Nesta terça-feira (21), o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira desembarcou na cidade russa de Kazan, onde chefiará a delegação brasileira na cúpula de chefes de Estado do BRICS. Principal autoridade brasileira presente na Rússia, Vieira terá o desafio de substituir Luiz Inácio Lula da Silva em reuniões a nível de chefe de Estado.
A expectativa para a chegada do ministro era alta, dado o cancelamento infortunoso da participação de Lula no evento. Após sofrer um acidente doméstico, o presidente brasileiro foi aconselhado pela sua equipe médica a evitar viagens aéreas de longa duração. Apesar do revés, ele passa bem.
Incumbido da tarefa não trivial de substituir o presidente da República em reuniões que contarão com a presença de líderes como os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, o ministro negou que o peso de sua participação tenha mudado com o cancelamento da participação de Lula.
"A participação do Brasil é sempre igual. O presidente Lula infelizmente não pôde estar presente e pediu que eu o representasse. E vamos tratar, então, dos próximos passos do BRICS a partir de amanhã", disse Vieira.
Acompanhado do embaixador do Brasil em Moscou, Rodrigo Baena Soares, o ministro Mauro Vieira elencou os principais temas a serem tratados na Cúpula do BRICS, como a entrada de novos parceiros no agrupamento, o ritmo de expansão e as modalidades de entrada.
Mauro Vieira chega a Kazan para participar na 16ª Cúpula do BRICS, acompanhado do embaixador do Brasil em Moscou, Rodrigo Baena Soares, em 21 de outubro de 2024
© Foto / Maksim Blinov / brics-russia2024.ru
Representantes das chancelarias dos países do BRICS estão reunidos em Kazan há cinco dias para debater a criação de uma possível categoria de membro parceiro da articulação. Os diplomatas debatem quais seriam as prerrogativas dos membros parceiros e o seu grau de envolvimento nas atividades do BRICS.
Ainda que a criação da categoria de membro parceiro seja dada como certa, ainda há debate acerca da inclusão de novos membros durante a cúpula de Kazan. Indagado sobre a posição do Brasil acerca de uma nova rodada de expansão do grupo, o chanceler brasileiro respondeu que "isso será debatido pelos chefes de Estado".
De acordo com o Itamaraty, o Brasil defende que a admissão de novos países ao BRICS obedeça a uma série de critérios, já aplicados durante a expansão realizada neste ano, como resultado da cúpula de chefes de Estado de Joanesburgo, na África do Sul. Na ocasião, o apoio a uma reforma abrangente do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi colocado pelo Brasil como pré-requisito para a adesão.
Cerimônia de boas-vindas ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que chegou para participar na 16ª Cúpula do BRICS, no aeroporto de Kazan. Rússia, 21 de outubro de 2024
© Foto / Maksim Blinov / brics-russia2024.ru
Outro critério caro à diplomacia brasileira é o equilíbrio geográfico. Atualmente, há uma presença significativa de países euro-asiáticos no BRICS e uma sub-representação da América Latina, que conta somente com o Brasil como membro pleno. De acordo com o portal UOL, o Brasil considera a adesão de parceiros regionais como Cuba ou Bolívia para sanar essa assimetria geográfica. Em resposta à pergunta sobre a viabilidade da candidatura da Venezuela, o ministro Vieira notou que todos os países que apresentaram candidatura têm chance de ser integrados no agrupamento.
Quando perguntado pela Sputnik Brasil sobre a possibilidade de debates acerca do conflito na Ucrânia, o ministro Mauro Vieira disse que "o tema aqui é a cooperação do BRICS".
Na condição de principal autoridade brasileira no evento, o ministro Vieira cumprirá toda a agenda da cúpula dos chefes de Estado, nos dias 22 e 23 de outubro. No dia 24, o chanceler participará de encontros com países convidados no formato BRICS+, como Turquia, Azerbaijão, Armênia e Bolívia. A Sputnik Brasil está em Kazan e providenciará uma cobertura completa dos eventos.