Panorama internacional

Quais seriam as implicações da decisão de Biden de permitir o uso de mísseis contra a Rússia?

A Casa Branca deu sinal verde para Kiev usar mísseis de longo alcance para atacar o território russo, segundo uma reportagem The New York Times, publicada neste domingo (17). Quais seriam as implicações da decisão do atual presidente?
Sputnik
Segundo informações dos meios de comunicação norte-americanos, que ainda não foram confirmadas nem pela Casa Branca nem pelo Pentágono, o governo do atual presidente, Joe Biden, teria permitido a Kiver utilizar os chamados Sistemas de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS, na sigla em inglês) para atacar o território russo.
O presidente Vladimir Putin advertiu em setembro que tal cenário significaria que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estariam diretamente envolvidos no combate contra a Rússia.
O anúncio acontece após meses de insistência de Kiev pedindo a Washington para utilizar os respectivos mísseis, em um contexto cada vez mais dramático para o lado ucraniano no campo de batalha.
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Mídia: Biden autoriza ataques ucranianos à Rússia com mísseis ATACMS
Vale lembrar que, no início deste ano, a Casa Branca – que se recusava a enviar estes mísseis para Kiev desde o início do conflito – finalmente transferiu as armas para a Ucrânia, com a condição de que só seriam utilizadas dentro do território ucraniano.

Presente de natal antecipado

Segundo Samuel Losada, internacionalista argentino formado pela Universidad de Belgrano, com esta virada Biden tentaria bloquear ou dificultar a proposta de Trump de buscar acabar com o conflito na Ucrânia e fazer com que as partes se sentassem para negociar.
"Armar ainda mais a Ucrânia e levantar o bloqueio ao lançamento de mísseis de longo alcance contra a Rússia poderia gerar uma escalada do conflito, pelo menos no curto espaço de tempo, tornando o clima ainda menos favorável às negociações nos próximos meses", afirma o especialista.
Nesse sentido, Losada indica que a mudança de posição "confirma o teor belicista e intervencionista da política externa do governo de Joe Biden, apesar de há menos de duas semanas os próprios cidadãos terem votado contra, elegendo o novo presidente Donald Trump, que fez campanha prometendo acabar com os conflitos internacionais financiados por Washington e que tem sido muito crítico a Zelensky, bem como ao envio de ajudas praticamente ilimitadas pelo governo Biden para Kiev", elaborou o especialista.
A este respeito, ele salienta que a decisão de Biden, a quem restam apenas dois meses no poder e sabe que deve agir rapidamente, "confirma que as elites ocidentais dão as costas aos eleitores e que optarão sempre por continuar financiando o complexo militar-industrial".
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O analista acrescentou que o próprio secretário de Defesa de Biden, general Lloyd Austin, era até sua nomeação membro do conselho de administração da Raytheon Technologies, a empresa de fabricação de armas que mais fecha negócios no âmbito militar com o governo dos EUA.
Para Moisés Garduno, doutor e internacionalista pela Universidad Nacional Autónoma de México, com esta decisão, a administração Biden "enviou um presente de natal antecipado", ao governo sucessor.
"Trata-se de uma provocação para obrigar Trump a dialogar com o complexo militar-industrial estadunidense sobre a rota econômica que seguirá", disse o especialista em alusão ao possível fim do conflito na Ucrânia, já prometido pelo presidente eleito.

'Irresponsabilidade manifestada'

O analista argentino Jorge Elbaum, sociólogo e doutor em ciências políticas pela Universidad de Buenos Aires, disse à Sputnik que esta decisão é uma "irresponsabilidade manifestada", com a finalidade de pressionar o governo Donald Trump a continuar o conflito na Ucrânia.
"A decisão de Biden parece ter sido para descontar a derrota iminente da Ucrânia e dos países da OTAN contra a Federação da Rússia, querendo nestes últimos meses, antes de Donald Trump assumir, que a Rússia assuma de alguma forma a resposta a esta provocação, generalizando uma situação de perigo de escalada, inclusive nuclear, que teria como principais vítimas sem dúvidas as capitais dos países da OTAN", considerou o especialista.
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