"Porque o produtor rural, o produtor brasileiro, o agricultor, o pecuarista, ele vende para o mundo, não vende para o Brasil. Então, se o preço do mundo subir, ele não vai vender aqui internamente, vai vender para fora. Por isso que toda vez que tem um aumento da falta, que é uma quebra de soja nos EUA, impacta o Brasil, mesmo ele produzindo soja", frisou ele.
"O governo precisa mapear mais a questão da oferta e buscar outros recursos. Porque o maior problema dessa inflação de oferta é que atinge justamente as pessoas mais pobres", ponderou o especialista.
"Além de tudo, houve uma remessa de recursos no final do ano que é um fato sazonal que também pressionou o dólar […] com as multinacionais que mandam dinheiro para fora. E, por último, os importadores e exportadores, que adiaram a internação do dinheiro por conta do risco Trump, de tributação de tarifa, e pela incerteza sobre medidas heterodoxas do governo para conter o aumento do dólar. […] a principal questão foi a falta de confiança no governo", avaliou ele.
"[…] e gera um aumento de renda, o que faz com que as pessoas consigam comprar melhor. Isso é o que o governo deveria fazer. O governo fazendo ou não fazendo, aí uma questão mais macroeconômica não é necessariamente ligada à medida de alimento."
Estoques reguladores
"Se ele acha que o preço está muito caro, ele venderia o estoque quando tivesse a safra, ele compraria mais barato e ficava regulando a oferta de produtos a preços melhores. Esse é o caminho que vejo, sem interferir nas relações, porque, toda vez que você interfere nas relações privadas, acaba criando desequilíbrios que são pagos no futuro por alguém", opinou Chaia.
"Para conter esse momento da alimentação não vai mudar muita coisa. Qualquer medida de planejamento estratégico é positiva no médio e longo prazos. No curto prazo, acho que vai ter pouco efeito."
"[…] Só que você envolve aí, às vezes, oportunidade e também investimento. Então, às vezes, não tem quem entre. E aí o Estado precisa entrar no processo, um Estado que já não tem também muita massa de manobra, limitado hoje, endividado, com pouco recurso. Mas o governo pode incentivar. O governo tem incentivado. Então você tem um Plano Safra que são bilhões de reais investidos. O governo tem feito algumas políticas de incentivo, mas precisa ir mais do que isso. Precisa ir além disso".
"O custo de transporte termina sendo muito alto. Agora, claro, ele pode responder às demandas locais mais próximas, da cidade mais próxima, e isso atenuar um pouco a questão desses problemas da oferta de alimentos."
"Há produtos que compõem a questão do fertilizante, por exemplo, que a gente não produz nacionalmente. Você tem que importar. E às vezes o problema do câmbio faz com que, por exemplo, a Petrobras não consiga ter preço competitivo, a ponto de as indústrias terem que importar. A indústria de fertilizante vem fazendo isso há muito tempo. É necessário que a gente rediscuta também os preços relacionados à energia e ao combustível. Esses dois itens são os mais responsáveis pela inflação no Brasil e eles impactam em toda a cadeia, no transporte de cada etapa."