Panorama internacional

Europa pode tentar minar encontro de Putin e Trump em Budapeste, nota analista

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou por telefone nesta quinta-feira (16) com seu homólogo norte-americano, Donald Trump. À Sputnik Brasil, especialistas comentaram a ligação, às vésperas do encontro do chefe da Casa Branca com Vladimir Zelensky em Washington.
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Esta foi a oitava vez que as lideranças se falaram por telefone. Declarações do Kremlin e de Trump, em entrevista coletiva, descreveram a conversa de cerca de duas horas e meia como "sincera" e de "grande progresso".
Na observação de Tito Lívio, mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança e membro pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), a expectativa, desde o encontro no Alasca, é de acordos para garantir o encerramento do conflito ucraniano e o futuro político da região, mas a relação entre os países parece ter declinado desde então.
"Tanto que você tem as conversas para o fornecimento de mísseis de cruzeiro Tomahawk à Ucrânia", comenta. No último domingo (12), Trump afirmou que poderia dizer a Putin que enviaria Tomahawks à Ucrânia caso o conflito não fosse resolvido.
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Segundo o assessor presidencial Yuri Ushakov, Putin pontuou a Trump que o fornecimento de Tomahawks a Kiev não mudaria a situação no front, mas prejudicaria as relações entre a Rússia e os Estados Unidos e as perspectivas de uma solução pacífica.

"De certa forma escalaria muito o conflito, mostraria cada vez mais o envolvimento direto dos Estados Unidos e da OTAN no esforço de guerra ucraniano, algo que as próprias autoridades em Bruxelas e Washington negam veementemente", diz Lívio.

A retomada das conversas com Putin, já com a pretensão de marcar um encontro presencial em Budapeste daqui a duas semanas, conforme o próprio americano revelou na entrevista coletiva, remete, segundo o analista, ao gás obtido pelo chefe da Casa Branca após o acordo de paz alcançado na Faixa de Gaza.
"Trump, então, acredita que agora ele tem gás novo, que ele está com forças renovadas para tentar novamente mediar, encerrar o conflito ucraniano, que ele insiste em qualificar como a guerra de [Joe] Biden."
Rodolfo Laterza, coautor do livro "Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas" e analista geopolítico e de assuntos militares, avalia que os últimos gestos de Trump com lideranças mundiais têm a finalidade de buscar declarações para fins de relações públicas, para passar uma conotação de líder que consegue lograr resultados de paz, enquanto se desvia de seus problemas internos.

"Trump busca distrair […] [os outros dos] problemas internos do seu país com declarações entusiasmadas e otimistas da resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que se tornou, na verdade, uma guerra de procuração entre a Rússia e a OTAN."

Por outro lado, conforme o especialista, a expectativa de um segundo encontro presencial entre o presidente americano e o presidente russo tem como perspectiva distensionar as relações, tendo em vista as declarações recentes.

"Ambos os líderes, tanto Putin quanto Trump, são pragmáticos. Não querem uma escalada que leve a uma ruptura total das relações ou mesmo uma ameaça à arquitetura da segurança global."

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Por que Budapeste?

De acordo com os analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a escolha pela capital húngara se deve ao fato de o primeiro-ministro Viktor Orbán manter boas relações tanto com Putin quanto com Trump.

É um "elo, portanto, absolutamente natural e, até certo ponto, neutro para garantir uma recomposição das relações entre a Rússia e os Estados Unidos desde o encontro no Alasca", descreve Laterza.

Apesar de a Hungria fazer parte da União Europeia (UE), o país não está inserido "no consenso majoritário do bloco europeu, o que faz com que o governo Orbán tenha boas relações com o governo russo", explica Lívio.

Europa pode tentar boicotar encontro em 'seus domínios'?

Lívio prevê um clima de tensão menor que no Alasca por conta da retórica norte-americana de lá para cá. Portanto, para o especialista, os europeus devem manter o discurso de "culpar o governo Putin por ser insistente — e, por conta disso, Moscou é quem coloca obstáculos para o encerramento do conflito".
Laterza, por sua vez, ressalta que pode haver medidas por parte da UE de insuflar o regime de Kiev a promover novas escaladas ou provocações contra a Rússia, "de modo a gerar uma resposta gravosa da Rússia em função dessas provocações, tentativas de formar reuniões com a Ucrânia para garantir maior apoio militar, buscar declarações na mídia contra a Rússia em relação a novos fatos e eventos".
Ou seja, para o analista militar, as tentativas europeias de influência devem se situar nesse campo, inclusive no midiático.
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