Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas comentaram a perspectiva para o governo Trump em relação ao apoio a Israel no conflito na Faixa de Gaza, que já dura mais de 400 dias desde a escalada em 7 de outubro de 2023.
Para Marcos Feres, brasileiro-palestino e secretário de Comunicação da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), o apoio dos Estados Unidos a Israel é "incondicional, bipartidário e mais antigo do que a própria autoproclamação de Israel, como projeto colonial e genocida na Palestina em 1948".
Segundo o analista, assim como os EUA foram "a primeira potência a reconhecer a autoproclamação de Israel em maio de 1948", durante a campanha para as últimas eleições presidenciais norte-americanas, o que se viu foi "uma
disputa entre Kamala Harris e Trump para ver quem era mais sionista, quem apoiava mais o genocídio e
quem mandaria mais armas", diz.
Embora sejam partidos de oposição, democratas e republicanos servem ao apoio irrestrito dos EUA a Israel, mudando um pouco a "roupagem", acredita Feres.
Karina Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec São Paulo, afirma que ambos os partidos apoiam Israel, mas há "um apoio retórico maior dos republicanos e um apoio financeiro maior dos democratas".
O governo do ex-presidente democrata Barack Obama, por exemplo, foi responsável por aprovar o maior aporte financeiro a Israel. Esse acordo, que já atravessou governos de ambas as legendas, prevê o envio de US$ 38 bilhões (R$ 231,3 bilhões) até 2028.
"O presidente Obama era muito crítico às ações de Israel, mas foi no seu governo que foi aprovado o número maior de ajuda financeira da história dos Estados Unidos para uma nação estrangeira", explica.
O
eminente apoio financeiro ao parceiro do Oriente Médio acontece desde 1970, ou seja, segundo a professora, isso mostra que essa ajuda aconteceria independentemente da guerra.
Sobre o discurso republicano mais acintoso em relação aos democratas que, segundo os analistas, costumam adotar um tom mais crítico nas palavras, Feres acredita, tratando-se de Trump, ser uma marca para mostrar à sua base que
apoia mais as ações israelenses do que a oposição.
Já no que diz respeito às ações, às práticas, Feres recorda que "este é um genocídio até o momento democrata" e que, pela postura dura, acabou angariando apoio do ex-vice-presidente Dick Cheney, republicano e vice de George W. Bush. "Isso nos dá um pouco essa percepção de um imbricamento entre essas duas correntes, que são, na verdade, muito parecidas quando o assunto é a política externa e a política imperialista dos Estados Unidos".
Ao fio e ao cabo, portanto, segundo o secretário de comunicação, trata-se de "uma grande coalizão do extermínio".
"Ambos se complementam no fazer crescer uma forma mais violenta e mais genocida a cada processo de extermínio que conduzem pelo mundo", finaliza Feres.