O cessar-fogo de Páscoa
anunciado pelo presidente russo, Vladimir Putin, neste sábado (19), não apenas demonstra a boa vontade de Moscou em negociar a paz, como também
comprova a superioridade das forças russas no campo de batalha.
É o que afirma à Sputnik Brasil Eduardo Vasco, ex-correspondente na operação especial e autor do livro O povo esquecido - uma história de genocídio e resistência no Donbass.
"Isso mostra que a Rússia tem uma superioridade enorme no terreno. Porque um país que estaria perdendo a guerra, como parte da narrativa ocidental tenta dizer, jamais faria um cessar-fogo unilateral, né? A Rússia só faz isso porque ela tem uma superioridade inegável. E ela está segura de que, mesmo que ela faça um cessar-fogo, os ucranianos não terão chance de avançar, de ganhar posições importantes da Rússia", afirma o analista.
Ele acrescenta que essa é também uma medida pensada estrategicamente por Putin, porque conceder tréguas em datas importantes é algo comum em guerras e porque responde às acusações da imprensa ocidental, já que alguns meios se utilizaram das ameaças do presidente norte-americano, Donald Trump, de retirar os EUA da negociação de paz, caso não houvesse avanços, para acusarem a Rússia de não querer a paz.
De acordo com Vasco, Putin também está demonstrando que nunca dependeu da Rússia terminar o conflito, e que "a Rússia sempre quis a paz, enquanto o Ocidente, por sua vez, como está demonstrando novamente agora, nunca quis a paz e sempre quis a guerra".
Segundo ele, antes de Trump dar a declaração ameaçando
abandonar as negociações de paz,
a Rússia já havia anunciado a suspensão por um período de um mês os ataques a instalações energéticas da Ucrânia, o que indica que a fala do estadunidense foi uma tentativa de pressão, amplificada pela mídia ocidental.
"Ela [Rússia] já tinha dado uma resposta antes mesmo dessa ação do Donald Trump e da imprensa ocidental, né? Na verdade, a Rússia mesmo antes do início da operação especial, fez de tudo, de absolutamente tudo, do ponto de vista diplomático, político, para evitar uma guerra total. Só que o Ocidente, a OTAN, os EUA e os europeus deram de ombros para isso, a Rússia sempre tentou uma saída negociada para evitar que tivesse que ir para as vias de fato", afirma o analista, destacando a expansão da OTAN para o leste europeu, denunciada pela Rússia há 30 anos.
Ele afirma ainda que o fim do conflito ucraniano não interessa à Europa, e que lideranças militares e políticas do continente "já deram declarações que acabaram por esclarecer o motivo pelo qual essa guerra ainda não terminou".
Sobre a
declaração de Vladimir Zelensky, que respondeu à trégua anunciada por Putin afirmando que vai espelhar as ações da Rússia, Vasco afirma que o ucraniano
"é só uma marionete nas mãos das potências ocidentais".
"Então, como uma marionete, como uma bucha de canhão, ele não tem independência nenhuma, ele só faz o que os seus amos mandam. [...] Zelensky está aí apenas como um testa de ferro para levar adiante essa iniciativa do imperialismo ocidental. Ele não responde de maneira nenhuma às exigências e às necessidades do povo ucraniano. Ele não responde nem mesmo às necessidades do povo europeu, mas apenas das elites europeias, da burguesia europeia, do militarismo europeu que a gente está vendo, inclusive, estar se rearmando nesse momento."