Esta foi a oitava vez que as lideranças se falaram por telefone. Declarações do Kremlin e de Trump, em entrevista coletiva,
descreveram a conversa de cerca de duas horas e meia como
"sincera" e de "grande progresso".
Na observação de Tito Lívio, mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança e membro pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), a expectativa, desde o encontro no Alasca, é de acordos para garantir o encerramento do conflito ucraniano e o futuro político da região, mas a relação entre os países parece ter declinado desde então.
"Tanto que você tem as conversas para o fornecimento de
mísseis de cruzeiro Tomahawk à Ucrânia", comenta. No último domingo (12), Trump afirmou que poderia dizer a Putin que enviaria Tomahawks à Ucrânia caso o conflito não fosse resolvido.
O armamento permitiria aos ucranianos ganhar maior alcance em seus ataques a alvos dentro do território russo.
Segundo o assessor presidencial Yuri Ushakov, Putin pontuou a Trump que o fornecimento de Tomahawks a Kiev não mudaria a situação no front, mas prejudicaria as relações entre a Rússia e os Estados Unidos e as perspectivas de uma solução pacífica.
A retomada das conversas com Putin, já com a pretensão de marcar um encontro presencial em Budapeste daqui a duas semanas, conforme o próprio americano revelou na entrevista coletiva, remete, segundo o analista, ao gás obtido pelo chefe da Casa Branca após o
acordo de paz alcançado na Faixa de Gaza.
"Trump, então, acredita que agora ele tem gás novo, que ele está com forças renovadas para tentar novamente mediar, encerrar o conflito ucraniano, que ele insiste em qualificar como a guerra de [Joe] Biden."
Rodolfo Laterza, coautor do livro "Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas" e analista geopolítico e de assuntos militares, avalia que os últimos gestos de Trump com lideranças mundiais têm a finalidade de buscar declarações para fins de relações públicas, para passar uma conotação de líder que consegue lograr resultados de paz, enquanto se desvia de seus problemas internos.
Por outro lado, conforme o especialista, a expectativa de um segundo encontro presencial entre o presidente americano e o presidente russo tem como perspectiva distensionar as relações, tendo em vista as declarações recentes.
De acordo com os analistas ouvidos pela
Sputnik Brasil, a escolha pela capital húngara se deve ao fato de o primeiro-ministro Viktor Orbán
manter boas relações tanto com Putin quanto com Trump.
Apesar de a Hungria fazer parte da União Europeia (UE), o país não está inserido "no consenso majoritário do bloco europeu, o que faz com que o governo Orbán tenha boas relações com o governo russo", explica Lívio.
Lívio prevê um clima de tensão menor que no Alasca por conta da retórica norte-americana de lá para cá. Portanto, para o especialista, os europeus
devem manter o discurso de "culpar o governo Putin por ser insistente — e, por conta disso,
Moscou é quem coloca obstáculos para o encerramento do conflito".
Laterza, por sua vez, ressalta que pode haver medidas por parte da UE de insuflar o regime de Kiev a promover novas escaladas ou provocações contra a Rússia, "de modo a gerar uma resposta gravosa da Rússia em função dessas provocações, tentativas de formar reuniões com a Ucrânia para garantir maior apoio militar, buscar declarações na mídia contra a Rússia em relação a novos fatos e eventos".
Ou seja, para o analista militar, as
tentativas europeias de influência devem se situar nesse campo, inclusive no midiático.