"É um processo ainda muito recente e […] não vem somente do setor privado. Também o Estado tem um papel muito importante como indutor do processo de industrialização", comentou.
"Eles [países africanos] também não tiveram essa fase que a América Latina viveu, entre a década de 1930 e a década de 1970, de políticas desenvolvimentistas do Estado, sendo esse o promotor do desenvolvimento."
"Quer a colonização, quer a escravatura, são dois processos que impediram o desenvolvimento da África", avaliou o internacionalista angolano. "A África se tornou muito mais atrasada por causa desses dois processos, que foram cerca de cinco séculos de colonização, incluindo a escravatura."
"O melhor cacau vem da Suíça, mas não existe um pé de cacau na Suíça […]. 70% da energia na França, por exemplo, é produzida através de centrais nucleares, tendo como matéria-prima fundamental o urânio, e não existe sequer um jazigo de urânio em solo francês."
"Há pouca conexão entre esses setores, o que vai efetivamente impedir o crescimento industrial." "Hoje, a dificuldade também é a de encontrar uma coesão interna, de pensar o desenvolvimento, já que as marcas da colonização foram deixadas e são marcas que hoje se tornaram permanentes. A gente não tem como apagar esse período."
E a China?
Integração regional
"Para o desenvolvimento de empresas que tenham acesso facilitado a esse mercado, isso acaba criando um ciclo virtuoso no continente. Os países do continente têm outros recursos, minérios muito valiosos […], recursos estratégicos que também podem possibilitar que esse setor extrativista, ou mesmo, o setor agrícola que também é muito importante nesses países acabe auxiliando o desenvolvimento industrial."
"Os países do Sul Global que precisassem de matérias-primas em África teriam que transformá-las cá, no sentido de não só produzir quadros qualificados, mas também trazer mais vantagens, de forma a poder exportá-los com alguma justiça", opinou.
"Por exemplo, ao nível do governo angolano, que fez vários anúncios relacionados com a construção de refinarias, por exemplo, a refinaria do Lobito, a refinaria no Zaire, a refinaria em Cabinda, que, a se cumprir dentro dos prazos apresentados pelo governo, poderão constituir uma mais-valia na transformação da matéria-prima e, quando houver algum superávit, algum incidente, poder exportar esse material que é tão precioso para os países vizinhos e que ajudaria muito para a economia da Angola."
"O etnocídio é exatamente isto: é a matança da cultura, ou seja, a autonegação […] Nós carregamos traumas de gerações que foram ensinadas a odiar o que é teu. Isso verifica-se no africano comum, a forma como fala, a forma como se veste, a forma como se alimenta. Felizmente, isso já está a mudar, o quadro está a mudar, porque vão existindo alguns Estados que estão a reafricanizar o africano", concluiu.