, como Emirados Árabes, Bahrein, Marrocos e Sudão, mas sem a resolução da questão palestina. Esse era o caminho que o Oriente Médio estava trilhando, com uma união dos atores em oposição ao Irã. A discussão que se tinha até outubro do ano passado era a formação de uma OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] do Oriente Médio, que era o objetivo dos americanos", argumenta.
De Eixo do Mal ao Eixo da Resistência
"Um jornal da Líbia na época, em resposta, dizia que a afirmação do Bush era, na verdade, sobre um Eixo da Resistência [contra a hegemonia norte-americana]. Essa nova nomenclatura trouxe outra ótica para esses atores políticos para desconstruir essa ideia de bem contra o mal. O termo ficou mais popularizado e foi incorporado inclusive nos jornais ocidentais, porque em grande medida se tornou uma explicação menos enviesada", pontua.
"Esse é um ponto importante, que às vezes aqui, da nossa perspectiva ocidental ou ocidentalizada, a gente tende a conectar tudo numa mesma caixa", afirma.