Dentre os presos, três dos quatro militares eram da ativa: os tenentes-coronéis do Exército Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, integrantes dos chamados "kids pretos" — unidade de elite especializada em operações sigilosas como sabotagem, contraguerrilha e contraterrorismo.
O quarto militar, da reserva, é o general de Brigada Mario Fernandes, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência durante a gestão de Jair Bolsonaro e, também, integrante dos kids pretos.
Já o policial federal preso é Wladimir Matos Soares, que, de acordo com o processo, teria repassado informações da escolta de Lula aos golpistas.
Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou as prisões, Mario Fernandes e seus cúmplices conspiraram para desenhar um plano chamado "Punhal Verde e Amarelo", com o intuito de derrubar a chapa eleita em 2022, além do próprio ministro do STF. Os assassinatos estavam planejados para ocorrer em 15 de dezembro de 2022.
Segundo as investigações da PF, um gabinete de crise comandado pelos generais Braga Netto e Augusto Heleno seria instalado após a morte de Lula, Alckmin e Moraes. Os generais, na época, ocupavam o cargo de candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro e ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo.
O plano, aponta o inquérito, foi discutido na casa de Braga Netto em 12 de novembro daquele ano. À época, a casa do general se tornou ponto de encontro de muitos opositores, militares e políticos da chapa eleita para questionar o resultado das eleições. A movimentação da residência era tão grande que foi apelidada pela mídia de "QG do Golpe".
Repercussões políticas
A notícia das prisões repercutiu por Brasília. O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou ser "extremamente preocupante" a existência de um plano desse tipo.
"Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático e, menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja. Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei."
Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, descreveu que o plano Punhal Verde e Amarelo, o atentado cometido por Tiu França na semana passada e os "crimes do 8 de Janeiro" fazem parte do estímulo de uma corrente da extrema-direita à violência e aos ataques à democracia.
"Não vamos titubear em apurar e punir seus autores. Sem anistia!"
O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), repetiu o lema "Sem anistia!" de Padilha, afirmando ainda que "o antídoto ao ódio é o Estado Democrático". O mesmo foi feito pela presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann (PT-PR), que acrescentou:
"Lembrem que os cinco são servidores públicos, com o conhecimento técnico-militar que aprenderam através do Estado, atentando contra a democracia e a vida. Esse foi o tamanho da nossa vitória em 2022."
Em entrevista à GloboNews, o atual ministro da Secretaria-Geral da presidência, Márcio Macêdo, destacou que é preciso ser "rigoroso com esses bandidos".
"Agentes de Estado que agem contra a democracia é coisa de bandido, de delinquente; […] têm que ser tomadas as providências no rigor da lei. Não tem tolerância para aqueles que atentam contra o Estado Democrático de Direito."
Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, ligou os atentados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. "É preciso chegar em quem estava no topo desse absurdo. Ainda falta um: Jair Bolsonaro."
Jorge Messias, ministro da Advocacia-Geral da União, elogiou a ação da PF, afirmando que "o competente trabalho da nossa Polícia Judiciária coloca no centro da cena golpista o entorno mais próximo do ex-mandatário."
"O 8 de Janeiro, como já disse, não foi um passeio dominical. Foi resultado de uma ação meticulosamente planejada por quem odeia a democracia e buscou dar um golpe contra o Estado de Direito. Vou repetir Ulysses Guimarães: 'Temos ódio e nojo à ditadura.' Não passarão."
Oposição alega perseguição política
Bia Kicis (PL-DF), líder da minoria na Câmara dos Deputados, e Carla Zambelli (PL-SP) afirmaram que as prisões são ilegais. Para Kicis, estão perseguindo os militares por crimes cometidos pelo próprios integrantes do governo. Já Zambelli afirmou que o governo "não segue a lei faz tempo".
"E pior é quererem ver a montagem de cortinas de fumaça para tentar ligar isso ao nosso presidente [Jair Bolsonaro]. É repugnante."
Filho do ex-presidente e senador pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro declarou que, "por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime".
"Para haver uma tentativa, é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes, o que não parece ter ocorrido."
Flávio Bolsonaro lembrou que ele é autor de um projeto de lei que criminaliza o ato preparatório de crime que implique a lesão ou morte de três ou mais pessoas. "Pois hoje isso simplesmente não é crime. Decisões judiciais sem amparo legal são repugnantes e antidemocráticas."