Desde a década de 1960, descendentes dos judeus no Nordeste brasileiro que foram obrigados a renunciar à sua fé graças à imposição dos impérios português e espanhol têm buscado resgatar as suas raízes. Atualmente, rabinos israelenses na região atuam como missionários, buscando quem possam converter.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Karina Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec São Paulo, afirma que o aumento no número de sinagogas observado no Nordeste não é uma estratégia de soft power de Israel, mas sim de um programa de resgate cultural.
Porém, ela acrescenta que essas missões rabinas poderiam substituir o papel do Estado como uma espécie de diplomacia cultural, sobretudo no momento atual da
ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que
faz muitos generalizarem a todos os judeus a culpa pelo massacre palestino.
"Os judeus, inclusive os judeus brasileiros, têm sido culpabilizados pelo que acontece na Faixa de Gaza, e isso é muito grave, porque tem muitos judeus […] que são contra o que está acontecendo na Faixa de Gaza."
Ela pontua que é importante que a população brasileira saiba disso e entenda também que os judeus brasileiros "são de outra religião e têm sua própria cultura, mas são tão brasileiros quanto o restante da população".
Ao podcast Mundioka, Ali Ramos, cientista político, filósofo e criador do canal Vento Leste, afirma que a expansão simbólica do judaísmo para regiões periféricas do mundo reflete o problema da perda de legitimidade de Israel nos fóruns internacionais.
"Israel tem um problema demográfico muito grande. Israel sabe que não vai resolver esse problema pelas vias normais, institucionais, até porque a taxa de natalidade israelense é baixíssima. Então Israel precisa apelar para isso", afirma.
"Não é do interesse, digamos assim, do povo israelense, que, creio eu, só quer viver a vida de forma comum e normal, sem problemas, mas está em um território constantemente conflagrado, que está constantemente entrando em guerra com seus vizinhos, se expandindo."