"A posição dos países frente à Ucrânia, frente à Rússia, mostra que há falta de consenso. Falta, de fato, uma visão que possa ser considerada comum. O que a gente tinha do G7 durante os anos 1990, mesmo nos anos 2000, de uma coalizão de líderes que tinham uma percepção do que eram os caminhos a serem seguidos, hoje a gente tem menos isso, e essa reunião reflete bastante esse cenário."
"Primeiro, [é preciso] saber se China e Rússia querem estar no G7. Não só pelas mudanças das questões de valores, mas também pela necessidade de estabelecer um diálogo com [esses países]", disse Holzhacker, que completou: "[China e Rússia] têm visões de que o mundo precisa de maior equilíbrio, mas também lidar com desigualdades que sempre foram relacionadas ao mundo ocidental."
"[O G7 precisa reconhecer] sua perda de relevância nas relações internacionais e que não dá mais para a gente trabalhar com o G7 como ele foi criado lá em 1975."
G7 demonstra apoio a Israel, enquanto Ucrânia fica de fora
"Provavelmente também pesou nessa declaração com relação à Ucrânia a possibilidade de limitar ou não chegar a um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia", comentou Holzhacker.
"Parece que o foco deixou de ser a questão da Faixa de Gaza e passou a ser a questão com o Irã. Nesse sentido, esses países, que estavam em uma linha mais crítica, agora endossaram um apoio quase incondicional a Israel. E o interessante é que eles não pediram cessar-fogo."
O G7 quer enfraquecer o BRICS?
"Não acredito que seja [para enfraquecer o BRICS] ou tenha o intuito só de desmembrar, de esses países deixarem de ser parte do BRICS. […] Aqui é para claramente testar a liderança chinesa frente a esses países."
"A China tem sido alvo do G7 já há algum tempo, justamente pelo receio de perda de competitividade dessas economias em relação a Pequim."
"O G20 seria um espaço mais amplo. […] A gente tem representatividade, como também tem diferenças culturais, econômicas e representaria muito mais o que seriam as necessidades atuais em termos de desenvolvimento econômico e social do mundo", explica Holzhacker.
"Essa agenda internacional demanda espaço para esse protagonismo, e o Brasil está certo em se fazer valer dessa janela de oportunidade para se colocar como um país muito importante nas relações internacionais", concluiu.