Panorama internacional

Luta contra drogas ou controle regional: qual o papel do aparato militar dos EUA na América Latina?

O recente anúncio do presidente do Equador, Daniel Noboa, sobre a apresentação de uma iniciativa para dar luz verde à chegada de bases militares estrangeiras ao país latino-americano, coloca novamente sobre a mesa o debate sobre o trabalho militar dos EUA na região: nos EUA, eles realmente ajudaram a combater os problemas locais? A Sputnik explica.
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O anúncio de Noboa foi feito no local onde esteve no Equador, a base dos EUA em Manta (província de Manabí), de 1999 a 2009. "Em um conflito transnacional precisamos de uma resposta nacional e internacional", disse o presidente por meio de vídeo compartilhado através de suas redes sociais.
Há pouco mais de seis meses, Javier Milei, presidente da Argentina, anunciou a instalação de uma base logística em Ushuaia em conjunto com os EUA, após reunião com Laura Richardson, chefe do Comando Sul do Exército dos EUA. Este anúncio causou críticas devido à posição estratégica da cidade na Patagônia argentina para a região.
A preocupação é coerente. Ao longo da história da região, os Estados Unidos desempenharam um papel interveniente nos países do centro e do sul do continente. Um dos casos mais evidentes foi a participação do governo de Richard Nixon no golpe de Estado no Chile em 1973, que conduziu à ditadura de Augusto Pinochet.
A face visível da integração militar dos EUA com as nações da região é o Comando Sul, que começou a ganhar força durante o período da Guerra Fria e posteriormente reorientou o seu foco de atenção após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.
Entre os objetivos que o Comando Sul afirma ter está a aquisição de sistemas democráticos e o combate ao tráfico de drogas na região, porém, será que realmente conseguiu cumprir esses propósitos?
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Uma luta fracassada

Os EUA promovem uma guerra feroz contra as drogas há várias décadas, não só a nível nacional, mas também em todo o continente.
Segundo informações do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, 3,64% da população entre 15 e 64 anos nos Estados Unidos consome opioides, enquanto 2,4% consome cocaína. Os números posicionam a nação norte-americana como um dos maiores consumidores de drogas do mundo.
Sob este argumento, o país implementou uma estratégia regional focada no combate ao tráfico de drogas, que, no entanto, não teve os resultados esperados.

"Infelizmente, a lógica dos benefícios não é totalmente favorável porque se torna um panorama em que o conflito social é agravado porque, normalmente, o envio de Forças Armadas dentro dos territórios é priorizado supostamente para deter cartéis ou organizações criminosas, mas que de alguma forma também acaba afetando, digamos, as mobilizações sociais que estão ocorrendo nesses países", disse a dra. Claudia Serrano, especialista em estudos latino-americanos, em diálogo com a Sputnik.

A estratégia também não mostrou resultados para os EUA. Segundo informações dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país, até junho de 2015, foram registradas pouco mais de 45.500 mortes por overdose, enquanto esse número foi praticamente mais que o dobro até agosto de 2023, quando ocorreram cerca de 111.400 mortes.
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Uma disputa geopolítica

Em 2023, Laura Richardson, comandante do Comando Sul dos EUA, disse durante uma audiência do Comitê dos Serviços Armados da Câmara dos Representantes que atacou a Rússia e a China pela sua reaproximação com "os nossos vizinhos democráticos", uma vez que isso é visto por Washington como uma preocupação crescente.
Segundo o García Contreras, os Estados Unidos têm conseguido garantir seus interesses na região graças ao trabalho, por exemplo, do Comando Sul, bem como a alianças com governos semelhantes a ele, como neste caso o Equador deixou claro.
"Também é visto como um dos elementos onde, se os Estados Unidos se posicionassem geopoliticamente na região, seriam os mais beneficiados por uma reforma desta natureza [a apresentada pelo presidente Noboa], já que a presença dos militares poderia ter essa interferência maior na política", afirmou.
Ainda segundo Serrano, a chegada de novas bases militares em áreas onde existe certo nível de riqueza, seja natural ou alguns recursos essenciais para o desenvolvimento industrial como na Argentina ou no Equador poderia permitir aos Estados Unidos reativar a segurança desses recursos.
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