Como o Brasil pode diminuir a cotação do dólar?
"O que permite que mais dólar entre no Brasil? O que permite que mais dólar entre no Brasil é o interesse do investimento estrangeiro — e aí não necessariamente esse investimento em dólar, mas, como eu já coloquei, é a principal moeda que a gente tem de transação comercial no mundo. A gente tem que ter essa atratividade de investidores para poder colocar dólar no Brasil", explica.
"Se há esse receio tanto do setor privado, [do] investimento no setor privado, quanto do investimento na dívida pública, os investidores internacionais se afastam, e aí a cotação do dólar sobe", acrescenta.
"Este aqui é o ponto do Brasil: para eu poder fazer investimento em capacidade produtiva, eu vou ter que correr risco; pode ser que dê certo, pode ser que dê errado. E aí, se a taxa de juros está alta, para que eu vou correr o risco? Eu vou deixar meu dinheiro rendendo naquilo que é livre de risco, que é o que o governo está me pagando", desenha, explicando o parâmetro brasileiro.
"Acho que a gente tem uma questão muito mais especulativa do dólar, que o Brasil está sendo um país interessante para investir, então está entrando o dólar. O que a gente tem é um movimento especulativo muito grande em cima disso, e o governo tenta frear o Banco Central através da taxa de juros […] — não está dando para entender por que está batendo R$ 6, sendo que os outros fatores econômicos estão em uma toada diferente. E aí, talvez, o que explica o dólar a R$ 6 seja essa previsibilidade […] que o governo não está dando para o mercado", avalia.
Desdolarização é o caminho?
"Isso, apesar de realmente oferecer praticidade e ganhos de escala bastante interessantes para os países envolvidos, acaba criando uma situação geopolítica de desconforto, principalmente para os Estados Unidos."
"O esperado é que se a gente sai da moeda-padrão, do dólar, então uma menor demanda vai fazê-la mais acessível, o preço dela cairá. Mas a gente tem que pôr nessa equação um troço chamado incerteza. Então, se as incertezas aumentam muito, essa demanda que foi, digamos assim, flexibilizada com compra via outras moedas, acaba se tornando mais do que compensada por gente que, com medo de um cenário muito adverso, de um cenário muito incerto, compra essa moeda para se proteger", avalia.
"Não acho que a gente chegue a ser prejudicado com essa menor dependência do dólar, e na realidade nós vamos continuar muito dependentes ainda, mas a gente tem uma outra alternativa", analisa.