Analistas ouvidos pela
Sputnik Brasil acreditam que o país deve se concentrar em fortalecer sua
base industrial de defesa, mas precisa superar um grande problema: a falta de continuidade dos projetos.
Segundo o
comandante Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, vários projetos militares já morreram no meio do caminho,
inclusive a Avibras, que "
tem 60 anos e a gente está deixando morrer".
Em relação ao questionamento inicial, sobre o Brasil ter um
programa forte de mísseis, o especialista avalia positivamente a iniciativa, julgando ser essa a melhor alternativa "em termos de custo, benefício, versatilidade, flexibilidade e poder dissuasório".
O grande desafio, conforme Farinazzo, seria a elite política e econômica brasileira entender que o Brasil carece de poder dissuasório e que tais projetos seriam de suma importância no âmbito geopolítico e econômico.
Para José Augusto Zague, pesquisador do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), países que buscam autonomia estratégica têm que ter uma definição clara de suas necessidades para supri-las.
No caso, o analista define o Brasil como um país que ainda não entendeu as suas vulnerabilidades, logo uma indústria de
defesa brasileira não surgiu a partir desse cálculo.
De acordo com Zague, o Brasil, no âmbito da indústria global de defesa, está inserido naquilo que ele chama de "
modelo da tecnologia militar globalizada", no qual "todas as indústrias de defesa […] têm algum tipo de dependência […], que é um
modelo liderado pelos Estados Unidos, [modelo] que tem também nos países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]".
Já a defesa da Rússia corre por fora desse modelo da "tecnologia militar globalizada". "Os russos procuraram ter autonomia estratégica, [e hoje] produzem praticamente tudo aquilo de que eles precisam". A China segue o mesmo caminho.
Diante desse contexto, o analista expressa que o Brasil enfrenta problemas de definição que compreendem desde suas ameaças ao balizamento da defesa, que,
no âmbito dos mísseis, pode até esbarrar em acordos internacionais.
O Brasil é, desde 1995, signatário do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR, na sigla em inglês), definido como uma associação informal criada como um esforço multilateral para o combate à proliferação de mísseis e outros sistemas capazes de lançar armas de destruição em massa, sejam elas químicas, biológicas ou nucleares.
Entretanto, o mais determinante para o Brasil é "acabar com essa disfuncionalidade da sua base industrial de defesa, pensando em uma vocação que possa fazer com que o Brasil responda às suas necessidades".