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Potencial bomba atômica sul-coreana 'demarcaria linha divisória intransponível' entre as Coreias

Os recentes conflitos ao redor do planeta vêm produzindo "tensões sem precedentes" no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), criado em 1968 para limitar o desenvolvimento do arsenal atômico mundial, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Sputnik
Essas tensões incluem a Coreia do Sul, que recentemente tem tido cada vez mais adeptos entre a população ao desenvolvimento de armas atômicas.
O país já desenvolve tecnologia nuclear de ponta, como reatores de fusão nuclear, mas é um dos signatários do TNP desde 1975. Entretanto o atual presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, anunciou recentemente que um programa de armas nucleares pode ser necessário para conter a ameaça da Coreia do Norte, que já possui bomba atômica.
Por ora, a guerra entre os dois países tem sido de balões carregados de lixo, mas uma eventual bomba atômica em ambas as nações teria consequências extremamente negativas para a península coreana, de acordo com o presidente do Centro de Estudos da Política Songun – Brasil e graduando em energia nuclear na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lucas Rubio, e a especialista em estudos brasileiros pela Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros e doutoranda em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) Eunjae Kim.
Em entrevista para o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, eles citaram como um dos motivos para a maior aceitação da sociedade sul-coreana à nuclearização do país a perda de confiança no antigo aliado, os EUA.

"Existe certo temor por parte dos sul-coreanos de que em uma situação de guerra na península coreana os Estados Unidos não sejam suficientes ou capazes de responder à altura, ou no momento oportuno. Ou de que a Coreia do Norte, que é detentora de armas nucleares e termonucleares, ocupe uma determinada posição no jogo geoestratégico que para os Estados Unidos não seja interessante devolver um ataque, deixando o caminho aberto para a Coreia do Norte atacar nuclearmente a Coreia do Sul", comentou.

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A especialista em relações internacionais acrescentou que os sul-coreanos também veem os Estados Unidos pouco envolvidos militarmente em conflitos regionais e locais, como o ucraniano e o israelo-palestino.

"Os Estados Unidos praticamente nunca usaram suas armas nucleares desde 1945. Então usá-las para proteger Seul, com a possibilidade de o próprio território dos Estados Unidos ser atacado pelo Norte, levanta dúvida."

A possível vitória do candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, também pode ser um fator de temor para a Coreia do Sul, ressaltou Eunjae Kim, ao lembrar que o ex-presidente já declarou que retiraria tropas do país asiático e cobraria por serviços de segurança.
O atual governo, de direita, com posicionamento radical anti-Coreia do Norte, é outro fator que encoraja a discussão, segundo os entrevistados.

"Os sul-coreanos estão passando pelo momento do extremismo. Acabaram de ter um governo, que foi o do presidente Moon Jae-in, que era um governo mais ameno, mais tranquilo, equilibrado, e agora estão no momento do extremismo. Esse tipo de discurso, [na linha de] 'Vamos construir uma bomba atômica para nos posicionarmos contra a Coreia do Norte', ganha força dentro das secretarias, dos ministérios na Coreia do Sul", disse Rubio.

Impactos 'desastrosos' de conflito entre Coreias

Ambos os estudiosos declararam que a nuclearização da Coreia do Sul traria impactos desastrosos para a península asiática.

"Demarcaria uma linha divisória intransponível […]. Seria o caos e o fim da civilização, assim o fim da ideia de uma civilização reunificada", opinou Rubio. "Com certeza. Seria desastroso para o mundo no geral, mas principalmente para a situação regional. Com essa configuração que nós temos hoje, já está desastroso […], com bombas atômicas dos dois lados. Isso não resolveria a questão", acrescentou.

Além disso, salientaram os analistas, abandonar o TNP seria altamente prejudicial para a economia sul-coreana.

"A Coreia do Sul enfrentaria sanções, o mundo não iria, por conta da sua posição estratégica, ignorar esse aspecto, que é muito complicado. Ela sofreria tantas sanções que tornaria inviável a construção de um programa nuclear", pontuou o especialista.

Eunjae Kim também falou das consequências para a região como um todo.

"Ter arma nuclear em si tem significado, mas se a Coreia [do Sul] desenvolver uma arma nuclear, a gente vai ter que se preocupar com outros vizinhos do Leste Asiático, além do Norte. Vão acabar participando na corrida armamentista", acrescentou ela.

A especialista comentou que a Coreia do Sul se beneficiou de maneira relevante dos termos de segurança com os EUA e sua consequente inserção econômica no mercado mundial, desde o estabelecimento de um tratado de defesa mútua em 1953.
Por outro lado, ponderou, o ônus tem sido um alto nível de dependência militar e econômica, assimétrica, que a Coreia do Sul criou para com os Estados Unidos. Logo, disse ela, executar uma estratégia nuclear independente prejudicaria a aliança com os Estados Unidos.

"Quem vai decidir o uso dessa arma não vai ser a Coreia do Sul, mas sim os Estados Unidos, porque são eles que têm o controle operacional nos tempos de guerra."

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Apesar das pressões e tensões, Rubio argumentou que ainda existe um movimento forte na Coreia do Sul que condena a política de enfrentamento da Coreia do Norte, influenciado pelos EUA.

"Se você dá uma rápida pesquisa na web, você acha sempre, todos os anos, quando vai ter os exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos. As pessoas saem às ruas, na Coreia do Sul, contra isso [a política de enfrentamento], as pessoas se posicionam. É também retrato de uma sociedade cansada desse vaivém, dessa inflexão a todo momento", frisou ele.

EUA versus China

Uma saída defendida por Eunjae Kim para o país ganhar autonomia em relação aos EUA seria uma aproximação com a China, que se tornou o maior parceiro econômico da Coreia do Sul. Além disso, destacou, a China é o maior parceiro e aliado da Coreia do Norte.

"Então caso a Coreia do Sul busque pacificação na península coreana, ter a China, pelo menos à distância, para poder dialogar e resolver um problema militar seria essencial […]. Tem ocorrido isso independentemente de regime e orientação política, de ver diferença de orientação política dos dois partidos [majoritários], porém isso tem sido um pouco diferente, tem sido bastante difícil no atual governo sul-coreano, de Yoon Suk-yeol."

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