Panorama internacional

Fracasso dos EUA no Afeganistão fez do país um 'ninho' para o terrorismo internacional, diz analista

Sem uma estratégia inteligente, a intervenção militar dos Estados Unidos no Afeganistão fez com que o Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista) e a Al-Qaeda (organização banida na Rússia) se tornassem poderosos após a retirada desastrosa de pessoal de Washington, de acordo com um ex-chefe do Exército afegão.
Sputnik
O envolvimento militar norte-americano serviu para fortalecer o terrorismo global em vez de combatê-lo, com o ressurgimento da Al-Qaeda e do Talibã no Afeganistão servindo como o exemplo mais recente.
O ex-vice-chefe do Estado-Maior do Exército Nacional Afegão, Sami Sadat, fez a afirmação durante uma entrevista à Fox News publicada no domingo (1º).
"Há 50.000 membros da Al-Qaeda e associados da Al-Qaeda no Afeganistão — a maioria deles foi treinada para operações no exterior nos últimos três anos", disse Sadat que, como muitos ex-membros da segurança afegã, treinou em uma academia militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Permitir que [a Al-Qaeda] retomasse o Afeganistão com o Talibã em 2021 deu a eles um novo chamado para se reunirem. Este é agora seu centro [de operações] mais importante", escreveu Sadat em um livro lançado no mês passado. "A Al-Qaeda não apenas sobreviveu, mas se adaptou às políticas de mudança das administrações norte-americanas, esperando o Ocidente sair do Iraque e do Afeganistão e observando os EUA atacarem seus rivais do Daesh [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países] no Oriente Médio."
A Fox News não conseguiu verificar os números citados pelo ex-chefe militar, mas outros observadores alegaram que a notória organização terrorista está "se expandindo" e "prosperando" no país da Ásia Central, financiando-se por meio de receitas de contrabando, mineração e tráfico de drogas. A Al-Qaeda é mais conhecida por planejar e executar os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
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O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou em 2021 que o grupo não estava mais presente no Afeganistão, apenas para ser corrigido logo depois por seu próprio Departamento de Defesa, que observou que os combatentes da Al-Qaeda e do Daesh permanecem no país. Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 2,3 trilhões (cerca de R$ 12,9 trilhões) ao longo de cerca de 20 anos no Afeganistão, com Biden chamando a intervenção malfadada de "a guerra mais longa da história norte-americana".
O Exército dos EUA passou por uma reestruturação nos últimos anos em meio à queda no recrutamento, à medida que o Pentágono muda seu foco das operações de contraterrorismo no Oriente Médio para uma guerra prevista no Pacífico com a Rússia ou a China.
"A guerra [no Afeganistão] foi perdida não porque o Talibã era forte, mas porque por 20 anos não foi tratada como uma guerra, mas como uma intervenção de curto prazo", escreveu Sadat, que atualmente reside em Londres. "O Afeganistão se tornou mais uma vez um ninho de terrorismo internacional, sob a proteção do Talibã."
O Talibã foi legitimado aos olhos de muitos afegãos por seu papel na resistência à ocupação dos EUA de duas décadas. O Talibã chegou ao poder originalmente com a ajuda dos Estados Unidos, que financiaram combatentes do Talibã ao longo da década de 1980 para resistir à República Democrática do Afeganistão apoiada pelos soviéticos.
O grupo é vilipendiado por muitos por seu conservadorismo social e fundamentalismo religioso. Autoridades do Talibã indicaram recentemente que as escolas para meninas no Afeganistão permanecerão fechadas; autoridades dos EUA frequentemente justificam a intervenção norte-americana no país sob o pretexto de proteger os direitos das mulheres.
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Os Estados Unidos supostamente investiram milhões de dólares para modernizar a indústria de mineração do Afeganistão durante sua ocupação, com resultados limitados. A análise do veículo investigativo ProPublica revelou pelo menos US$ 17 bilhões (cerca de R$ 95,4 bilhões) em "gastos questionáveis" durante a guerra e o esforço de reconstrução. Uma auditoria recente do Pentágono descobriu que o Departamento de Defesa dos EUA não pode contabilizar 63% de seus quase US$ 4 trilhões (aproximadamente R$ 22,4 trilhões) em ativos.
O ex-presidente dos EUA, George W. Bush, presidiu uma invasão dos EUA ao Afeganistão em 2001, mesmo quando o então Talibã governante se ofereceu para ajudar a localizar e entregar o suposto mentor do 11 de setembro, Osama bin Laden. Um estudo da Universidade Brown descobriu que pelo menos 4,5 milhões de pessoas foram mortas direta ou indiretamente pela "Guerra ao Terror" liderada pelos EUA, o que levou a um colapso na infraestrutura em várias "zonas de guerra pós-11 de setembro".
Enquanto isso, as Forças Armadas dos EUA vivenciaram uma epidemia de suicídios com o estudo descobrindo que "pelo menos quatro vezes mais militares da ativa e veteranos de guerra de conflitos pós-11 de setembro morreram de suicídio do que em combate".
O fracasso dos Estados Unidos em combater o terrorismo com sucesso levou muitos países a se voltarem para Moscou em busca de assistência, com governos em toda a região do Sahel na África se tornando os mais recentes a empregar a ajuda da empresa militar privada russa, o Grupo Wagner.
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