Essa tendência reflete uma mudança estratégica em direção a uma maior autonomia econômica e uma tentativa de reduzir a vulnerabilidade frente a flutuaões cambiais e políticas externas.
China e Rússia lideram a transição
Um dos exemplos mais notáveis desse movimento é a crescente troca comercial entre China e Rússia, que têm adotado suas próprias moedas, o yuan e o rublo, para transações bilaterais. Esse esforço foi particularmente visível nas áreas de energia, com a venda de gás natural e petróleo sendo realizada em moeda local, sem a necessidade de conversão para dólares. Com o aumento dessas transações, ambos os países estão reduzindo sua exposição às flutuações do dólar e criando uma rede de segurança para suas economias.
Brasil e Argentina: uma parceria regional
Na América Latina, o Brasil e a Argentina deram um passo significativo em 2023 ao anunciar acordos para realizar transações comerciais em suas moedas nacionais, o real e o peso. Essa iniciativa visa não apenas diminuir a dependência do dólar, mas também fortalecer a integração econômica regional. Embora o acordo ainda esteja em fase de implementação, ele representa uma tentativa de ambos os países de aumentar a estabilidade e a resiliência econômica diante de desafios externos.
Índia e os países do Golfo: a nova rota das transações em rupias
Outro exemplo importante vem da Índia, que tem avançado em acordos com países do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos, para realizar transações comerciais em rupias, evitando o uso do dólar. Essas parcerias incluem setores-chave como petróleo e tecnologia, e refletem o crescente desejo da Índia de consolidar sua posição econômica global de forma mais independente. A medida também visa reduzir os custos de conversão de moedas e reforçar o comércio entre países com interesses econômicos e geopolíticos semelhantes.
Turquia e Irã: superando sanções com o uso de moedas locais
A Turquia e o Irã são exemplos de países que, após enfrentarem sanções econômicas internacionais, recorreram ao uso de suas próprias moedas — a lira turca e o rial — para continuar com suas transações bilaterais. Esse movimento, além de facilitar o comércio de energia, é uma resposta direta às limitações impostas pelas sanções, permitindo que ambos os países evitem a necessidade de utilizar o dólar americano em suas trocas comerciais.
Esses exemplos refletem um padrão crescente no comércio internacional, onde o uso de moedas locais está se tornando uma alternativa estratégica à hegemonia do dólar. Com isso, as nações buscam não apenas preservar sua soberania econômica, mas também garantir maior estabilidade financeira em um cenário global de incertezas.
Desdolarizar é prioridade do BRICS
As prioridades que guiarão os debates do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Indonésia) e os objetivos a serem alcançados em 2025 foram divulgados na quinta-feira (13) pelo governo brasileiro, que está na presidência rotativa anual do agrupamento.
Pesem as recentes e insistentes ameaças do presidente americano, Donald Trump, de prejudicar o BRICS caso o grupo tente desdolarizar as transações comerciais, o documento elaborado assegura que os países-membros seguirão trabalhando a favor do uso de moedas locais em transações comerciais internas.
"A presidência do Brasil dará continuidade aos esforços de cooperação para desenvolver instrumentos de pagamento locais que facilitem o comércio e o investimento, aproveitando sistemas de pagamento mais acessíveis, transparentes, seguros e inclusivos entre os membros do BRICS. Além disso, medidas de facilitação do comércio, entre elas a cooperação regulatória, poderão contribuir para o aumento do intercâmbio comercial e de investimentos."