O presidente dos EUA, Joe Biden,
falou diante da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24), aproveitando a oportunidade para fazer o que provavelmente será um dos
últimos grandes discursos de sua carreira política.
O encontro anual de líderes e diplomatas mundiais, que ocorre todo setembro na cidade de Nova York, tem servido de pano de fundo para vários momentos significativos ao longo de sua história de quase 80 anos. O revolucionário cubano Che Guevara discursou em 1964, promovendo a campanha de alfabetização de Havana e criticando a intervenção dos EUA na América Latina.
O ex-líder líbio Muammar Kadhafi fez um discurso memorável em 2009, assim como o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, que atacou o ex-presidente dos EUA George Bush, o neoliberalismo e a Guerra ao Terror dos EUA em 2006.
O evento, que dura uma semana, oferece um
fórum importante para países em desenvolvimento, quando brevemente são concedidas igualdades durante os debates com as grandes potências mundiais. No entanto, críticos pontuam que o reconhecimento concedido é mais simbólico do que tangível. O autor e analista Caleb Maupin analisa o
discurso de Biden diante da audiência internacional.
"Ele falou sobre democracia e como está comprometido com ela", disse Maupin, observando que Biden abordou temas que tem discutido frequentemente durante a temporada eleitoral de 2024. "Ele falou contra a Rússia, contra a Venezuela, contra os palestinos, mas em apoio a Israel. Joe Biden fez uma série de comentários que seguiram a política externa padrão dos EUA."
Um estudo de 2015 descobriu que os norte-americanos fornecem apoio militar a 73% das nações rotuladas como "ditaduras", com a Arábia Saudita e o regime opressivo de Juan Orlando Hernández em Honduras, sendo talvez os exemplos mais proeminentes.
O
ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, ainda aclamado como um dos mais admirados e influentes estadistas da América, deixou claro seu desprezo pela democracia em 1970, quando prometeu intervir no Chile caso o
país elegesse um líder anti-imperialista.
Três anos depois, o presidente democraticamente eleito do Chile seria deposto em um sangrento golpe militar apoiado pelos EUA, inaugurando quase duas décadas de ditadura sangrenta que resultaram na morte e tortura de dezenas de milhares. O modelo foi reproduzido na Bolívia, Brasil, Peru, Uruguai, Paraguai e Argentina em uma campanha de terror e repressão estatal conhecida como Plano Cóndor.
Os EUA trabalharam para apoiar golpes e subverter a democracia em dezenas de países ao redor do mundo, mas seu papel na Palestina tem gerado talvez a maior atenção nos últimos anos. O país busca frequentemente minar a influência da ONU e a força do direito internacional em nome de defender Israel de críticas.
Um exemplo é a recente diminuição da importância de uma votação do Conselho de Segurança da ONU que pediu ao país que encerrasse a campanha em Gaza. Os EUA também lideraram um
grupo de países ocidentais em desfinanciar a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês), um recurso crucial para refugiados enfrentando fome e deslocamento que Israel há muito vê como um obstáculo.
A ex-secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, revelou as verdadeiras opiniões do país sobre a democracia em uma gravação vazada de comentários de 2006, na qual demonstrou que o apoio norte-americano a eleições democráticas depende fortemente da escolha dos eleitores por candidatos alinhados com as visões e políticas apoiadas por Washington.
"Não acho que deveríamos ter pressionado por uma eleição nos territórios palestinos. Acho que foi um grande erro", disse Clinton sobre a votação que levou o movimento Hamas ao poder em Gaza. "Se fôssemos pressionar por uma eleição, deveríamos ter garantido que fizéssemos algo para determinar quem venceria", afirmou, sugerindo que os Estados Unidos deveriam ter interferido para manipular o resultado.