Panorama internacional

Fim da moratória russa sobre mísseis é resposta clara à postura ocidental, diz especialista

Em uma ação sem precedentes no século, os EUA planejam instalar mísseis Typhon e Dark Eagle, cujo alcance pode superar 3 mil km em território alemão a partir de 2026. Paralelamente, a OTAN sinaliza a intenção de expandir efetivos militares a níveis comparáveis aos de tempos de guerra. Confira o que quer dizer a resposta russa.
Sputnik
A semana começou com a decisão da Rússia de encerrar a moratória unilateral que impedia o lançamento de mísseis balísticos com alcance entre 500 km e 5.500 km, em resposta às contínuas ações desestabilizadoras do Ocidente que colocam em risco a segurança do país.
Entre tantas medidas, estão o posicionamento de caças norte-americanos de quinta geração na Europa e o desenvolvimento conjunto por Alemanha e Reino Unido de mísseis de longo alcance, que podem alcançar alvos para além de 2.500 km de distância.
Mesmo após os Estados Unidos deixarem, em 2019, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), que impedia o uso desse tipo de recurso militar desde 1987, a Rússia ainda mantinha o compromisso por conta própria. Isso até recentemente, quando mudou seu posicionamento em meio às contínuas políticas hostis — em especial, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"A Rússia já não se considera limitada por nada. Consequentemente, considera-se autorizada, se necessário, a tomar as medidas apropriadas e a dar os passos correspondentes", justificou nesta terça-feira (5) o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov.

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À Sputnik Brasil, o doutorando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) Guilherme Conceição afirma que a declaração de Peskov é um aviso claro, feito ao mesmo tempo em que a Rússia sinaliza que não deseja qualquer confronto.

"Sergei Lavrov [chanceler da Rússia] tem criticado o que chama de 'ações desestabilizadoras do Ocidente', mas evitado também a retórica bélica direta, principalmente em relação aos EUA nesse contexto em que o presidente Donald Trump assumiu o governo", enfatiza.

Aliado a isso, o especialista pontua que Moscou também tem investido continuamente em cautela em relação a eventuais retóricas nucleares, inclusive com o recente episódio em que os Estados Unidos posicionaram dois submarinos nucleares em "regiões apropriadas", conforme afirmou Trump.
"Tanto o Peskov quanto o Lavrov têm repetido inteiramente que todos devem evitar a escalada verbal e que os submarinos americanos não representam uma novidade operacional", argumenta, ao lembrar que a Rússia enfatizou que os equipamentos militares estadunidenses já estavam de prontidão e o "reposicionamento deles foi mais simbólico do que operacional."

"Então, ao tratar esse episódio com reserva e evitar também inflamar ainda mais o debate, a Rússia sinaliza que não deseja um confronto, como vem demonstrando desde o início das operações na Ucrânia", acrescenta.

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Mísseis russos apenas 'se necessário'

Na declaração, Peskov enfatizou que a instalação dos mísseis de curto e médio alcance só vai ocorrer se necessário. Esses mísseis possuem carga útil com veículos de reentrada de alvos múltiplos e independentes, praticamente impossíveis de interceptar.
Segundo o especialista, esses equipamentos possuem alcance regional direto e, com isso, dificultam uma reação rápida.

"A presença deles por perto de qualquer fronteira aumenta a sensação de perigo imediato e acaba por reduzir a janela de resposta, o que elimina também o espaço para prudência em crises."

Para o especialista, as ameaças ocidentais com os sistemas Typhon e Dark Eagle, desenvolvidos pelos Estados Unidos após saírem do Tratado INF, abrem caminho "para um retorno ao pior cenário da Guerra Fria".

Sanções contra países que cooperam com a Rússia

Para além das questões militares, há em curso uma tentativa dos Estados Unidos de pressionarem países que possuem ampla relação comercial com a Rússia, a exemplo da Índia, em que Trump afirmou poder aumentar "substancialmente" a tarifa de 25%, em resposta à importação de petróleo russo.

"O governo Trump voltou a ameaçar países como Índia, mas também como China, por cooperarem com a Rússia comercialmente. E, claro, Moscou já criticou essas tentativas como ilegítimas tentativas de forçar a ruptura das relações comerciais, algo que o Trump vem pondo em prática desde o início da sua política tarifária, e que, claro, demonstra também uma estratégia dos Estados Unidos de pressão indireta", afirma o especialista.

Para Conceição, há continuidade da política de sanções intensificada em governos norte-americanos anteriores, agora com o objetivo claro de também atingir o multilateralismo, tanto defendido pela Rússia como por parceiros do BRICS.
"Isso é parte de uma estratégia mais ampla de forçar a Rússia na mesa de negociação para pôr fim ao conflito na Ucrânia, até porque o Trump fez dessa uma das suas promessas de campanha no período eleitoral estadunidense em 2024. Então acredito que é parte dessa lógica de continuidade de sanções, mas agora sob uma nova roupagem", conclui.
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