"Tenho minhas dúvidas sobre se esse financiamento é realmente para conter a questão ou gerar ainda mais conflitos para manter esses jovens [no continente africano]. É um absurdo, já que não se diz para que é esse dinheiro […]. Há algum tempo atrás a UE fez a mesma coisa em relação à imigração do povo do Oriente Médio, tendo a Turquia como um dos Estados que recebia para conter o fluxo. Hoje o Marrocos tem esse papel, principalmente, no continente africano. Ao mesmo tempo, países do Sahel [como Gâmbia, Senegal, a prória Mauritânia] acusam o bloco de financiar o terrorismo", acrescenta.
Como está a imigração na Europa?
"Fizeram com que a população acreditasse que os problemas da Europa são causados pela imigração, o que é uma narrativa falsa. O problema da Europa não é a imigração, pelo contrário, a imigração é uma solução […]. A Europa tem que saber que os jovens africanos não têm interesse em ir à Europa, da mesma forma que a gente fala da imigração latino-americana para os Estados Unidos: não são os Estados Unidos que interessam a essas populações, mas a oportunidade que esses jovens estão procurando [e não encontram em seus respectivos países]", diz.
África e o passado colonial
"Isso vai claramente impactar na contemporaneidade dessas relações e em como eles enxergam os africanos que chegam ao continente europeu, tanto migrantes quanto refugiados. E esse plano atual também é uma resposta à crise de políticas e esforços conjuntos dos membros da União Europeia desde a crise migratória de 2015. Essa política também trata a migração como uma ameaça à segurança. Então toda a abordagem era externalizar as fronteiras, especialmente na costa mediterrânea e meridional, e levar o problema para os países de onde essas pessoas saíam, principalmente no norte da África", finaliza.