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Bolsonaro está inelegível, e apoio de líderes estrangeiros não vai mudar isso, notam analistas

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam as tentativas de Jair Bolsonaro e aliados de buscar apoio de líderes da direita internacional para fortalecer suas chances de candidatura às eleições de 2026.
Sputnik
A denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado em 2022, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), causou turbulência e racha na base da direita no Brasil.
Algumas lideranças defendem a busca por um nome alternativo para disputar as eleições de 2026. Outras saíram em defesa do ex-presidente, acusando a PGR e o Judiciário brasileiro de tentarem matar politicamente Bolsonaro, e insistem em manter o ex-presidente como nome da direita para 2026. Para estes, uma das principais estratégias é envolver líderes estrangeiros na defesa de Bolsonaro, ecoando a retórica de perseguição política. Para isso, apostam no apoio dos presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei.
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Marcus Ianoni, professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que "Bolsonaro está inelegível, e nada indica que isso vai mudar", e avalia que a sinalização de que o julgamento pode ocorrer ainda neste ano vai impactar no bolsonarismo, "desestimulando uma parte da massa de eleitores e estimulando os mais radicais".
"Qualquer candidato ligado ao bolsonarismo precisará, acima de tudo, convencer os eleitores. Políticos de outros países, como é o caso de Trump e de outros líderes da extrema-direita, podem, pelas redes sociais, tentar levantar o moral da extrema-direita brasileira, podem também financiar ONGs que divulgam ideias da extrema-direita. Não acho que qualquer candidato de direita ou de esquerda possa se fortalecer apenas pelo fato de um grande nome internacional apoiá-lo. A vitória eleitoral depende de um conjunto de variáveis."
Ianoni não considera que a estratégia bolsonarista de acusar o Judiciário brasileiro de censura será eficaz, uma vez que está em curso desde que Bolsonaro estava na presidência, sem obter resultado.

"Não acho que essas acusações podem ser bem-sucedidas. Elas vêm sendo feitas desde o mandato de Bolsonaro, e o processo contra ele está avançando."

Ele destaca que a direita radical atualmente é parte de um movimento internacional, com bases sobretudo nas Américas e na Europa, com organizações internacionais como o grupo O Movimento, liderado por Steve Bannon. Porém não considera que esse movimento tem poder suficiente para interferir na Justiça brasileira.
"A Justiça no Brasil tem autonomia e não tem se dobrado às redes sociais estrangeiras, nem se dobraria a líderes internacionais", afirma o analista.
Bruno Lima Rocha, jornalista, cientista político e professor de relações internacionais, avalia que a capacidade de ingerência real de um poder externo na Justiça brasileira não é grande.

"O que, sim, pode acontecer é que, com a manipulação de redes sociais, como o X já vem fazendo, mas também a disputa contra empresas de mídia dos EUA, como o Rumble ou a Trump Media, isso pode aumentar o clima de engajamento de uma parcela do bolsonarismo. Mas se não tem uma operação bem-feita de lawfare, como foi a Lava Jato, com presença do FBI, com espionagem, ou seja, se o chamado deep state [Estado profundo] dos EUA não entra de cabeça, dificilmente vai ter uma condição mais prejudicada. A PGR já fez a denúncia, acho que não tem volta atrás, não", afirma.

Ele enfatiza que há um conjunto probatório gigantesco na denúncia da PGR que torna a prisão dos denunciados, entre eles, Jair Bolsonaro, inevitável em algum momento.
"Se for neste ano [a prisão], já organiza a eleição do ano que vem. Qual seria um estado de comoção nacional? O julgamento ser em 2026, como o de Lula foi, em 2018: [Bolsonaro] ficar preso, aí vai para [a tentativa de obter] o habeas corpus e vai ter aquela confusão toda. Só que a diferença é que vai ser de mobilização de rua, não tem mais a pressão das Forças Armadas para dar um golpe de Estado, não tem a presença do FBI para dar um golpe de Estado, não tem tanta pressão externa para isso. Até a base evangélica está rachada."
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Em relação ao apoio de Javier Milei, que recentemente, sem apresentar provas, defendeu a tese de que Bolsonaro foi vítima de uma fraude eleitoral, Rocha destaca que o presidente argentino não tem apoio dos meios de comunicação de seu país para repercutir sua tese e está envolto no escândalo do Criptogate, no qual é acusado de promover uma criptomoeda cuja cotação despencou em poucas horas, causando perdas milionárias a milhares de pessoas.

"Ou seja, a possibilidade de o aparelho de comunicação [argentino], de o exército de trolls [como são chamados os ataques com bots nas redes] de Milei entrar em ação por Jair Bolsonaro, pelo menos neste primeiro semestre, é muito difícil. Não quer dizer que não possa entrar em outro semestre, com um novo rearranjo de poder na Argentina, mas no momento é muito complicado", explica.

Além de tentar se associar à direita dos EUA e da Argentina, a oposição também tenta estreitar laços com a direita alemã, celebrando o resultado alcançado pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) nas eleições para o parlamento do país. Logo após ser anunciado que a AfD havia ficado em segundo lugar no pleito, o melhor desempenho já obtido pelo partido, o deputado federal Eduardo Bolsonaro celebrou o resultado nas redes sociais.
Rocha, no entanto, descarta que possa haver alguma aproximação entre o AfD e o bolsonarismo, e frisa que "a principal motivação da extrema-direita europeia hoje é a islamofobia".
"Isso está longe de ser uma adesão trumpista [por parte da Alemanha], está longe de ser um apoio do premiê alemão a Bolsonaro. […] O premiê alemão declarou que Javier Milei é uma vergonha, é um golpista financeiro, que a Alemanha não tem nada a ver com isso. Ou seja, tem uma dimensão muito mais complexa do que aquilo que circula nas redes sociais."
O analista afirma que, no momento, a aposta mais eficiente para o bolsonarismo seria uma chapa tendo Michelle Bolsonaro como vice-presidente, embora seja cético quanto à possibilidade de a família Bolsonaro aceitar essa configuração.

"Não acredito que a família assim o permita, mas Michelle Bolsonaro é o grande trunfo político do bolsonarismo, e aí precisaria arriscar a reeleição de Tarcísio de Freitas [para governador] em São Paulo, que é dada como certa. E aí já prejudicaria o arranjo de poder, de ter poder em todos os lados, do PSD de Gilberto Kassab. Mas se Tarcísio se arrisca a concorrer à eleição e Michelle vai de vice, segundo turno vai dar, e aí tudo pode acontecer. Eu não acredito hoje que Tarcísio se arrisque, mas a política é muito dinâmica", conclui Rocha.

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