"É muito importante que no mundo se criem instituições alternativas de financiamento. É isso que o BRICS faz, por exemplo, com o Novo Banco de Desenvolvimento [NBD], com o arranjo de correntes de reserva. Isso tudo vai permitir que o Sul Global se financie para além das lógicas do Norte Global."
"Não há dúvida que a desdolarização do comércio de grãos tem um impacto estrutural no sistema financeiro internacional. Agricultura, de fato, é um dos principais pilares do sistema de comércio mundial. Quando os países do BRICS começam a negociar grãos entre si, em moedas locais, estão atacando uma engrenagem central da hegemonia do dólar, a intermediação compulsória das ações globais."
"Os países do Sul Global têm interesse em fazer comércio livremente entre si. Não é porque os EUA, a Europa, têm um contencioso com a Rússia que o Brasil é obrigado também a adotar as medidas colocadas em relação às sanções."
"As sanções tendem a prejudicar todo mundo. No caso das commodities, o preço é praticamente global. A produção e o consumo é global. A gente está falando de matérias-primas de alimentos, de matérias-primas de transformações industriais, que vão ser necessárias para a população consumir de forma geral."
É preciso dar o primeiro passo
"Se a gente tem uma bolsa de grãos que pode operar de forma um pouco mais ampla, captando toda a produção global, isso tende a estabilizar o preço, inclusive para os mercados internos. […] Essas iniciativas constroem maior soberania para os países do Sul em termos de trocas e de fluxos financeiros."
"O agronegócio brasileiro tem um déficit grandíssimo no que tange a maquinário e fertilizante, que é todo comprado no estrangeiro e pago em dólar. À medida que o Brasil entra em uma instituição, cuja premissa é criar mercados com moedas locais, isso vai permitir que o Brasil financie o seu agronegócio não mais em dólar, mas pelo real. Uma vantagem competitiva sem igual."
"Se a gente tem outros mecanismos que conseguem operar o fluxo de mercadoria do Sul Global para o Sul Global, isso tende a contribuir para a estabilidade dos preços. A gente sabe que, quando os preços têm picos de instabilidade, como em 2022, no período do governo [Jair] Bolsonaro, quem é mais penalizado são os mais pobres, a população que não dispõe dos recursos para trabalhar com flutuação de preços."